17/12/2017

CARLOS PIMENTA

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Aprender ensinando, 
ensinar aprendendo

O combate à fraude e corrupção exige-nos a hombridade de lúcida renúncia a poderes castradores de uma maior eficiência na edificação de uma relação entre Estado e sociedade civil obreira de uma comunidade mais íntegra

1. Os defraudadores ou criminosos têm grandes vantagens em relação a polícias, investigadores e juízes. E outros indagadores da realidade.

Não têm de respeitar a lei, esta nunca é um sistema cobrindo coerentemente todas as situações e eles sabem encontrar as lacunas, atalhos de contorno e a imaginação reveladora de novas formas de ludibriar. Pululam entre países, mergulham em espaços de profundo secretismo, têm a rapidez necessária para vaguear entre diferentes tráficos e honrados negócios. Combinam amiudadamente o terror e o encanto, o roubo e o altruísmo, o desprezo e o conhecimento da lei, a canalhice e a simpatia. O dinheiro compra serviços, aproxima entidades, promove encantamentos, corrompe e compra esquecimentos.

Os elevados valores da economia que passam à margem dos registos oficiais reflectem uma parte deste submundo que é mundo como o nosso. Outras vilanias estão registadas nas contas nacionais oficiais. Mascaradas e resilientes.

Em todos nós o individualismo e o consumismo fragilizam a solidariedade e o respeito pelo outro. O curto prazo impõe eficiências imediatas insusceptíveis de acautelar o futuro. Os valores sociais depauperam-se automaticamente e o mundo, que é o nosso, torna-se permissivo, desculpabilizador, permite o desabrochar das ervas daninhas.

2. Para que estas correntes diluvianas e os afluentes que cavam e alimentam, grandes ou pequenos, não submerjam a honradez e o viver com os outros, um futuro de vida digna que todos almejamos, todos somos poucos. Teremos de ser muitos.

Que todos nós, cidadãos portugueses e do mundo, tenhamos a sensibilidade para detectar riscos de fraude, para os contrariar, para os superar, para ajudarmos os envolvidos em tais tramas, para não nos deixarmos iludir pela teia das frases feitas que nos foram inculcadas, das catadupas de marketing com que nos afogam.

Que o Estado seja prenhe de vontade, quiçá um dos recursos de maior carência, para ajudar a estancar a enxurrada da fraude. Como?
 (1) Legislando sem subterfúgios e conflitos de interesse, percebendo lucidamente que o valor dessa actividade depende dos seus impactos, a serem monitorizados.
(2) Fiscalizando e combatendo com firmeza as rotas silenciosas do logro, conjugando esforços em vez de desconfianças, articulando recursos internacionais, muito escassos para aprisionarem a hidra. 
(3) Esclarecendo e compreendendo que são guardiões do templo da ética e não mesmos serventuários da escassez de recursos financeiros dos Estados, intencionalmente depauperados.
(4) Não servindo clientelas, não difundindo concepções desmobilizadoras, fornecendo recursos à fiscalização, defendendo a democracia e a liberdade de todos, e cada um, escolherem o seu futuro.

Que a sociedade civil se organize adequadamente para estudar cientificamente a anatomia das fraudes do desigual mundo contemporâneo, forme quadros reconhecidamente vigilantes, desmontadores do risco de fraude e eficazes na detecção e erradicação, eduque, desconjugue os fios das ideologias castradoras do colectivo e da vontade, funcione como grupos de pressão de uma reconstrução ética da vida com o outro, que participe na indissolúvel interligação entre o mundo e o nosso país.

3. Tudo isto é imperioso e urgente mas não é suficiente para a edificação da sociedade decente que nós e os vindouros exigimos. Não basta que a violação da ética seja combatida em casulos autónomos. É imperioso e urgente o entrelaçar de saberes e vontades entre todos, aproveitando o que de melhor cada um pode dar.

Os casulos dão poder a quem neles habita. Estes conhecem antecipadamente os métodos a utilizar e os percursos a palmilhar, não têm de aprender novas técnicas e dialogar. A linha do horizonte está desenhada: Tudo depende deles, todos têm de se vergar à sua imprescindibilidade. O futuro será a continuidade do passado, mesmo que estes sejam de mais dias ou anos que o possível e necessário.

Que cesse a vã ilusão do enclausurado poder para podermos construir um bem maior: eficiência catapultada no combate à fraude e ao crime, na reconquista de um futuro mais integro e justo.

IN "VISÃO"
14/12/17

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