06/03/2017

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HOJE  NO
"OBSERVADOR"
FCSH cancela conferência de
 .Jaime Nogueira Pinto

Evento tinha sido organizado por núcleo de estudantes ligado à Nova Portugalidade. Moção aprovada em Assembleia-Geral de Alunos e receio de violência levaram à suspensão pela direcção da faculdade.

O evento, apresentado como conferência-debate na página de Facebook do movimento Nova Portugalidade, estaria marcado há cerca de duas semanas, para o auditório 2 da torre B da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. A pouco mais de 24 horas da hora marcada (18h30 de terça-feira, 7 de março), Jaime Nogueira Pinto, único orador, foi avisado de que, afinal, “Populismo ou Democracia? O Brexit, Trump e Le Pen em debate” não ia acontecer.
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“Tinha sido convidado por um grupo cultural de jovens patriotas, de uma organização chamada Nova Portugalidade, para ir fazer uma conferência. Mas parece que numa Reunião-Geral de Alunos, a Assembleia Geral, que é maoista ou do Bloco de Esquerda, nem sei bem, fez um grande protesto a dizer que a conferência era uma coisa fascista, reacionária e colonialista. Parece que a contestação subiu de tom e a Associação de Estudantes exigiu à direção da faculdade, que já tinha cedido um espaço, para cancelar a conferência”, explica o escritor e politólogo ao Observador.

De acordo com Jaime Nogueira Pinto, convidado pelo núcleo de alunos da FCSH ligado à Nova Portugalidade, foi o próprio diretor da faculdade que o informou da decisão, alegando questões de segurança: “Também me disse que, mais tarde, com um clima mais calmo, a direção teria o maior interesse em convidar-me para falar sobre o tema na faculdade, num contexto menos político e mais académico”.
Parece que já há tempos [alunos da FCSH] entraram aos berros numa conferência da embaixadora de Israel. A mim não me incomodaria muito, tive alguma experiência disso na minha meninice, mas percebo que a direção da faculdade tenha tido medo que desse distúrbios e pancadaria, não seria nenhum massacre, mas pronto… “
Segundo a ata da Reunião-Geral de Alunos (RGA), a que o Observador teve acesso, na passada quinta-feira, dia 2, foi apresentada uma moção “para que fosse cancelado o pedido de reserva de sala feito pelo proto-núcleo Nova Portugalidade“. “No entender dos proponentes desta moção este evento está associado a argumentos colonialistas, racistas, xenófobos que entram em colisão com o programa para o qual a AEFCSH foi eleita, além de entrar em colisão com a mais básica democraticidade e inclusividade”, pode ler-se na moção apensa ao documento.

Rafael Pinto Borges, um dos alunos da faculdade afetos à Nova Portugalidade, não esteve na RGA, mas garante que recebeu vários avisos, de várias pessoas diferentes, de que estariam a ser planeados ataques à conferência e ao próprio Jaime Nogueira Pinto.
Foi-me dito que durante a RGA foram planeadas esperas e violências no evento de amanhã. Foi-me dito que haveria indivíduos próximos do Bloco de Esquerda, ou mesmo militantes do Bloco de Esquerda, à porta, para se dedicarem a ver quem é ou não fascista, uma coisa totalmente descabida e contrária à Constituição e a todas as liberdades.”
Sobre a organização Nova Portugalidade e as acusações a que tem sido sujeita, o aluno da FCSH, diz que “são calúnias perfeitamente absurdas”.
Francisco Caramelo, o diretor da faculdade, garante ao Observador que a instituição “é um espaço de debate, liberdade e reflexão que recebe debates de muitas naturezas diferentes” e que o cancelamento da conferência não está de todo relacionado com ideologias ou cores políticas.
Até sexta-feira nem sabia da existência nem da organização chamada Nova Portugalidade nem do núcleo de alunos ligada a ela que fez a reserva de auditório para a conferência. Temos vários núcleos de estudantes, do PSD, do PS, da JCP, e todos podem efetuar reservas de sala através da Associação de Estudantes. É essa a política da casa: sempre que os nossos estudantes pretende efetuar eventos só têm de contactar a AE, que filtra os pedidos e depois os transmite ao Conselho Pedagógico. Foi o que aconteceu também desta vez, não há nenhuma leitura política disto.”
Segundo o diretor da FCSH, o problema terá surgido, primeiro, quando a Associação de Estudantes se deu conta do posicionamento político da Nova Portugalidade. E, depois, quando o núcleo ligado à Nova Portugalidade se deu conta de que eles se tinham dado conta — e não tinham gostado. “Uns ficaram incomodados com a associação e com o debate; os outros, os próprios estudantes do núcleo, porque sabiam desses incómodos, ficaram preocupados relativamente à segurança do evento.”
Apesar de, na sexta-feira, garante Francisco Caramelo, se ter recusado a cancelar o evento, as ameaças e discussões nas redes sociais durante o fim de semana acabaram por fazer com que a a direção da faculdade cedesse, esta segunda-feira ao início da tarde.

“Não queria transformar isto num evento que, devendo ser de discussão e de debate, possa desviar-se para extremos que não interessam, de maior conflitualidade entre as partes. O professor Jaime Nogueira Pinto é ele próprio um académico, chegará o momento em que a instituição, no quadro de um debate mais alargado, considerará oportuno convidá-lo para discutir sobre o mesmo tema.”

O politólogo, por seu turno, diz que fica à espera: “Há uma certa crispação e uma certa escalada nestas coisas. Começou noutros sítios e está a chegar aqui também. Estou habituadíssimo a discutir com pessoas que não pensam como eu, isso não é um problema para mim”.

* Mas que história tão mal contada.

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