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HOJE NO
"EXPRESSO"
Redução de crianças no pré-escolar
é um “sinal preocupante”
Vinte anos depois desta lei, com um aumento anual das taxas de frequência do ensino pré-escolar, é detetada uma retração no sistema o que para Teresa Vasconcelos é um “sinal preocupante”, ex-diretora-geral da Educação Básica
O número de crianças com cinco anos
inscritas no pré-escolar sofreu a primeira diminuição em 20 anos, um
preocupante sinal de alerta para a ex-diretora-geral da Educação Básica
Teresa Vasconcelos, que dirigiu a equipa que preparou esta rede
nacional.
Segundo o último relatório do Conselho Nacional da
Educação "O Estado da Educação 2016" a taxa de pré-escolarização das
crianças com cinco anos de idade sofreu uma retração nos últimos quatro
anos, situando-se nos 94,8% em 2015/2016, depois de ter atingido os
97,9% em 2010/2011.
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"Basta uma estatística baixar que já é
preocupante porque já tomávamos como adquirido que os meninos devem
todos ir para o jardim de infância, ainda que não seja obrigatório. Pelo
menos aos cinco anos devem estar todos lá", disse à agência Lusa Teresa
Vasconcelos.
Teresa Vasconcelos foi diretora-geral da Educação
Básica entre 1996 e 1999, sendo responsável pelo Plano de Expansão e
Desenvolvimento da Educação Pré-Escolar em Portugal, um momento que
ficou marcado na história da educação em Portugal, com a publicação em
fevereiro de 1997 de uma Lei-quadro que criou uma rede nacional do
ensino pré-escolar.
"Com o Governo de Guterres foi dada
claramente a prioridade à Educação, até se dizia que era a paixão do
Governo, e muito claramente à educação pré-escolar", disse Teresa
Vasconcelos em entrevista à agência Lusa.
Vinte anos depois desta
lei, com um aumento anual das taxas de frequência do ensino
pré-escolar, é detetada uma retração no sistema o que para Teresa
Vasconcelos é um sinal preocupante.
Uma redução da percentagem de
pré-escolarização das crianças, cuja causa ainda é desconhecida, é, na
opinião de Teresa Vasconcelos, um voltar atrás de algo assumido e
adquirido e um investimento do Estado ao longo de anos.
"O que
criou isto não sei, mas acho que era importante olhar para os dados
estatísticos e fazer um estudo de caso. O Ministério da Educação devia
sem dúvida olhar para isto", alertou Teresa Vasconcelos.
Sobre
esta retração evidenciada pelo relatório, o Ministério da Educação disse
em resposta à Lusa que os dados compilados no "Estado da Educação 2016"
reportam-se ao ano letivo 2015/16, cuja preparação esteve a cargo do
anterior executivo e que este Governo - no cumprimento do seu Programa, e
atendendo à tendência que se tinha vindo a verificar -- apostou no
alargamento do pré-escolar, reconhecendo esta etapa da escolaridade como
uma chave para o combate ao insucesso escolar.
Nos últimos dois
anos, segundo Ministério da Educação, foram criadas cerca de 170 salas
de pré-escolar, especialmente para responder às zonas com mais pressão
de procura, estando comprometido, através da Lei do Orçamento do Estado,
com a abertura de mais 150 salas.
O estudo do Conselho Nacional
de Educação indica que nos últimos dez anos há menos 4.037 crianças
inscritas na educação pré-escolar, e que este valor resulta, por um
lado, do decréscimo na frequência das crianças de quatro a cinco anos
(-5,7% e -5,3%, respetivamente) e por outro de um aumento da frequência
aos 3 anos (+2,1%) e aos 6 anos (+180,6%).
Quando em 1996 o
ensino pré-escolar se tornou prioridade, explicou Teresa Vasconcelos,
havia uma taxa de 10% a 12% de cobertura essencialmente pelo privado e
pelo sistema solidário. Antes dessa data tinha saído um decreto-lei para
a expansão deste nível de ensino, mas apenas à custa do financiamento
privado.
"O grande objetivo foi criar uma Rede Nacional de
Educação Pré-Escolar onde o público fosse estatisticamente mais forte e
depois continuasse a existir o particular e cooperativo e o solidário.
Era importante, por um lado na solidariedade social, garantir que
qualquer grupo de 25 de crianças passasse a ter uma educadora de
infância. Antes só era necessária uma coordenadora pedagógica",
explicou.
Antes desta medida governamental da equipa da Educação
liderada por Marçal Grilo, tinha sido feita uma recomendação do Conselho
Nacional de Educação que afirmava claramente que a criação de uma rede
nacional deveria ser prioritária.
Em 1997, foi publicada a
lei-quadro que, segundo Teresa Vasconcelos, afirmava a existência de uma
rede nacional garantindo a universalidade da educação pré-escolar, com
prioridade para as crianças com cinco anos para que tivessem uma
preparação antes de entrar no 1º ciclo.
"O pré-escolar prepara as
crianças. Há aquisições que devem ser feitas no jardim de infância para
que as crianças tenham o rendimento no 1.º ciclo, faz a deteção precoce
de dificuldades, faz o trabalho de socialização das crianças. Aprendem
já no pré-escolar a serem pequeninos cidadãos", explicou, considerando
que é uma alavanca para o sucesso educativo.
* Quando se fala do pré-escolar em Portugal não se devia omitir a grande cidadã FERNANDA ALVES PEREIRA que dedicou a vida à educação da primeira infância. Recusando folclores e beberetes, foi a primeira directora da Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich e fundadora e primeira dirigente da Associação de Profissionais de Educação de Infância, no Ministério da Educação esteve na primeira fila da estruturação do sistema.
Talvez por sempre ser insubmissa, blindada a poderes políticos, mereça esta nojenta omissão quando se fala no pré-escolar.
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