HOJE NO
"OBSERVADOR"
Pianista Maria João Pires cria
Fundação Partitura para “orientar
e educar” novos músicos
A Fundação Partitura pretende "orientar e educar intensamente um grupo em constante evolução de músicos jovens", permitindo o contacto com artistas experientes, e a descoberta de novos talentos.
A pianista Maria João Pires criou a Fundação Partitura, através da
qual pretende “orientar e educar” músicos jovens, dando-lhes a
oportunidade de partilharem palco com artistas experientes, foi
anunciado esta segunda-feira.
.
“A sua ambição é orientar e educar
intensamente um grupo em constante evolução de músicos jovens, e
excecionalmente talentosos, e facilitar a sua evolução para uma
atividade saudável de concertos, oferecendo-lhes a oportunidade de se
juntarem em palco a alguns artistas experientes que desejem transmitir o
seu ofício e ideais”, lê-se num comunicado sobre a Fundação Partitura,
divulgado neste dia pela agência internacional Askonas Holt, que
representa a artista.
A conclusão de que “a obsessão contemporânea com as ‘superestrelas’
criadas pelo marketing tornou a música um ideal difícil de viver”
inspirou a pianista a criar a fundação.
A “esperança” da
Partitura, “tão humilde quanto ambiciosa, é ser um refúgio seguro para a
arte como manifestação universal do espírito humano, desligada de
objetivos económicos ou egoístas”.
A fundação terá um
‘Laboratório’, que inclui a “descoberta de talentos musicais”, através
de concertos em várias cidades pelo mundo com oficinas e “sessões
mensais”, com Maria João Pires e os restantes membros da Partitura a
reunirem-se durante três ou quatro dias para trocarem ideias.
A
fundação propõe a realização de “concertos partilhados, nos quais
músicos consagrados e jovens se unem em palco”, dando assim a
oportunidade aos mais novos “de se mostrarem a públicos que não os
conhecem”. Além disso, a Partitura “deseja investir tempo e energia
consideráveis em gravações” e Maria João Pires e outros membros “irão
assumir a direção artística dos discos a solo de jovens músicos”.
A
Partitura decidiu também criar o Projeto Equinox [Equinócio, em
português], dedicado à “criação e desenvolvimento de coros infantis”.
“[O
Projeto] recruta principalmente entre crianças que tiveram um início de
vida difícil por causa do sítio onde vivem (devastado por pobreza
generalizada ou conflitos, ou ambos) e/ou por histórias pessoais
particulares”, lê-se no documento divulgado neste dia.
O Equinox
“tenta instituir a criação musical em ambientes onde as condições não
são diretamente favoráveis ao desenvolvimento natural desta prática”. Em
dezembro, a agência internacional de Maria João Pires confirmou à
agência Lusa que a pianista deixaria de realizar digressões, mantendo
apenas alguns concertos em agenda, ao longo deste ano.
Ao longo de
mais de seis décadas de carreira, Maria João Pires foi reconhecida pela
crítica internacional como uma das principais intérpretes de Mozart e
Schumann, tendo as suas gravações do compositor austríaco, nomeadamente a
integral das Sonatas para piano, assim como as suas interpretações do
compositor alemão, editadas por discográficas como a Denon, Erato e
Deutsche Grammophon, chegado ao primeiro lugar de escolhas de
publicações internacionais como a Diapason, Gramophone e Clássica, além
dos chamados “Guias Penguin”.
Esta não foi a primeira vez que a
pianista, natural de Lisboa, anunciou uma retirada das salas de
concerto. Em 2010, numa entrevista ao jornal britânico Evening Standard,
declarou que “gostaria de se poder retirar”. “Já toquei muito. Toquei
durante 60 anos, e acho que é demais”. Um ano mais tarde, numa
entrevista ao diário espanhol El País, a pianista afirmou que se sentia
cansada e que tinha acordado com a sua agência internacional deixar os
palcos em 2014, quando completasse 70 anos.
Todavia, tal não veio a
acontecer. Maria João Pires voltou aos palcos e aos estúdios de
gravação.
Em 2015, ganhou o Prémio Gramophone, pela gravação dos
concertos n.º 3 e n.º 4, para piano e orquestra, de Beethoven, com a
qual se estreou na discográfica Onyx, com a qual assinou em 2014, quando
deixou a Deutsche Grammophon.
Maria João Pires nasceu em Lisboa, a
23 de julho de 1944. É a mais internacional e reputada das pianistas
portuguesas, com um percurso artístico que remonta a finais dos anos
1940, quando se apresentou pela primeira vez em público, aos quatro
anos. Em 2010, obteve a nacionalidade brasileira.
* Portugal faz mais vénias a banqueiros e políticos corruptos do que a génios como Maria João Pires.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário