O poder das palavras
As palavras têm um poder tremendo. Há palavras que edificam, outras que destroem; umas trazem bênção, outras, maldição. E é entre estas duas balizas que a comunicação vai moldando a nossa vida
Ricardo Araújo Pereira deu-me a honra de
prefaciar um livro meu. Nas primeiras linhas do seu prefácio, ele
escreveu: “Faço com palavras tudo o que é importante. Por exemplo, se
quero que uma pessoa saiba que gosto dela, recorro mais depressa a
palavras do que, digamos, a beijos”. Meditei nestas suas palavras e
adicionei a sua moral a esta equação: bom uso das palavras x uso bom das
palavras ao quadrado = felicidade.
As palavras têm um poder
tremendo. Repito com assertividade: as palavras têm um poder tremendo.
Há palavras que edificam, outras que destroem; umas trazem bênção,
outras, maldição. E é entre estas duas balizas que a comunicação vai
moldando a nossa vida.
Comecemos pela gastronomia. Na hora da
refeição, quem é que não saliva ao ler um Crispy de peito de frango com
emulsão de gengibre e limão? Ou um Bacalhau lascado com puré de batata
doce e goiaba confit? Antes de estes apetecíveis pratos chegarem à nossa
mesa, já os pré-saboreámos mentalmente. E quantas vezes a sedutora
descrição dos pratos é bem mais aprazível que o repasto propriamente
dito?
Há dias, num restaurante tradicional, um dos pratos da
ementa era bife raspado. Soou-me bem e pedi. O que era? Um simples
hambúrguer no prato. Estava apetitoso, sem dúvida, mas o prazer que
senti ao degustar as sílabas bi-f-e ras-pa-do antes de o dito prato
pousar na mesa foi infinitamente superior.
No plano amoroso, as
palavras têm também um poder incrível. Outrora, nas cartas de amor, as
palavras voavam distâncias, marcadas pela saudade dos enamorados; hoje, o
impacto das palavras nas relações amorosas é tão ou mais forte porque é
imediato, à distância de um clique. Casais apaixonados são unânimes em
assumir que muitas vezes o flirt verbal é tão poderoso quanto o próprio
beijo ou toque. Nuns casos, as palavras trocadas virtualmente são
autênticos preliminares; noutros, conseguem ter ainda mais impacto do
que o toque real.
E o poder da palavra silenciosa? O silêncio é ouro, já ouviram dizer?
Há palavras que deviam ser escondidas num baú fechado a sete chaves. Porque não edificam, porque magoam, porque destroem...
Há
uns tempos fui fazer um exame médico. Após o questionário clínico
habitual, a médica prosseguiu “Agora, vou fazer-lhe umas maldades”.
Nesse instante, o meu corpo sucumbiu e o desmaio tornou-se iminente.
Ora, a palavra maldade magoou-me mais do que o próprio exame. Teria sido
muito sensato ter escondido tal palavra num quarto escuro. Não teria
magoado tanto.
Mas voltemos às palavras amigas, as que mimam, as que confortam, as que aquecem o coração.
Sabiam
que podem mudar o dia de alguém com uma calorosa saudação? “Bom dia,
como está?” Experimentem, sempre que comunicam, escolher palavras com
carga afetiva positiva! Por exemplo, se substituírem a palavra
“problema” por “situação”, o problema parece tornar-se mais pequeno, não
parece? Ou então acrescentar adjetivos robustos quando agradecem a
alguém: “Obrigada pela sua preciosa, valiosa ajuda”.
Se queremos
relações pessoais e profissionais mais saudáveis e felizes, usemos e
abusemos das palavras positivas na nossa vida. E não nos cansemos de
elogiar. Palavras de louvor e honra trazem felicidade não só a quem as
recebe mas também, e sobretudo, a quem as oferece.
IN "VISÃO"
17/01/17
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