15/01/2017

PEDRO LINO

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Monarquia 

Portugal foi governado por uma monarquia financeira, cujos responsáveis estão por ser julgados. 
Para quando uma mudança de atitude?

Ainda agora começou a comissão parlamentar de inquérito e o pior já se confirmou. A Caixa foi sempre vista pelos governantes como um instrumento de poder ao seu serviço. Os recursos dos contribuintes foram utilizados por alguns e em favor de poucos, deixando milhares de milhões de euros em prejuízos numa factura ocultada durante mais de 15 anos, que é agora da responsabilidade do contribuinte.

Das muitas decisões desastrosas destacam-se o investimento em Espanha, a tomada de participação no BCP, a concessão de créditos sem garantias, a compra de várias participações em empresas cotadas (Cimpor, EDP, ZON, BRISA, PT), a ajuda dada ao grupo Espírito Santo no controlo da PT, entre muitas outras.

A guerra pela compra do BCP foi o culminar do desespero pelo domínio absoluto do sistema financeiro. A desculpa foi convincente – defesa dos centros de decisão nacionais. Mas como se pode defender uma causa sem dinheiro? A resposta estava na utilização do dinheiro dos contribuintes. O final foi trágico, com todas as grandes empresas a perder accionistas de referência portugueses.

Os sucessivos governos foram cúmplices e tiveram a sua responsabilidade no que foi uma fraude ao contribuinte. Retiravam-se dividendos e, no fim de cada ano, devolvia-se esse montante ou mais em aumentos de capital. Ao distribuir dividendos da CGD era possível disfarçar o défice e apresentar contas que dependiam de resultados financeiros, uma vez que os dividendos são contabilizados como receita. Os aumentos de capital por sua vez acrescem à dívida, que não tem tanta visibilidade como o défice. Desde 2007 já foram injectados na Caixa mais de 3.850 mil milhões de euros em capital, sendo que o total se aproximará dos 9 mil milhões de euros, concluído o presente plano de recapitalização.

Os actores políticos, continuam a tentar passar a ideia que a responsável pela catástrofe da Caixa foi a famigerada crise financeira. Ora esta apenas pôs a nu o que se estava a passar – uma monarquia financeira, orquestrada por privilegiados, que ditou os destinos de grupos económicos e elegeu vencedores com pés de barro. Neste campo ninguém está a salvo: administrações, governos, troika, supervisores e auditores. Todos de uma forma ou de outra tomaram parte nesta triste história.

Os relatórios de auditorias e de gestão omitiram, por desconhecimento ou não, as reais imparidades e fragilidades da Caixa. Ninguém acredita que os prejuízos agora revelados se referem ao ultimo ano. Sendo assim, como pode um depositante ou investidor avaliar o risco da sua entidade financeira se os relatórios de auditoria não reflectem a veracidade da solidez financeira, ou os riscos da instituição? É difícil perceber porque é da responsabilidade do investidor e do depositante a avaliação do seu banco, quando aparentemente nem o supervisor sabe o que lá se passa.

A mais recente subida de taxas de juro reflecte a insegurança dos investidores no sector financeiro que, na próxima crise, não poderá ir em socorro do Estado e comprar dívida. Portugal foi governado por uma monarquia financeira, cujos responsáveis estão por ser julgados. Para quando uma mudança de atitude?

* Economista

IN "JORNAL ECONÓMICO"
13/01/17

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