10/01/2018

PEDRO TADEU

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Rio e Santana não são 
iguais a Passos Coelho?

O PSD que Rui Rio e Pedro Santana Lopes propõem aos militantes do partido é diferente do PSD que Pedro Passos Coelho comanda desde 2011?

Em primeiro lugar é difícil perceber o que, na verdade, caracteriza o PSD dos nossos dias. Até a Wikipédia se mostra confusa sobre como deve definir o PSD ou, se quiserem, o PPD/PSD.

Na ficha de identificação do partido mais votado nas últimas legislativas em Portugal a enciclopédia digital começa por nos informar sobre a data de fundação (6 de maio de 1974), a morada da sede nacional e, depois, passa para a ideologia que os nominais sociais-democratas professam...

"Atualmente: Conservadorismo liberal, Liberalismo clássico. Anteriormente: Social-democracia portuguesa", lê-se no artigo que, para sustentar estas definições, cita o programa eleitoral do PSD, o livro Party Transformations in European Democracies, de André Krouwel, um capítulo escrito por Ana Rita Ferreira num livro sobre as "Direitas na Democracia Portuguesa" de Riccardo Marchi e, ainda, um artigo no jornal i.

Logo a seguir, a mesma ficha volta a ter dificuldades para explicar o que, realmente, define a personalidade do PSD ou, se quiserem, do PPD/PSD (nem o nome é uma coisa estável naquelas bandas!). Qual é, afinal, o espectro político deste partido? A Wikipédia escreve: "Atualmente: Centro-direita a Direita. Anteriormente: Centro-esquerda e Centro". E quanto a afiliação internacional? A dificuldade do articulista do texto com o conhecimento básico internético do partido de Cavaco Silva é resolvida com um posicionamento aparentemente contraditório em relação à anterior definição do espectro político "Atualmente: Internacional Democrata Centrista. Anteriormente: Internacional Liberal".

Quando, ao longo dos anos da minha vida adulta, vi vários candidatos a líderes do PSD (ou do PPD/PSD, como quiserem) reivindicarem-se herdeiros das ideias do primeiro líder do partido, Francisco Sá Carneiro, fiquei sempre com a sensação de que alguma coisa não batia certo... Será?

Não sendo, aparentemente, possível definir quais são as ideias mestras do pensamento ideológico do PSD (ou do PPD/PSD, é escolher), podemos admitir como correta uma colocação num largo espaço ideológico cuja única característica constante é ser anticomunista, à direita do PS e adepta da União Europeia. Será, portanto, um partido que, com essa limitação, se adapta a todas as correntes e tendências ideológicas que lhe sirvam para conquistar o poder.

Dentro da aparente incoerência há aqui uma coerência: o PSD acha que a sociedade, tal como se organiza, está saudável, não precisa de transformação e o que pretende, apenas, é governá-la usando, para garantir a conquista dessa posição política, todas as armas ideológicas que estão ao seu dispor. Para muitos isso será criticável, para muitos outros (e, às vezes, conforme as eleições, para a maioria dos portugueses) isso não interessa nada e está muito bem para um partido "de poder" e "pragmático"...

Tentemos então avaliar os dois candidatos à liderança do PSD (ou do PPD/PSD, como quiserem) admitindo a hipótese de que Rui Rio e Pedro Santana Lopes podem, conforme as circunstâncias, representar um largo espectro ideológico que poderá ir da "social-democracia à portuguesa" até ao "liberalismo clássico" com que a Wikipédia tentou balizar o partido. Apliquemos aquilo que sabemos dos dois para tentar perceber o que cada um traria de diferente e que Pedro Passos Coelho não trouxe.

Comecemos por admitir que Rui Rio ou Pedro Santana Lopes eram chefes do governo quando a troika chegou. Iriam fazer alguma coisa diferente daquilo que Passos fez?... Claro que não. Bem podem os candidatos, como ainda ontem Rui Rio fez, dizer que, se fossem eles a aplicar a austeridade, teriam moderação nos cortes aos rendimentos dos reformados - não creio que haja um militante do PSD (ou do PPD/PSD, obviamente) ou um único eleitor português que acredite, no essencial, que Rio e Santana teriam feito, nesses anos angustiantes, algo de muito diferente do que Passos Coelho fez.

Depois tivemos o Passos na oposição, a criticar a política de reposição de rendimentos que Costa, Jerónimo e Catarina negociaram, anunciando a ruína do país, a vinda do "diabo", a profecia da desgraça. Teriam Rio e Santana lidado com o êxito da política económica atual de forma radicalmente diferente? Teriam aplaudido o êxito de políticas exatamente contrárias às impostas pela troika, depois de ganharem as eleições mas perderem o governo... Não me parece possível.

Passemos agora à hipótese de que o PSD (ou PPD/PSD, conforme os gostos) ganha as próximas eleições legislativas e forma governo. Estivesse Passos Coelho, Rui Rio ou Santana Lopes na liderança, o que diferenciaria cada um deles? A política sobre o pagamento da dívida externa do país? A política sobre impostos? A política sobre privatizações? A política sobre salários? A política sobre educação? A política de saúde? A política europeia?... Não, no que é relevante as políticas seriam quase iguais: é o destino dos partidos "de poder", "pragmáticos", que acham que a sociedade, nos seus fundamentos, está saudável.

A aparente incoerência ideológica do PSD (ou PPD/PSD, pronto) sustenta, afinal, um verdadeiro bloco granítico nas opções práticas de governação do país, dependentes de visões estereotipadas que divergem na forma mas que, no conteúdo real, nas consequências para a vida prática dos portugueses, apontam para a mesma consequência. Essa consequência poderá agradar a uns e desagradar a outros, poderá até ganhar eleições, mas é sempre a mesma consequência, é sempre a mesma visão política.

A escolha do novo líder do PSD (ou do PPD/PSD, sim) é, portanto, apenas uma escolha entre diferentes personalidades, não é uma escolha entre diferentes políticas. Por isso, quando leio que os debates entre Rio e Santana não têm ideias e só têm ataques pessoais, acho que é mesmo isso que está certo, é mesmo isso que seria de esperar.
Será esta, afinal, a correta herança que Sá Carneiro deixou para o PSD (ou PPD/PSD, se for essa a vossa convicção)?... Talvez.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
09/01/18

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