26/05/2018

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HOJE NO 
"O JORNAL  ECONÓMICO"
Espaço: 
Tecnologia portuguesa 
à conquista de Marte

São várias as empresas portuguesas que participam em missões ao “planeta vermelho”. O consórcio liderado pela Amorim Cork Composites, a Critical Software, ou a Active Space Technologies estão a trabalhar em vários projetos com o objetivo de explorar Marte.

O projeto coordenado pela Amorim Cork Solutions, com a participação do ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade, do PIEP – Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros, e da Critical Materials estão a abrir portas a novas aventuras portuguesas no espaço. Desta vez com o objetivo de realizar duas missões: a primeira chama-se Mars Sample Return e está a ser realizada para a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA); e a segunda, Phootprint – Phobos Sample Return, tem o apoio da ESA. O objetivo é idêntico em ambas: o envio de sondas de cortiça para Marte, a recolha de rególito (poeiras, fragmentos de rocha e materiais do solo) do planeta, e o seu transporte em segurança no regresso à Terra. O demonstrador do projeto foi construído pela Amorim, ficando a Critical Materials encarregada do desenvolvimento da engenharia. Os testes do projeto ficaram a cargo da PIEP e do ISQ.
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“O ISQ há vários anos que vem desenvolvendo projetos de referencia na área da Aeronáutica e do Aeroespacial. Testámos recentemente a nova asa do avião da Embraer, prestámos serviços de Engenharia da Qualidade, Segurança e Ambiente às operações de montagem e preparação de Foguetões no Centro da Agência Espacial Europeia, na Guiana Francesa, participámos nos ensaios de qualificação do escudo térmico da Nave “Intermediate eXperimental Vehicle” – um veículo experimental não tripulado da Agência Espacial Europeia, e, neste momento, estamos a participar num consórcio português para o desenvolvimento da primeira constelação de micro-satélites. Neste âmbito, a participação do ISQ neste projeto, dinamizado pela Amorim Cork Solutions, foi um passo natural, tendo em conta as competências e experiência que temos nesta área”, explica Pedro Matias, presidente do Instituto de Soldadura e Qualidade, ao Jornal Económico.

As próximas missões para Marte estão previstas para 2020, por isso as equipas estão a desenvolver um esforço para poder ter o novo produto pronto caso a NASA o queira incluir já nas próximas missões, sendo que a cortiça vai ser determinante neste projeto português, desenvolvido para a ESA, e que pretende recolher amostras de Marte e trazê-las intactas para a Terra.

“A indústria aeroespacial é sempre um desafio, um desafio que a Corticeira Amorim tem sabido responder desde a década de 60. E, em pleno século XXI, já somos fornecedores de soluções de cortiça de ponta para três grandes programas aeroespaciais, o que representa um constante desafio à capacidade de investigação, desenvolvimento e inovação. O valor desta relação com a indústria aeroespacial não está apenas ligado ao volume de negócios mas, acima de tudo, à capacidade da cortiça, que é um material natural, e conseguir responder a aplicações com o nível de exigência colocado pelas missões espaciais. Neste âmbito, é de destacar que a cortiça aporta leveza, proteção do impacto, ablação controlada, isolamento térmico e estabilidade dimensional. Este é um conjunto de benefícios que fazem com que seja constantemente objeto de análise e utilização pelos diferentes programas aeroespaciais”, diz Carlos de Jesus,  diretor do departamento de marketing e comunicação da empresa.

“Os objetivos propostos no projeto foram atingidos, destacando-se a solução portuguesa devido aos materiais estarem 25% abaixo do peso máximo exigido para a missão. Além disso, o material é bastante resistente ao fogo e ao calor, contribuindo no geral para economizar combustível, sobretudo na sua reentrada na Terra. O projeto já leva mais de dois anos de investigação. Para garantir o sucesso, realizámos já diversos ensaios mecânicos à condutividade térmica, ao impacto e a caraterização dos materiais. Por fim, foi simulada uma aterragem da sonda, de forma a ensaiar o impacto com o solo”, acrescenta Pedro Matias, do ISQ.

Programa ExoMars
O envolvimento da Critical Software no programa ExoMars da Agência Espacial Europeia teve início no ano de 2013, aquando do arranque do programa ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) com a Thales Alenia Space. Este envolvimento prolongou-se até bem perto da data de lançamento do ExoMars TGO, em março de 2016.

O ExoMars TGO tem como objetivos estudar a reentrada em Marte, permitir a análise da atmosfera do planeta e efetuar a retransmissão das comunicações do ExoMars Rover para a equipa de operações na Terra. Numa primeira fase, a Critical Software participou no desenvolvimento do software do computador central – desenhou, implementou e validou o software. De forma resumida, o computador central é responsável por controlar todos os equipamentos e instrumentos que compõem o satélite e por toda a comunicação entre Marte e a equipa de operações na Terra.

Já na fase final do programa, a Critical Software prestou apoio à equipa de AIT (Assembly, Integration and Testing), responsável por todas as atividades de construção do satélite, integração dos inúmeros equipamentos e execução de testes no produto final, ou seja, no satélite enviado para a órbita de Marte.

Ainda no programa ExoMars, a Critical Software está, desde 2015, envolvida no projeto ExoMars Rover com a Airbus. O Rover é o veículo que será enviado para Marte com o objetivo de procurar sinais de vida. Assim como no TGO, a Critical Software tem estado a trabalhar no desenvolvimento do software do computador central do veículo.

“O programa ExoMars é complexo e conta com vários elementos, dos quais se destacam: ExoMars TGO, que se encontra a orbitar Marte desde 2016 e com o qual se pretende analisar os gases presentes na atmosfera de Marte; Schiaparelli (Entry, Descent and Landing Demonstrator Module) que, após separação do TGO, permitiu estudar a entrada e descida em Marte, e ExoMars Rover com data oficial de lançamento agendada para 2020”, explica Mauro Gameiro, Principal Engineer for Space, da Critical Software.

Além disso, a empresa continua envolvida no programa ExoMars, estando agora a trabalhar no projeto ExoMars Rover com a Airbus. Para além deste programa, a empresa encontra-se atualmente a trabalhar em missões como Sentinel-6, EarthCare e Solar Orbiter, estando para breve o anúncio de novos projetos.

A génese da Active Space aconteceu quando os fundadores se encontravam a estagiar na Agência Espacial Europeia, entre 2002 e 2004, período em que foi lançada a Mars Express, a primeira sonda da ESA ao planeta ermelho. Um dos fundadores da empresa tinha estado, ainda na ESA, envolvido parcialmente na gestão científica desta missão e, ao mesmo tempo, desenvolveu um protótipo para detetar gelo no rególito marciano.

Podemos assim afirmar que a Active Space Technologies surgiu parcialmente com o programa de exploração de Marte da ESA e, com o crescimento da empresa, surgiram novas oportunidades de negócio no setor espacial, no qual a exploração de Marte desempenha um papel importante. Vários projetos desenvolvidos pela empresa estão enquadrados na vertente da exploração do planeta vermelho. Aliás, a Active Space Technologies esteve envolvida no projeto térmico do lander Schiaparelli, da missão ExoMars 2016, desenvolvendo mapas térmicos para o suporte na escolha entre os locais de aterragem possíveis.

Presentemente, a Active Space Technologies encontra-se a desenvolver sistemas eletromecânicos de apoio para a missão ExoMars 2020, desde sistemas que emulam a movimentação das rodas do Rover até sub-sistemas estruturais. Dos desenvolvimentos em curso podemos elencar o fabrico de estruturas do Descent Module, sistemas de teste do módulo de locomoção do Rover (que emulam a movimentação das rodas do Rover) sistemas de testes dos aviónicos do Rover, protótipo da bateria do Descent Module, sistemas de suporte à integração e testes dos painéis solares do Descent Module, e fabrico de estruturas da antena de comunicação com a Terra.

Sonda desde aTerra até ao “planeta vermelho”
Finalmente, a Active Space Technologies esteve envolvida no projeto e fabrico do instrumento HP3 da missão da NASA InSight, a ser lançada em maio deste ano. “O programa de exploração de Marte tem como objetivo levar uma sonda desde a Terra até Marte, descer numa atmosfera adversa como a marciana, pousar em segurança, e desencadear uma série de tarefas que permitam ao Rover operar de forma autónoma num ambiente inóspito. Fazer tudo isto de forma concertada requer financiamento adequado, coordenação das mentes mais brilhantes e das empresas mais capazes, planeamento rigoroso e desenvolvimento de tecnologias inovadoras, para dar resposta às muitas necessidades deste programa.  A Active Space Technologies orgulha-se de dar o seu pequeno mas importante contributo para tornar este objetivo uma realidade, participando em várias missões a Marte: ExoMars 2016, ExoMArs 2020 e Insight”, sublinha Ricardo Patricio, CEO Active Space Technologies

A Active Space Technologies pretende continuar a fazer parte do conjunto de empresas que contribui para o desenvolvimento do programa espacial europeu. Em paralelo, procura materializar esse conhecimento e competências no desenvolvimento de soluções para ambientes mais próximos – não apenas veículos autónomos em Marte, mas também aqui na Terra. Com base nessa estratégia, a empresa apostou no desenvolvimento do seu próprio veículo autónomo com guiamento (os famosos AGVs ou automated guided vehicles) para automatizar o transporte logístico dentro de fábricas. E temos já vários AGVs em empresas líder no setor automóvel, como por exemplo a Volkswagen Autoeuropa e a Faurecia. Muito do conhecimento empregue nesta nova área de negócio, direcionada para a Indústria 4.0, foi inspirado no programa de exploração espacial.

“No que respeita diretamente ao programa de exploração de Marte, os governos, as agências espaciais e mesmo algumas empresas, pretendem enviar humanos a Marte num futuro não muito longínquo. Obviamente, trata-se de uma aspiração extremamente difícil de materializar, mas não impossível. E estão em preparação algumas missões que vão permitir o desenvolvimento e validação de tecnologias para esse passo mais audaz. Por um lado, serão enviados mais Rovers com instrumentação a bordo para explorar o solo marciano e tentar detetar vida microbiana extinta ou extante no rególito marciano. Por outro lado, devem também seguir-se missões que têm por objetivo a recolha de amostras e o seu transporte até à Terra, um passo nunca tentado em Marte e que requer o aperfeiçoamento de muita tecnologia para ser bem-sucedido. Evidentemente, essa tecnologia seria depois validada para fazer regressar humanos de volta à Terra”, afirma o CEO Ricardo Patrício. A exploração de Marte por tecnologia portuguesa é cada vez mais uma realidade.

Luta dos milionários pelo espaço
A SpaceX do multimilionário Elon Musk, que lançou um foguete poderoso em fevereiro, pode realizar voos de teste interplanetários no próximo ano, com o objetivo de assegurar a sobrevivência da espécie humana, segundo Musk.

Este vaivém poderá realizar “voos curtos, de ida e volta, provavelmente já no primeiro semestre do próximo ano”, disse Musk na conferência “SXSW” em Austin, Texas.

O objetivo a longo prazo desses projetos é a construção de bases na Lua ou em Marte, o que poderia garantir a sobrevivência da raça humana e, assim, promover a sua regeneração na Terra no caso de uma terceira guerra mundial, disse o bilionário.

Existe, de facto, uma “certa probabilidade” de a humanidade poder enfrentar uma “era das trevas”, “especialmente se acontecer uma terceira guerra mundial”, disse o bilionário, também o dono da conhecida marca de automóveis elétricos Tesla. “Queremos garantir que o Homem permaneça noutro lugar (para além da Terra) como uma semente da civilização humana, para que possa trazer de volta a civilização e talvez diminuir a duração da idade das trevas”, afirmou. Nesta perspetiva, “uma base lunar e uma base marciana, que poderiam talvez ajudar a regenerar a vida aqui na Terra, seria realmente importante”.

Elon Musk é um dos empresários inovadores com mais sucesso nos Estados Unidos. O foguetão espacial Falcon Heavy, considerado “o mais poderoso do mundo”, descolou com sucesso no dia 6 de fevereiro, da Florida, com um carro elétrico Tesla vermelho.

Outra das suas inovações para reduzir o custo dos voos espaciais, que visam levar seres humanos a Marte até 2024, é conseguir reutilizar os foguetões de propulsão, que voltam à Terra em perfeitas condições de reutilização. Musk já tinha anunciado que, no final de 2018, enviaria dois turistas para visitar a Lua, seguindo os passos das famosas missões da Apollo, da NASA, entre 1960 e 1970.

Nesta luta pelo espaço, a concorrência é dura. A explosão da primeira nave da Virgin Galactic, que causou a morte do copiloto, em 2014, provocou um atraso no calendário definido. No entanto, estão vendidas cerca de 700 viagens, a 235 mil euros cada uma, e Richard Branson apresentou no verão do ano passado a nave que promete concretizar o seu objetivo. No final de 2018, o milionário espera concretizar o sonho.

Branson começou a vender as suas viagens suborbitais – chegam à fronteira do espaço, a 100 km de altitude – em 2004. Depois de muitos testes, as viagens comerciais com passageiros estão prestes a começar. “Nunca conseguiremos construir suficientes aeronaves”, disse Branson em Hong Kong, após a apresentação dos voos da Virgin Australia Holdings de Melbourne. “A procura é enorme”, acrescentou

O outro rival é Jeff Bezos, dono da Amazon. Depois de três voos não tripulados com êxito, prevê um primeiro voo com piloto este ano e estima que as viagens turísticas comecem em 2018. Também a SpaceX anunciou a intenção de transportar dois turistas até à órbita de Lua no próximo ano. “Definitivamente, há procura para os três”, afirmou Branson sobre os empresários concorrentes.

* A ciência a guerrear, uma pena, não está vocacionada para isso.

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