Postais dos ex-Ornatos
Continuamos a receber boa música dos rapazes que em tempos integraram os Ornatos Violeta. Conheça algumas delas aqui
Sabe Deus – ou pelo menos a minha família e os meus amigos mais próximos
– que os Ornatos Violeta são, até hoje, a banda que acompanhei mais de
perto e em tempo real. Vi todos os concertos que consegui, enquanto
ainda estavam “no ativo”, e anos mais tarde, quando regressaram para uma
merecida volta de honra, só perdi uma das datas (a dos Açores) do
emocionante reencontro. Parecendo que não, contudo, 2012 já lá vai e, em
2017, prefiro concentrar-me no que de novo os rapazes do Porto
continuam a preparar. Que é bom e bonito.
Na BLITZ de março, ainda nas bancas, Manel Cruz explica o que vai andar a tocar no verão:
em Paredes de Coura e na Caparica, um dos músicos mais admirados da sua
geração irá “refrescar a palete” do que, há dois anos, apresentou em
concertos com o mesmo trio. Desta vez, contudo, poderá incluir canções
novas, nas quais se encontra a trabalhar com vista ao lançamento de um
álbum, em 2018. Ainda sem certezas, salienta, mas a perspetiva de
ouvirmos canções novas vindas de quem nos deu, por exemplo, o duplo tomo
de Foge Foge Bandido representa sempre uma boa notícia.
Recentemente, também Elísio Donas, que se ocupou das teclas dos Ornatos,
partilhou no Facebook algumas novidades, nomeadamente do que anda a
ultimar com a cantora Mila Dores. “Cão que Ladra para a Lua”, canção
para a qual escreveu música, arranjos e orquestração, tocando ainda
piano, é um aperitivo curioso para o que poderá vir aí, por parte do
membro mais meridional dos Ornatos.
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Mila Dores e Elísio Donas -
Cão Que Ladra Para A Lua
O que me levou a dedicar a crónica desta semana a este tema foi, todavia, o programa que a série No Ar, da autoria da Antena 3 e RTP,
dedicou há poucos dias a Peixe. Desde o fim dos Ornatos, Pedro Cardoso
emprestou a guitarra aos Pluto (ainda com Manel Cruz) e navegou por uma
miríade de projetos, sempre com o seu instrumento de eleição no centro
da ação (a banda rock Zelig, o projeto de jazz DEP e a Orquestra de
Guitarras e Baixos Elétricos da Casa da Música são apenas algumas das
suas proveitosas aventuras).
Do currículo que já se vai avolumando, contudo, a minha preferência recai sobre os seus discos a solo. Em Apneia, de 2012, e Motor,
de 2015, revela-se uma voz – íntima, narrativa, melancólica – que se
expressa através das cordas de uma guitarra ora acústica, ora elétrica,
em peças instrumentais que não será abusivo considerar canções.
PEIXE
20 PISCINAS
No programa que lhe foi dedicado, ouvimo-lo falar um pouco sobre a
forma como, ainda criança, se deixou fascinar pela “magia” que os seus
familiares, em Cinfães do Douro, extraíam daquilo que, aos seus jovens
olhos, lhe pareciam uns meros “paus com arames” (tratava-se, na verdade,
de um bandolim e de um violão). A guitarra tornou-se sua companheira
inseparável já na adolescência e com os Ornatos Peixe passou de fã de
música a herói de tantos aspirantes a guitarristas. Disto não fala Peixe
no programa – modestamente, prefere lembrar como a criatividade ainda é
o local onde podemos encontrar a liberdade possível, ou como o projeto a
solo lhe permitiu encontrar uma nova personalidade artística.
Tal como na sua música, as palavras revelam-se porém supérfluas. Deixo-vos antes com o mais recente episódio de No Ar, com primorosa e sensível realização de André Tentugal, e com o desejo de que o terceiro disco não tarde a aterrar.
No Ar Peixe
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Nasceu no Grande Porto em 1978 e estudou Comunicação Social, Jornalismo e
Crítica Musical em Lisboa, onde vive. Passa os dias a ouvir música,
assistir a concertos e escrever sobre esta paixão na revista BLITZ, cuja
redação integra desde 2006, e na secção de cultura do Expresso. Tem uma
boa vida, onde cabe também o amor pelas palavras, pelas pessoas e pelos
animais.
IN "BLITZ"
13/03/17
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