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IN "AÇORIANO ORIENTAL"
28/11/16
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
02/12/16
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Muita parra (I)!
É público que o BE/A votou contra o Programa de Governo. Fizemo-lo
por fundamentadas razões, entre as quais gostaria de realçar as
seguintes:
O Presidente do Governo Regional apresentou-se, com renovadas
intenções dialogantes e uma louvável humildade democrática. Na prática,
durante três dias de debate, fomos confrontados/as com mais do mesmo: -
ouvidos moucos à diferença, intransigência nas posições e, quanto à
abertura ao diálogo e ao compromisso…coisa nenhuma!
Numa apreciação global, com este documento, o Governo Regional não se
compromete com nenhum objetivo concreto, refugiando-se numa lengalenga
enfadonha, embalada por palavras como:
-“desenvolver”, “apoiar”,
“implementar”, “implantar”,“procurar”, “consolidar”- e outras acabadas
em “ar” – mas, de concreto (com metas, com calendário, com etapas,
objetivos claros e mensuráveis)… nada!
Devemos assinalar duas exceções este panorama: por um lado, o
compromisso de cobertura de toda a Região, com médicos de família, até
2018. Mas, durante o referido debate, este urgente desígnio deixou de
ser um compromisso firme, para se tornar numa intenção bondosa. Por
outro lado, a cobertura total do pré-escolar, dos 3 aos 5 anos, ao longo
dos 4 anos da legislatura. Tímida ambição esta, se atendermos à
amplitude do seu calendário de concretização (4 anos!), numa área como a
Educação, considerada, no discurso governativo, como a prioridade das
prioridades.
Entusiasmámo-nos e ouvimos, com agrado, a decisão de integrar os/as
trabalhadores/as da administração pública regional contratados a prazo,
apesar de tal medida não constar do Programa de Governo, o que achamos
estranho. Contudo, o nosso entusiasmo foi sol de pouca dura. À pergunta
do BE, sobre o destino dos 700 a 900 professores/as que se encontram
nestas condições (muitos/as, com dez anos e muito mais de absoluta
precariedade), lamentavelmente, a resposta foi igual a outras que
ouvimos, vezes sem conta, em toda a anterior legislatura.
Portanto, mais uma vez, muita propaganda, muito “sound bite”, mas pouco efeito prático.
Se olharmos à nossa volta, a realidade salta à vista: persistência de
uma enorme taxa de desemprego; profundas desigualdades sociais que se
reforçam; pobreza que aumenta; evidência de que não é pobre só quem não
tem trabalho (ou quem vive de baixíssimas pensões), sendo-o também quem
trabalha…e muito; abusiva generalização do salário mínimo regional –
regra da remuneração, no setor privado -, a qual coloca milhares e
milhares de trabalhadores/as, praticamente, no limiar de pobreza,
durante os 12 meses de cada ano; precariedade laborar que, na nossa
Região, não para de aumentar. Portanto, perante a gravidade de todo este
estado das coisas, exigia-se a apresentação de medidas mais avançadas,
mais abrangentes, mais incisivas e mais audazes, no combate a travar.
Ora, nenhuma alteração significativa, em relação ao passado, se
vislumbra - nem no Programa, nem nos discursos dos membros do Governo.
Em contrapartida, assistimos a mais um pacote de medidas de apoio às empresas, sustentado por dinheiros públicos.
O BE não está contra o apoio às empresas. Temos apoiado todos os
programas que perseguem este objetivo. Porém, como retorno, exigimos
contrapartidas para os/as trabalhadores/as, tais como a obrigatoriedade
de que as empresas apoiadas por dinheiros públicos, garantam a 75% dos
seus empregados/as contratos sem termo. Proposta liminarmente recusada
pelo Governo Regional.
Açorianos/as! Os dinheiros públicos não são do Governo! É dinheiro de
todos/as nós. E, também por isso, não aceitamos que este dinheiro seja
usado, sem contrapartidas.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
28/11/16
Pouca uva (II)!
Na semana passada, tentei demonstrar que havia “Muita Parra”,
no Programa do Governo Regional. Hoje, vou dedicar-me a provar que
também há “Pouca Uva”...
Se, no que diz respeito aos/as trabalhadores/as, o GR se conforma com
a eterna precariedade, já para os empresários, nada menos do que
regalias e dádivas, assumidas pelo reforço do “rentismo”, posto à
disposição de novos pseudo-empreendedores.
Exemplos: apoios públicos para empresas produzirem energia que, à
partida, está toda vendida à EDA, com a garantia de que, quer produzam,
quer estejam paradas, receberão sempre os referidos apoios. Dito de
outra maneira: - criação de negócios, à custa do dinheiro de todos/as
nós, sem correr qualquer tipo de risco, garantindo rendas chorudas a
falsos empreendedores! Pode ser o maná dos deuses, mas não é uma
política decente.
Na área da Saúde, um claro erro de avaliação, do qual resultará,
paulatinamente, a degradação das potencialidades do SRS. O BE defende o
recurso à utilização do setor privado, enquanto o SRS não suprir as suas
falhas, no serviço à população. Mas não acompanhamos o caminho de
desinvestimento neste serviço, para criar rendas e proteger interesses
privados. Fazê-lo provocará, a prazo, maiores custos para a Região, ao
mesmo tempo que consigna uma saúde para ricos e outra (bem diferente!)
para pobres.
E estas disparidades não se ficam por aqui:
- perante defesos obrigatórios da pesca ou a quebra de quotas do
pescado, o GR mantêm a mesma linha de orientação, ou seja, não alarmar
Bruxelas, preferindo alarmar as casas das famílias que vivem da pesca;
- na Lavoura, incentivar a estabulação e a alimentação do gado,
através de rações e rações com OGM’s, é um caminho errado que, a prazo,
faz perigar a Marca Açores, no mercado nacional e internacional;
- no Ambiente, prepara-se um autêntico atentado ambiental, ao fazer
depender o Plano de Ordenamento do Território do Plano de Turismo! Isto é
uma inversão de valores inconcebível, em matéria de planeamento e
prepara o terreno para mandar às urtigas a tão propagandeada defesa do
Turismo de qualidade e sustentável;
- na economia do Mar, os sinais são muito preocupantes. A pouca
relevância dada ao projeto do Centro de Investigação das Ciências do Mar
(e, mais grave do que isso, o silêncio do Senhor Secretário Regional da
tutela, quando questionado sobre esta matéria) é deveras comprometedor.
Sobretudo, porque este Centro pode ser a alavanca essencial, para uma
economia do mar avançada e um chamariz para empresas de alta tecnologia.
É curioso que um projeto tão divulgado pelo PS, em campanha eleitoral,
tenha agora o silêncio do GR!
Quanto à Base das Lajes, a prioridade é pressionar o Governo da
República, no sentido deste alertar a administração norte-americana para
a importância estratégica dos Açores, assumindo o GR a sua preferência
de que, no futuro, a Base se mantenha. Ou seja, aparentemente, a
administração norte-americana precisa e aceita as lições do nosso país,
sobre o que fazer da sua política de estruturas militares!... Santa
paciência!
É cada vez mais evidente que a manutenção da base militar é
prejudicial à nossa economia e nos impede de criar mais empresas e mais
emprego qualificado, melhorando, assim, a vida dos/as Açorianos/as, em
particular, dos/as Terceirenses.
Concluindo, este caminho não serve os Açores e só razões puramente ideológicas o podem justificar.
Portanto, não pudemos acompanhar este Programa do Governo, pois ele,
não só não combate as desigualdades sociais, como antes as acentua, não
abrindo novos trilhos para a construção de uma Região desenvolvida,
próspera, solidária e coesa.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
02/12/16
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