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IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
02/11/16
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Crianças tiram-me do sério!
Todos os que têm filhos já experimentaram
aquela expressão: "esta criança tira-me do sério!". Mas, como vários
pediatras e psicólogos já comprovaram, são os adultos que já estão fora
do sério pelas suas próprias frustrações, pressões, medos, mágoas ou
preocupações e, normalmente, descarregam nos filhos alguma da raiva
contida "como bombas prestes a explodir", conforme refere a psicanalista
brasileira Luzinete Carvalho num dos seus artigos sobre a relação dos
pais com os filhos.
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Fazendo mea culpa
em algumas situações, chego a pensar que a nossa vida apressada, com
prazos para cumprir e horários padronizados, nos faz esquecer que as
crianças têm outro ritmo, outro tempo, outra atitude, a atitude normal
de um ser humano em desenvolvimento. E sair do sério não é a melhor
forma de ensinar a viver neste Mundo acelerado, principalmente quando
explodimos com quem é mais frágil e indefeso e que, acima de tudo,
assume uma retaliação da nossa parte como o fim do Mundo.
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Não
quer dizer que, de vez em quando, não seja preciso uma reprimenda, mas
antes de a dar, é necessário refletir se a nossa atitude mais impulsiva
tem por detrás outras razões da vida, como contas para pagar ou
problemas a nível profissional ou emocional que não estejam diretamente
ligados aos filhos.
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Dou comigo a pensar
que é necessária "uma preciosa tranquilidade mental" para desfrutar da
companhia das crianças, até porque os filhos, na verdade, necessitam de
muito pouco para se sentirem bem com os adultos. Chama-se tempo de
qualidade e, por vezes, não o temos. Como naquela vez que iniciamos uma
brincadeira e o telemóvel toca e nos esquecemos completamente da sua
presença.
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A psicanalista resume muito
bem aquilo que sentimos: "As crianças não nos tiram do sério, não nos
cobram nada, é que nós, preocupados, ansiosos e infelizes, nos sentimos
cobrados internamente, e quando uma criança nos pede algo simples, lá no
fundo sentimos vergonha, pois descobrimos que somos, ou estamos,
incapazes de realizar mesmo as coisas mais simples".
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A
verdade é que, quando estamos com eles, precisamos de voltar a ser a
criança que um dia fomos. Não quer dizer que as situações tensas vão
desaparecer. Elas existem em todas as famílias, o que difere é a forma
de lidar com elas sem nos tirar do sério.
EDITOR-EXECUTIVO
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
02/11/16
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