Shine Your Light
Bob Dylan não precisava do Nobel para ser o que já é:
uma parte da vida e das referências de sucessivas gerações, entre elas a
minha. Tanto quanto se sabe, o homem não teve ainda qualquer reação e
pode muito bem não tê-la em definitivo.
Da cidade do pecado e do jogo,
Las Vegas, não veio qualquer sinal do senhor que ali trabalhava quando
rebentou a notícia. Como improvável seria que Las Vegas fosse um local
frequentável pelo Dylan de há 50 anos, sendo a circunstância, aliás,
outra evidência natural da enorme espessura do seu percurso de vida. Por
isso mesmo, não espero do poeta uma reação similar à de Sartre, em
pública e militante recusa do prémio.
Outros autores existem para quem o Nobel foi decisivo para se darem a
conhecer ao mundo, e eu próprio, enquanto leitor, confesso que deixei
alguns na página 50, apesar daquilo que o Nobel representa na mitologia
literária.
Os meus livros de cabeceira não são necessariamente Nobel, e
lá estão Aquilino e Lobo Antunes. Ora, o sr. Zimmerman, o tal que
surripiou o Dylan ao poeta Thomas, por tudo aquilo que tem produzido e
vivido desde 1962, pode muito bem não se prestar a qualquer tipo de
exposição pública a esse respeito.
Ou então, que o possa fazer com a
mesma displicência com que recebeu a medalha da Liberdade das mãos de
Obama (caramba, sempre era Obama!), a quem deu três palmadinhas no ombro
e seguiu como se nada fosse.
O seu grande livro é ele próprio, poeta de
todas as fés, contradições e ironias do género humano. Daí o meu gozo
intenso por esta herética atribuição.
Whatever… all right, Mr. Dylan!
IN "i"
18/10/16
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