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Rio e Santana não são
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
09/01/18
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Rio e Santana não são
iguais a Passos Coelho?
O PSD que Rui Rio e Pedro Santana Lopes
propõem aos militantes do partido é diferente do PSD que Pedro Passos
Coelho comanda desde 2011?
Em primeiro
lugar é difícil perceber o que, na verdade, caracteriza o PSD dos nossos
dias. Até a Wikipédia se mostra confusa sobre como deve definir o PSD
ou, se quiserem, o PPD/PSD.
Na ficha de
identificação do partido mais votado nas últimas legislativas em
Portugal a enciclopédia digital começa por nos informar sobre a data de
fundação (6 de maio de 1974), a morada da sede nacional e, depois, passa
para a ideologia que os nominais sociais-democratas professam...
"Atualmente:
Conservadorismo liberal, Liberalismo clássico. Anteriormente:
Social-democracia portuguesa", lê-se no artigo que, para sustentar estas
definições, cita o programa eleitoral do PSD, o livro Party
Transformations in European Democracies, de André Krouwel, um capítulo
escrito por Ana Rita Ferreira num livro sobre as "Direitas na Democracia
Portuguesa" de Riccardo Marchi e, ainda, um artigo no jornal i.
Logo
a seguir, a mesma ficha volta a ter dificuldades para explicar o que,
realmente, define a personalidade do PSD ou, se quiserem, do PPD/PSD
(nem o nome é uma coisa estável naquelas bandas!). Qual é, afinal, o
espectro político deste partido? A Wikipédia escreve: "Atualmente:
Centro-direita a Direita. Anteriormente: Centro-esquerda e Centro". E
quanto a afiliação internacional? A dificuldade do articulista do texto
com o conhecimento básico internético do partido de Cavaco Silva é
resolvida com um posicionamento aparentemente contraditório em relação à
anterior definição do espectro político "Atualmente: Internacional
Democrata Centrista. Anteriormente: Internacional Liberal".
Quando,
ao longo dos anos da minha vida adulta, vi vários candidatos a líderes
do PSD (ou do PPD/PSD, como quiserem) reivindicarem-se herdeiros das
ideias do primeiro líder do partido, Francisco Sá Carneiro, fiquei
sempre com a sensação de que alguma coisa não batia certo... Será?
Não
sendo, aparentemente, possível definir quais são as ideias mestras do
pensamento ideológico do PSD (ou do PPD/PSD, é escolher), podemos
admitir como correta uma colocação num largo espaço ideológico cuja
única característica constante é ser anticomunista, à direita do PS e
adepta da União Europeia. Será, portanto, um partido que, com essa
limitação, se adapta a todas as correntes e tendências ideológicas que
lhe sirvam para conquistar o poder.
Dentro
da aparente incoerência há aqui uma coerência: o PSD acha que a
sociedade, tal como se organiza, está saudável, não precisa de
transformação e o que pretende, apenas, é governá-la usando, para
garantir a conquista dessa posição política, todas as armas ideológicas
que estão ao seu dispor. Para muitos isso será criticável, para muitos
outros (e, às vezes, conforme as eleições, para a maioria dos
portugueses) isso não interessa nada e está muito bem para um partido
"de poder" e "pragmático"...
Tentemos
então avaliar os dois candidatos à liderança do PSD (ou do PPD/PSD, como
quiserem) admitindo a hipótese de que Rui Rio e Pedro Santana Lopes
podem, conforme as circunstâncias, representar um largo espectro
ideológico que poderá ir da "social-democracia à portuguesa" até ao
"liberalismo clássico" com que a Wikipédia tentou balizar o partido.
Apliquemos aquilo que sabemos dos dois para tentar perceber o que cada
um traria de diferente e que Pedro Passos Coelho não trouxe.
Comecemos
por admitir que Rui Rio ou Pedro Santana Lopes eram chefes do governo
quando a troika chegou. Iriam fazer alguma coisa diferente daquilo que
Passos fez?... Claro que não. Bem podem os candidatos, como ainda ontem
Rui Rio fez, dizer que, se fossem eles a aplicar a austeridade, teriam
moderação nos cortes aos rendimentos dos reformados - não creio que haja
um militante do PSD (ou do PPD/PSD, obviamente) ou um único eleitor
português que acredite, no essencial, que Rio e Santana teriam feito,
nesses anos angustiantes, algo de muito diferente do que Passos Coelho
fez.
Depois tivemos o Passos na
oposição, a criticar a política de reposição de rendimentos que Costa,
Jerónimo e Catarina negociaram, anunciando a ruína do país, a vinda do
"diabo", a profecia da desgraça. Teriam Rio e Santana lidado com o êxito
da política económica atual de forma radicalmente diferente? Teriam
aplaudido o êxito de políticas exatamente contrárias às impostas pela
troika, depois de ganharem as eleições mas perderem o governo... Não me
parece possível.
Passemos agora à
hipótese de que o PSD (ou PPD/PSD, conforme os gostos) ganha as próximas
eleições legislativas e forma governo. Estivesse Passos Coelho, Rui Rio
ou Santana Lopes na liderança, o que diferenciaria cada um deles? A
política sobre o pagamento da dívida externa do país? A política sobre
impostos? A política sobre privatizações? A política sobre salários? A
política sobre educação? A política de saúde? A política europeia?...
Não, no que é relevante as políticas seriam quase iguais: é o destino
dos partidos "de poder", "pragmáticos", que acham que a sociedade, nos
seus fundamentos, está saudável.
A
aparente incoerência ideológica do PSD (ou PPD/PSD, pronto) sustenta,
afinal, um verdadeiro bloco granítico nas opções práticas de governação
do país, dependentes de visões estereotipadas que divergem na forma mas
que, no conteúdo real, nas consequências para a vida prática dos
portugueses, apontam para a mesma consequência. Essa consequência poderá
agradar a uns e desagradar a outros, poderá até ganhar eleições, mas é
sempre a mesma consequência, é sempre a mesma visão política.
A
escolha do novo líder do PSD (ou do PPD/PSD, sim) é, portanto, apenas
uma escolha entre diferentes personalidades, não é uma escolha entre
diferentes políticas. Por isso, quando leio que os debates entre Rio e
Santana não têm ideias e só têm ataques pessoais, acho que é mesmo isso
que está certo, é mesmo isso que seria de esperar.
Será esta, afinal, a correta herança que Sá Carneiro deixou para o PSD (ou PPD/PSD, se for essa a vossa convicção)?... Talvez.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
09/01/18
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