05/12/2016

SANDRA REINOLDS REBOLO

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Obesidade mórbida

Quando iniciei este artigo, confesso que coloquei uma série de possibilidades para o desenvolver mas, em virtude de estar ligada ao Desporto e, principalmente, por ter um filho com bicuspidia aórtica a competir com frequência nos campeonatos nacionais de Muay Thai procurei focalizar a minha atenção num estudo que realizei sobre a perda de peso, mais concretamente sobre os efeitos do Jejum Intermitente (JI) combinado com a Restrição Calórica (RC) na perda de peso e proteção cardíaca.

Como sabemos, os atletas dos desportos de luta, incluindo o Muay Thai, têm de lidar, na maioria dos casos, com a necessidade de perderem peso rapidamente nos períodos que antecedem os combates para que o seu peso se enquadre na categoria de peso em que se inscreveram. Observamos, empiricamente, que os mesmos são capazes de perder até 10 kg na semana que antecede o combate, envolvendo perdas quer de massa gorda quer de massa isenta de gordura, ganhando esse mesmo peso no dia imediatamente após as pesagens e antes do combate previsto.

Com base nas experiências realizadas por alguns investigadores (Chaouachi et al., 2009; Klempel et al., 2012; Harvie et al., 2011; Mattson & Wan, 2005; Mercuro et al., 2011; Racette et al., 2012), concluí que a quantificação ideal do consumo energético e % da RC durante a perda de peso requer uma medição do Gasto Energético Total (GET) durante o primeiro mês de RC para conseguir uma rápida redução no GET. Aproveitando e indo também um pouco ao encontro da razão que me levou a escolher este tema, fui também à procura de um estudo que me fizesse perceber se a prática do JI para a perda de peso, afetava o desempenho dos atletas de elevado nível, uma vez que o meu filho pratica Muay Thai e, muitas vezes, passa por períodos de dietas “malucas” para atingir o seu peso de combate num curto espaço de tempo. Nesta busca, encontrei um estudo de Chaouachi et al. (2009) cujo objetivo foi avaliar a influência do JI no Ramadã no desempenho físico aeróbio e anaeróbio em 15 judocas de elite mantendo as suas cargas de treino normais. Neste estudo, foram realizados vários testes de desempenho físico nos judocas em 4 momentos distintos do Ramadã: antes, no início, no final e 3 semanas depois. Os resultados mostraram que o desempenho físico, na maioria dos testes, não se alterou durante o Ramadã. No entanto, houve uma pequena redução de 1,3 kg na massa corporal e um aumento da fadiga total durante o Ramadã, em comparação com o período de controle. Embora ainda existam muito poucos estudos a este nível, gostaria de mencionar um autor que me chamou a atenção, mesmo não tendo sido num artigo científico mas que, confesso, fez-me refletir imenso sobre a perda de peso e o que desejamos alcançar verdadeiramente com ela. O autor de que falava, Fuhrman (2014), vem afirmar que há imensas dietas com “regras para contar calorias”, à base de medicamentos, programas com elevado teor de proteínas, batidos enlatados e outros produtos que podem fazer com que uma pessoa perca peso e que assim se mantenha durante algum tempo. O problema, para este autor, é que não se pode seguir estes programas para sempre e que, alguns até são perigosos. De acordo com este médico, dando um exemplo de uma dieta com elevado teor de proteínas (e outras dietas ricas em produtos animais mas pobres em fruta e hidratos de carbono não refinados) pode aumentar significativamente o risco de cancro do cólon. Ele questiona, de que serve uma dieta que nos fará perder peso, se ela aumenta significativamente as hipóteses de contrair cancro? Portanto, para Fuhrman (2014) o segredo da sua dieta está na sua fórmula: Saúde=Nutrientes/Calorias, que é um conceito ao qual ele dá o nome de densidade de nutrientes de uma dieta. Para este médico, não há necessidade de deixar de comer nem de contar calorias a ingerir diariamente para perder peso, segundo ele, a perda de peso passa essencialmente pela aquisição do peso “ideal” através de hábitos alimentares saudáveis, que se podem manter durante uma vida inteira, tais como, a ingestão ilimitada de todos os vegetais crus, vegetais ricos em nutrientes (verdes e não verdes) cozinhados, feijão, leguminosas, rebentos de feijão e tofu e ainda de fruta fresca; a ingestão limitada de vegetais cozinhados com amido ou cereais integrais, abóbora, milho, batata, arroz, pão, cereais, frutos secos e sementes, abacate, fruta seca, semente de linhaça moída; e proíbe ainda lacticínios, produtos de origem animal, snaks entre refeições, sumos de fruta e óleos.

Portanto, com base nos estudos dos vários autores (Chaouachi et al., 2009; Klempel et al., 2012; Harvie et al., 2011; Mattson & Wan, 2005; Mercuro et al., 2011; Racette et al., 2012) em comparação com Fuhrman (2014), parece revelar-se bastante pertinente a realização de outro tipo de estudos que analisem as dietas para a perda de peso de pessoas obesas com recurso a dietas, tais como, de JI com RC e baseadas no tipo de alimentos ingeridos e os seus impactos na sua saúde em geral, associados ao tempo em que essas pessoas conseguem manter o novo peso adquirido. Poderia continuar a levantar muitas mais pistas, mas parece-me que estas já deixam transparecer a necessidade da constante procura do conhecimento e principalmente da sua aplicação prática, com o objetivo único de contribuir, neste caso concreto, para a saúde em geral das pessoas obesas, visto que a obesidade mórbida é um problema epidemiológico das sociedades modernas atuais. Mesmo com a realização de estudos científicos, não podemos esquecer que, a única garantia que cada um de nós pode ter sobre o conhecimento que vai adquirindo, está na própria mudança, sendo que o que hoje é verdade, amanhã já não é bem assim, e vice-versa. É também certo que, por muito que se conheça do corpo humano, há sempre muito mais por descobrir. Portanto, desafio a todos a procurar a luz de que cada um precisa, isto é, o conhecimento necessário para clarificar as nossas dúvidas constantes.
 
Por fim, já que falamos de Muay Thai, gostaria de congratular o atleta maritimista Diogo Abrantes pelas suas duas mais recentes vitórias, na categoria de -69 kg, ao vencer na Tailândia a dois tailandeses por KO, um no primeiro e o segundo no terceiro assaltos.

 IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
03/12/16

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