Contar outra história
A história triste repete-se todos os anos, com o número de afogamentos a
causar choque, mas sem que se alterem os pressupostos que ajudam a que
esta realidade se mantenha. Neste ano, em que apesar de tudo ainda não
houve muitos dias de verdadeiro calor, o número de vítimas já ultrapassa
os 40.
São apenas os casos que acabaram pior os que entram nesta negra
contabilidade, muitos deles miúdos pequenos que não resistiram à força
das correntes ou ficaram presos nalguma raiz escondida no fundo de um
rio ou que foram traídos por um fundão ou um remoinho.
Hoje, 13 de
junho, e numa semana em que muitos portugueses aproveitaram os feriados
para se escaparem até um destino de sol e mar, há ainda dezenas de
praias sem vigilância; em certas zonas, esta só é designada a 15 de
julho - sem contar com as correntezas de água que nunca a chegam a ter.
E
algumas apenas a têm porque os concessionários que ali fazem negócio
reconhecem que é preferível avançarem eles próprios do que esperar que
quem é de facto responsável se mexa. É que o preço de, ano após ano,
atrasar o arranque da época balnear na melhor das hipóteses para meados
de maio, com justificações como a falta de dinheiro ou o facto de não
haver clientes a banhos que justifiquem presença permanente, é demasiado
caro.
Num país de turismo e que hoje se gaba de ter gente a chegar a
estas paragens o ano inteiro, em que o surf e os desportos náuticos são
cada vez mais populares, se não o fazemos pelos nossos, pelo menos por
aqueles que nos visitam deveríamos mudar. E essa mudança implica uma
decisão simples: a de prolongar o que chamamos época balnear pelo menos
aos períodos de férias tradicionais - fim de ano, Carnaval, Páscoa... - e
aos seis meses de maior calor.
Não partindo do princípio de que só na
linha de Cascais, na Costa de Caparica e a sul há gente nas praias, mas
antes tendo a certeza de que toda a nossa costa e algumas barragens e
rios são crescentemente atrativos quer para portugueses quer para
estrangeiros que nos visitam. É preciso mudar, para que se consiga
começar a contar outra história.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
13/06/17
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