HOJE NO
"OBSERVADOR"
Fitch.
Governo português parece firme
mas é incapaz de fazer reformas
Agência manteve o "rating" da dívida em "alto risco". António Costa tem gerido apoios à esquerda mas o Governo é incapaz de fazer "reformas ambiciosas". E corte no investimento público pode sair caro
A agência Fitch manteve nesta sexta-feira o rating da dívida portuguesa num nível de alto risco (vulgo, lixo), mantendo também a perspetiva – esta ficou em “estável“, o que indica que tão cedo o rating
não deverá subir.
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A Fitch avisa que a descida do défice foi conseguida à
custa de um corte histórico no investimento público e critica o Governo
de António Costa porque, apesar de este ter sabido gerir as
divergências entre os partidos da esquerda, o resultado é um Governo
incapaz de fazer “reformas estruturais ambiciosas” na economia.
A informação foi avançada em comunicado que acaba de ser divulgada ao mercado, mas que tinha sido antecipada pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
Uma
das mensagens principais no relatório da Fitch é que a agência acredita
que o défice orçamental voltará a subir em 2017, para “perto de 3%” do
PIB, com a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (1,1% do PIB) a
contribuir para este resultado. A agência afirma que “Portugal continua
vulnerável a riscos externos”, incluindo o risco de um crescimento
abaixo do esperado na zona euro, as “ameaças protecionistas no mundo” e,
ainda, as eleições que vão decorrer em França, Holanda, Alemanha e,
possivelmente, Itália.
Este último fator, diz a Fitch, “pode levar
a instabilidade política e nos mercados, o que por sua vez poderá fazer
aumentar os custos de financiamento de Portugal e afetar a confiança e o
investimento”.
A Fitch elogia a descida do défice público em
2016, mas salienta que a dívida total continua a subir muito graças às
recapitalizações do setor bancário. “Os riscos macroeconómicos internos
moderaram-se” mas, contudo, a Fitch salienta que o objetivo do défice
foi conseguido graças a efeitos que não são os ideais:
Apesar do crescimento relativamente fraco da receita fiscal, o Governo conseguiu cumprir o objetivo do défice graças a uma estratégia de contenção de despesa muito rigorosa. Houve uma despesa pública total de cerca de 46% do Produto Interno Bruto (PIB), o valor mais baixo desde 2008. Contudo, isto foi atingido, em parte, restringindo o investimento público, o que acentua as dificuldades em impulsionar o crescimento de médio prazo”.
Além disso, a Fitch critica que não
tenha havido uma solução para o crédito malparado na banca e para a
venda do Novo Banco. Para resolver os problemas da banca, “será
necessário um esforço concertado por parte do Governo liderado por
António Costa para obter o apoio dos partidos que apoiam o executivo”.
Até ao momento, o Sr. Costa tem um bom historial a gerir as diferenças entre os partidos, o que assegura estabilidade política. Contudo, o problema é que há pouca capacidade para aplicar reformas estruturais ambiciosas em outras áreas da política económica”.
A agência de rating
acredita que, depois de um crescimento na ordem dos 1,3% (abaixo da
previsão inicial do Governo, que era de 1,8%), a economia deve acelerar
em 2017 para uma taxa de crescimento de 1,5%. Isto graças a maior uso de
fundos europeus e a “menos alterações de política interna, algo que
pode aumentar o investimento”.
O rating da Fitch chegou a
estar com perspetiva “positiva” mas voltou para “estável” em março de
2016, meses depois de o Executivo de António Costa tomar posse. Muitas
vezes, colocar um rating sob perspetiva “positiva” é uma ante-câmara de uma subida do rating, propriamente dito.
Como
a notação da Fitch está no nível mais elevado de lixo, a um pequeno
(grande) passo de subir para território de qualidade, se essa subida se
tivesse concretizado, isso seria algo muito positivo para o mercado de
dívida português já que abriria a porta a vários investidores mais
conservadores.
Investidores que, porque Portugal só tem rating
positivo na pequena DBRS (que, a bem dizer, apenas o BCE valida), não
podem investir somas elevadas nas obrigações do Tesouro.
Mas não foi
assim, poucos meses depois da mudança de governo. Portugal continuou com
o rating em lixo na Fitch, Moody’s e S&P e, por isso,
continua a ser marginalizado pelos principais índices de obrigações, o
que contribui para juros mais elevados e menos procura pela dívida
nacional.
* Situação grave para a qual o sr. ministro das Finanças tem de rever estratégia, os juros são monstruosos. Por outro lado é escandaloso países como o nosso serem prejudicados por indicações de agências cuja competência é discutível. Estamos a lembrarmos o caso "Lemon Brothers" que foi sempre "abençoado" pelas empresas de rating.
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