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Igualdade para fazer a diferença
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
28/06/17
Igualdade para fazer a diferença
Será que a igualdade é um valor na nossa sociedade?
“A igualdade é possível? E é desejável?”, questiona o último número
da revista XXI da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Juristas,
cientistas sociais, políticos e técnicos, jornalistas e artistas
refletem sobre esta utopia que, desde 1974, provocou mudanças
significativas no quadro legislativo português, mas que continua por se
concretizar e exige a atenção de todos, nomeadamente, para as subtilezas
dos textos jurídicos, dos regulamentos de empresas ou das decisões de
quem detém o poder.
Subtilezas que se manifestam numa necessidade injustificável de
dominar os mais frágeis, de controlar a vida dos que não gritam na praça
pública; “desatenções” que emperram a criação de melhores condições de
vida, de quem é considerado improdutivo.
A igualdade não pode ser uma palavra que decora discursos ou uma
ambição com “mas”, porque “o ideal seria, mas...”. Não há “mas” ou “meio
mas” quando se acredita que é possível e desejável concretizar a
igualdade na prática; fazer da justiça uma prioridade, nem que seja
porque a desigualdade transpira exploração, e isso deveria ser
desconfortável e envergonhar aqueles que a reproduzem.
Não há muitos anos, um jovem portador de uma deficiência olhou-me nos
olhos e fez-me prometer que tudo faria para que a sua associação
tivesse uma casa nova. Quem vive em associações dedicadas a pessoas
diferentes, não lida com sombras, mas com vozes que se manifestam, nem
sempre de forma percetível, alguns apenas compreendidos pelos pais ou
por um educador atento.
Mas as suas vozes são claras quando se trata de reconhecer o conforto
e as oportunidades, a atenção e o estímulo. Surpreendem quem não
acreditaria serem capazes de cozinhar, interpretar emoções genuínas numa
peça de teatro, tocar o coração dos outros com abraços fortes e
sorrisos francos.
São essas pessoas que nos fazem ter vergonha quando não somos capazes
de cumprir a palavra dada, porque se há quem não esqueça são eles,
tantas vezes enganados, explorados e até humilhados por serem
diferentes.
A palavra dada a uma pessoa com deficiência deveria ser ainda mais verdadeira, mais comprometida e concretizada.
Não posso, por isso, deixar de me sentir triste, sabendo que as
crianças, os jovens e adultos que constroem a sua vida com o apoio de
associações, como a Aurora Social ou a Associação dos Autistas, ainda
agora, estejam à espera de um edifício sede. Sem nunca perder o empenho,
a Aurora Social é um exemplo de inclusão pelo trabalho, promovendo
pessoas que o mercado de emprego exclui, rejeita e nem com benefícios
fiscais aceita empregar.
Mas, apesar das provas dadas e do exemplo que representam, há quem
não cumpra a sua parte e não responda em tempo útil, neste caso,
garantindo a concretização de um espaço onde possam crescer, ainda mais,
e demonstrar a todos que acreditar na igualdade faz a diferença.
A igualdade não significa “tratar todos por igual”, mas agir com
equidade. Associações que se esforçam por integrar pelo trabalho ou
acolhem aqueles que a sociedade rejeita, ainda menos deveriam ser
sujeitas ao adiamento de prazos, à burocracia do empata.
A igualdade é consequente, não se consegue com boas intenções. E isso
só é possível se existir respeito por aqueles que, genuinamente,
acreditam nas nossas palavras e promessas, mesmo as que são ditas em
campanha eleitoral!
Retomando as questões iniciais. Igualdade: Desejável? Obviamente!
Porque de outro modo a injustiça alastra de forma silenciosa, permitindo
a repressão perfeita, onde quem a sofre, nem se apercebe. Possível?
Sim. Basta fazer a diferença.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
28/06/17
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