HOJE NO
"AÇORIANO ORIENTAL"
Transição das pescas para
a sustentabilidade das pescas
tem de começar imediatamente
A transição das pescas portuguesas para a sustentabilidade, através
da redução progressiva do arrasto, tem de começar imediatamente, segundo
as conclusões do estudo da Fundação Gulbenkian.
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O
trabalho feito no âmbito da iniciativa Gulbenkian Oceanos enumera
algumas medidas transitórias para mitigar os efeitos do arrasto nos
fundos marinhos, como repensar o modelo das pescarias, passando por
"pescar menos peixe, mas com maior qualidade, e de forma menos
prejudicial para o ambiente e para o erário público".
Nesta lista
inclui-se ainda a melhoria da seletividade do arrasto, aumentando a
malhagem das redes, e trazer para terra todas as capturas, de forma a
"aferir a totalidade do desperdício".
Também se devem reduzir
apoios públicos, que devem ser direcionados para formas de pesca mais
sustentáveis, e conhecer e proteger os 'habitats' afetados pelo arrasto.
"Algumas
destas medidas transitórias podem ser postas em prática de forma
faseada, e outras simultaneamente. Algumas poderão ser desencadeadas
pela aplicação da Política Comum de Pescas ou acontecer mais rapidamente
devido às negociações na Organização Mundial de Comércio sobre
subsídios de pesca prejudiciais", lê-se.
Já nas recomendações, o
trabalho indica a necessidade de dar início a um processo participativo
para definir uma visão de sustentabilidade das pescas portuguesas em
2030, com este processo a dever "também informar a discussão
preparatória para a próxima Política Comum de Pescas (2021-2027).
"A
facilitação do processo deverá estar a cargo de profissionais
independentes e abranger vários peritos e representantes formais de
grupos de interesse", lê-se.
A documentação refere que a "pesca
de arrasto de fundo é comparável à destruição de florestas tropicais,
pela devastação que causa nos 'habitats'".
"No entanto, as suas
consequências estão a centenas de metros de profundidade, longe da vista
e do coração de todos nós, havendo por isso muito menos pressão social
para lidar com este assunto", lê-se na documentação distribuída hoje na
conferência "O valor dos oceanos", na Fundação Calouste Gulbenkian, em
Lisboa.
Em 2014, havia 79 arrastões licenciados em Portugal, os
quais detinham 25 licenças para pescar crustáceos e 103 licenças para
pescar peixe, tendo as capturas sido de 15.190 toneladas, num valor de
30.854.000 euros.
Na lista de consequências deste tipo de pesca
estão a destruição dos ecossistemas do fundo do mar, o impacto em
'habitats' próximos, o facto uma parte demasiado grande do que vem na
rede não ser utilizável e a captura de peixes jovens.
Especificamente
sobre o impacto ambiental em Portugal, o estudo indica que "algumas
áreas no Algarve são arrastadas até cinco vezes por ano" e que "até 70%
das capturas do arrasto são devolvidas ao mar", no qual se incluem
espécies vulneráveis.
Já a nível económico, este é o segmento que
"menos pessoas emprega, menos pesca e menos valor produz, e o único
cujo valor diminuiu nos últimos 10 anos" e que recebeu 12% dos subsídios
considerados prejudiciais, mas só gerou 14% do valor das descargas.
"Por
cada um euro de valor descarregado em 2009, o arrasto recebeu 0,60
euros de subsídio que aumentam a capacidade/são prejudiciais", lê-se no
documento.
* Ou mudamos hábitos de consumo ou o mar morre.
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