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HOJE
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Sargento admite que corrupção
na Força Aérea dura há 30 anos
Militar foi escutado a revelar contornos históricos do esquema de sobrefaturação da alimentação e pagamento de comissões
O
esquema de corrupção nas messes da Força Aérea investigado pela Polícia
Judiciária dura há mais de 30 anos. Pelo menos esta foi a informação
recolhida pela investigação da Operação Zeus junto de um sargento da
Base Aérea de Sintra que, ao telefone, terá confidenciado com o seu
interlocutor os contornos do esquema de sobrefaturação de compras e
posterior distribuição de comissões pelos militares envolvidos. O mesmo
sargento terá adiantado ainda estar envolvido no esquema e que, por essa
razão, até tinha pedido para não ser transferido.
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Este
é um dos dados que consta da Operação Zeus, processo que no início do
mês levou à detenção de seis militares da Força Aérea e que envolve mais
de 40 suspeitos, e que foi transmitido aos arguidos pelo juiz de
instrução que os interrogou. No despacho, o juiz declarou que o esquema
de sobrefaturação nas messes "tem-se revelado universal" a quase todas
as bases do país, com a exceção de Ovar e Açores, sendo que os
principais militares envolvidos no esquema já tinham manifestado
"preocupação" pelo facto de os responsáveis daquelas duas bases da Força
Aérea não terem aderido, uma vez que isso poderia trazer problemas,
caso o valor das compras de alimentos fosse comparado.
A
tal comparação só não aconteceu porque, continuou o juiz, houve um
"acordo entre os responsáveis das messes", que faziam as aquisições, e
"quem fiscaliza". Havendo quase - continuou o magistrado - um clima de
aliciamento de militares para o esquema baseado na "obediência
hierárquica solidamente instituída".
Para
"furar" o regime da tal obediência hierárquica e sigilo à volta do
esquema, a Unidade Nacional contra a Corrupção da Polícia Judiciária
teve durante vários meses os militares sob escuta. As conversas ouvidas
foram, posteriormente, complementadas com "a realização de inúmeras
vigilâncias", bem como, explicou o juiz de instrução, "meios especiais
de investigação", levados a cabo "no interior de uma das bases". Isto
tudo "permitiu perceber o modus operandi da organização", concluiu o
juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.
E
como funcionava? Em termos práticos e simples, os fornecedores
entregavam determinadas quantidades de alimentos. No final do mês,
quando apresentavam a fatura, esta apresentava um valor três vezes
superior ao volume de alimentos entregue. "A diferença entre o valor
faturado e dos produtos realmente entregues", sintetizou o juiz de
instrução, "corresponde ao lucro a dividir pelos elementos do grupo".
Só
na base aérea de Monte Real, a investigação apurou que, em onze meses,
cinco militares com responsabilidades diretas na gestão da messe terão
dividido 130 mil euros. O elevado número de militares envolvidos, aliás,
levou o juiz de instrução a considerar existir um "enraizamento da
conduta por todos os elementos das messes".
No
início do mês de novembro, recorde-se, e depois de ouvir os seis
detidos, o juiz decretou-lhes a prisão preventiva, considerando existir
perigo de "perturbação do decurso do inquérito e de continuação da
atividade criminosa". Todos foram conduzidos para a prisão militar de
Tomar.
Entretanto, um dos detidos, um
major, pediu para ser novamente interrogado pelo Ministério Público, o
que aconteceu esta semana. Depois de se ter remetido ao silêncio quando
foi sujeito a primeiro interrogatório judicial após ter sido detido com
outros cinco militares, a 3 de novembro, este oficial da Força Aérea,
que está em prisão preventiva, resolveu prestar declarações ao
procurador titular do processo.
O
objetivo do interrogatório, segundo uma fonte citada pela agência Lusa, é
que o magistrado do Ministério Público promova uma alteração da medida
de coação junto do juiz de instrução criminal. Do depoimento, a mesma
fonte admitiu que poderiam resultar "novos elementos de prova"
suscetíveis de "mudar radicalmente a investigação".
O
esquema fraudulento, ainda de acordo com a PJ, terá lesado o Estado em
cerca de 10 milhões de euros, segundo uma projeção da Polícia
Judiciária, que, neste processo, investiga crimes de corrupção ativa e
passiva, falsificação de documento e associação criminosa. No início do
mês de novembro, a Operação Zeus envolveu 180 buscas em simultâneo em 12
bases militares, em 15 empresas e em diversas casas, tendo sido
apreendidas elevadas quantias em dinheiro, que os investigadores
presumem ser o produto da prática dos crimes. O processo é da 9.ª secção
do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa.
* Há 30 anos, só?
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