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"DINHEIRO VIVO"
"DINHEIRO VIVO"
Pingo Doce propõe
falsos estágios de verão no Algarve
PCP pede intervenção da ACT e do IEFP para enquadrar programa dos supermercados da Jerónimo Martins na região do Algarve
Estágio de verão com horário de
trabalhador. Esta é a proposta do Pingo Doce para os filhos dos
funcionários que quiserem trabalhar nos supermercados do grupo Jerónimo
Martins em julho e agosto, os meses de maior afluência a estes espaços
no sul do país. Ao abrigo do programa Academia de Retalho, é oferecida
uma bolsa de 500 euros por 40 horas semanais. O advogado Francisco
Espregueira Mendes receia que estes estágios sejam falsos.
“Os estagiários não servem para substituir trabalhadores que estão de
férias. Receio que isso aconteça”, refere o sócio da Telles Advogados.
“Para fazer essa substituição, devem ser contratados trabalhadores a
termo certo, por acréscimo extraordinário de trabalho”, sustenta o
especialista em direito laboral, contactado pelo Dinheiro Vivo.
A cadeia de supermercados explicou ao
Dinheiro Vivo que esta é “uma campanha de comunicação interna, que surge
em resposta a pedidos de muitos colaboradores que gostariam que os seus
filhos que já são jovens adultos pudessem ter uma experiência real do
mundo do trabalho”. O programa destina-se a um alvo de 4500 pessoas
entre os 18 e os 25 anos, segundo fonte oficial do Pingo Doce ao DV, na
sexta-feira.
O caso divulgado pelo portal AbrilAbril, que teve acesso a um documento
interno, já é contestado pelos partidos mais à esquerda, com José
Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda, a considerar que “é uma situação
perversa e, neste caso, tratar-se-iam de falsos estágios. Se existe a
necessidade de mais trabalhadores no Algarve durante as férias, então
que se contratem mais trabalhadores. A lei prevê contratos de trabalho
para isso, é absolutamente inaceitável que se utilizem estágios para
recrutar pessoas para fazer estas tarefas. O recurso a estágios para
preencher estas necessidades de trabalho é um esquema inaceitável e que
se tem disseminado pelo país. Um estagiário não pode desempenhar tarefas
do funcionamento normal da empresa.”
O bloquista refere ainda que “é preciso que
a ACT faça uma ação de fiscalização, verificar os termos da proposta e
determinar se estamos ou não perante falsos estágios. Sempre que se
utiliza a figura do estágio para enquadrar uma relação de trabalho esse
contrato deve ser reconhecido e a ACT deve fazer essa exigência. Se não
houver essa conversão, a própria ACT tem de comunicar o caso ao
Ministério Público e a empresa deve ser levada a tribunal, um mecanismo
que se chama Ação Especial de Reconhecimento do contrato de trabalho,
que é aplicado ao abuso nos estágios e que foi aprovado pelo Parlamento
há duas semanas.
Por seu lado, o PCP garantiu que vai enviar perguntas ao Governo, porque
“parece que isto é ilegal”, diz a deputada comunista Rita Rato. “É
preciso perceber o enquadramento destes estágios junto da Autoridade
para as Condições do Trabalho (ACT) e do Instituto de Emprego e Formação
Profissional (IEFP)” acrescenta.
Contactado pelo DN/Dinheiro Vivo, Luís Azinheira, o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores Técnicos de Serviços, Comércio, Restauração e
Turismo, afeto à UGT, afirma que “um grupo como a Jerónimo Martins, que
fala tanto em responsabilidade social, quando pretende estágios assim
para jovens está a aproveitar mão-de-obra barata”. O sindicalista espera
falar com a Jerónimo Martins para esclarecer o caso e admite fazer uma
denúncia.
Isabel Camarinha, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio,
Escritórios e Serviços de Portugal, afeto à CGTP, diz que “deveriam
estar a ser promovidos contratos de trabalho permanentes. Não somos
favoráveis ao recurso a estágios sabendo que há poucos trabalhadores nas
lojas do Pingo Doce onde o ritmo de trabalho é muito violento. Sabemos
que o número de baixas médicas tem aumentado nos últimos anos”, refere.
O advogado Francisco Espregueira Mendes explica ainda que “se a ACT
verificar que há utilização de estagiários nestas condições, devem ser
levantados autos”. O Dinheiro Vivo contactou a ACT, mas não obteve
comentário até ao fecho desta edição
Ao abrigo do programa de estágios, por turnos diários de 10 horas, com
duas de descanso, além de uma bolsa de 500 euros líquidos, o Pingo Doce
oferece subsídio de alimentação e alojamento (para os não residentes no
Algarve)”. Ou seja, um valor alinhado com o salário mínimo nacional,
depois de retirados os 11% de desconto para a segurança social (TSU).
A cada estagiário será ainda atribuído um tutor que acompanhará o
processo de aprendizagem e desenvolvimento destes jovens. Os estágios
estão previstos para julho e agosto, com regras que definem que
“qualquer falta injustificada, falta de pontualidade, incumprimento de
normas e procedimentos internos nas instalações da empresa e/ou do
alojamento ou algum ato que ponha em causa a imagem do Pingo Doce ou do
Grupo Jerónimo Martins levarão ao abandono imediato do programa sem
lugar ao pagamento da bolsa de estágio.”
O Pingo Doce diz que há 85 vagas, que conta com “mais do dobro dos
candidatos” e que a iniciativa responde a pedidos feitos pelos próprios
colaboradores. Os estágios arrancam a 1 de julho e terminam a 31 de
agosto.
* GOTA AZEDA, MUITO AZEDA.
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