Mulheres sub-representadas
na política autárquica
Os números dão que pensar: nas últimas
eleições autárquicas, em 2013, o conjunto dos 308 concelhos de Portugal
elegeu 23 mulheres presidentes de câmara. O número representa um pouco
mais de sete por cento do total de presidentes eleitos. Se pensarmos no
país apenas a norte do Mondego, o panorama é ainda mais desolador: cinco
eleitas em 142 concelhos, ou seja, apenas 3,5 por cento. Nos distritos
de Viana do Castelo, Vila Real, Braga, Guarda e Viseu não foram eleitas
presidentes do sexo feminino. Nem uma. No distrito do Porto, por
exemplo, há apenas uma mulher entre os dezoito presidentes camarários.
Aveiro e Coimbra também só elegerem uma, Bragança, duas.
É
caso para reflexão sobretudo quando se sabe que as mulheres
representam, segundo o Census de 2011, mais de 52 por cento da população
portuguesa. E sabe-se também que elas estão tão qualificadas quanto os
homens: ainda segundo o último Census, 16,9 por cento das mulheres
portuguesas com mais de vinte anos completaram o Ensino Superior; a
percentagem de homens é de 12,4 por cento.
O caso da representação das mulheres na política autárquica é muito interessante, porque a paridade entre géneros parece mais difícil de atingir do que na política nacional, onde as mulheres têm vindo gradualmente a percorrer o caminho que conduz à igualdade. Nas últimas eleições para a presidência da República houve pela primeira vez duas candidatas (Maria de Lourdes Pintasilgo, em 1986, foi pioneira nessa matéria e era até 2016 a única mulher a ter-se apresentado a votos). O facto não resulta de uma casualidade, mas da tomada de consciência de que as mulheres estão igualmente capacitadas para exercer o mais alto cargo da nação. Também na Assembleia da República as mulheres representam já cerca de um terço dos deputados, embora aqui esteja muito presente a questão das quotas que impõem que as listas tenham um mínimo de um terço de candidatos de cada um dos géneros.
Ora se a questão das quotas resulta nas eleições legislativas, porque não resultará nas Autárquicas? Confesso que aguardo com muita curiosidade e interesse as próximas eleições para ver como serão compostas as listas de candidatos. A afirmação de uma sociedade mais equilibrada e justa também passa pela presença de mais mulheres na cena política local. Espero que eu e outras candidatas de diferentes partidos possamos contribuir em outubro para alterar os números com que abri este artigo. Eles devem passar rapidamente à História e escrever-se uma nova página com mais presidentes de câmara do sexo feminino.
A afirmação de uma sociedade mais equilibrada e justa também passa pela presença de mais mulheres na cena política local.
DEPUTADA DO PS
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
21/03/17
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