HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
A intriga tomou conta de Angola
Isabel dos Santos foi demitida da Sonangol? Não. Trata-se da uma "notícia falsa" posta a circular no Whatsapp. Esta rede social transformou-se no espaço privilegiado da intriga política que por estes dias domina Angola. Porque será?
A intriga tomou conta da realidade política angolana. O veículo usado
para disseminar informação falsa tem sido a rede social Whatsapp e o
alvo principal a abater é Isabel dos Santos, presidente do conselho de
administração da Sonangol.
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Nos últimos dias várias
mensagens difundidas através do Whatsapp anunciaram a exoneração de
Isabel dos Santos por parte do Presidente da República de Angola, sendo
que uma delas referia inclusive que a gestora seria impedida de
ausentar-se do país.
A
cereja no topo deste bolo foi uma alegada nota de imprensa da
Presidência da República de Angola, dando conta do afastamento de Isabel
dos Santos. Esta "notícia falsa" foi difundida em Portugal esta
sexta-feira, 3 de Novembro, por dois órgãos de comunicação social, a RTP e o Observador, que posteriormente se viram forçados a desmentir o que anteriormente tinham publicado.
A falsidade da notícia era patente nos nomes dos administradores da
Sonangol referidos como exonerados, os quais não faziam parte da gestão
da petrolífera. Na realidade, esses administradores referenciados, por
exemplo, João Diniz dos Santos e Kayaya Kahala, pertenciam à Ferrangol (Empresa de Ferro de Angola) e foi dela que foram destituídos a 1 de Novembro por João Lourenço.
A
proliferação da intriga, que se pretende insinuar como notícia e ganhar
palco mediático, cresceu de tom após o Presidente de Angola ter
demitido o governador do Banco Nacional de Angola, Walter Filipe, e o
presidente da Endiama, Carlos Sumbula, tidos como próximos de José
Eduardo dos Santos, o quais foram substituídos por José Lima Massano e
José Manuel Ganga Júnior. A par disso, crescem de tom os rumores de que
alguns ministros podem estar a prazo, caso do titular pasta das
Finanças, Archer Mangueira.
O próprio Jornal de Negócios
foi envolvido neste esquema de intrigas, tendo sido citado por duas
vezes como fonte de duas notícias que circularam no Whatsapp e que eram
falsas como muitas outras que têm proliferado.
A questão
que se coloca é a de saber se estas "notícias falsas" têm uma base
verdadeira, sobretudo no caso de Isabel dos Santos. Fontes contactadas
pelo Negócios asseguram que a gestora, filha do ex-Presidente de Angola,
José Eduardo dos Santos, poderá abandonar o leme da Sonangol, mas nunca
através de uma exoneração, porque esse procedimento iria contribuir
para arrefecer ainda mais o relacionamento já complicado entre João
Lourenço e José Eduardo dos Santos, que tendo deixado a presidência do
país se mantém como líder do MPLA.
A estratégia, neste
cenário, deverá passar por uma solução de compromisso, a qual se pode
materializar numa saída de Isabel dos Santos da Sonangol no final do
ano. Esta decisão seria justificada como o fim de um ciclo iniciado em
Junho de 2016, durante o qual a gestora fez um trabalho de saneamento
económico e financeiro da petrolífera. Syanga Abílio, que foi
vice-presidente da Sonangol quando a liderança era ocupada por Manuel
Vicente, é apontado como o seu sucessor.
Acresce que no
sector privado Isabel dos Santos vai enfrentar desafios novos em Angola.
Um deles está relacionado com a decisão do Governo de abrir o sector
das telecomunicações a mais um ou dois operadores privados, o que
aumentará a concorrência para a Unitel, empresa da qual a empresária é
accionista.
Num outro plano, vários especialistas ouvidos
pelo Negócios dão conta de um afastamento entre João Lourenço e José
Eduardo dos Santos. O actual Presidente tem revogado muitas decisões de
última hora do seu antecessor e está a ser pressionado para levar mais a
fundo o afastamento de "santistas" dos centros de decisões. E as
"notícias falsas" têm sido uma forma de intensificar essa pressão.
O
ex-Presidente de Angola, por sua vez, está descontente com as decisões
de João Lourenço, e na qualidade de líder do MPLA está à procura de um
sucessor para dirigir o MPLA, que não o actual Presidente. Uma das
individualidades sondada mas que terá recusado essa possibilidade foi
Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola. O certo é que José Eduardo
dos Santos parece apostado em controlar o Estado através do partido e
que o seu relacionamento com João Lourenço é tenso.
Ou seja, actualmente, a oposição ao Governo não é feita pelos
partidos da oposição, mas sim por aqueles que se sentem órfãos de José
Eduardo dos Santos e também por outros que exigem mudanças rápidas. É o
controlo do poder, sobretudo o económico, que está em causa. A soma
destes factores traduz-se num clima da "caça à bruxas" com riscos
graves.
Esta possibilidade é admitida no editorial do Novo Jornal desta sexta-feira, 2 de Novembro, intitulado "A urgência da unidade".
"O
momento é demasiado sério e grave para nos dispersarmos e deixarmos
escapar esta oportunidade de juntar esforços e partir para uma jornada
que, por muito trabalhosa que seja, nos pode tirar da profunda crise
moral, ética, política e cultural em que estamos atolados. Perdermo-nos
em discussões escusas e vazias de que o poder tem de ser ‘meu’, dos
‘meus’ e não ‘teu’ nem dos ‘teus’ é, além de uma demonstração clara de
falta de um sentido sério de angolanidade, estar a oferecer todos os
flancos para depois termos de ouvir o pequenino Trump vir dizer, do alto
da sua ignorância, da sua megalomania e da sua vaidade ignara, que ‘a
África tem de ser recolonizada...!!!???’" lê-se no editorial, não
assinado.
No mesmo jornal,Gustavo Costa, que assina a coluna
de opinião "Palavra de Honra" escreve: "O sr. João [Lourenço] está
metido num vespeiro de abelhas alimentado por um sistema que faz da
intriga o alimento visceral da politiquice e a principal fonte de
abastecimento e de sobrevivência de muitos dos seus mais altos agentes."
Por estes dias, em Angola, o clima é de "mosquitos por cordas".
* A intriga é apenas um arroto do crime organizado praticado por políticos em Angola.
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