HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Perita fiscal do grupo constituído entre Governo, PS e BE bate com a porta
Glória Teixeira, convidada pelo BE para
integrar o grupo de trabalho sobre política fiscal, demitiu-se. Acusa o
processo de falta de transparência e lamenta que o Governo tenha
ignorado a luta contra a fraude em sede de IRC, enquanto mantém a
sobretaxa de IRS.
O grupo de trabalho
constituído entre o Governo, PS e o Bloco de Esquerda para propor
alterações nos diversos impostos vai continuar a trabalhar no
pós-Orçamento do Estado, mas com uma baixa. Trata-se de Glória Teixeira,
a perita independente convidada pelos bloquistas para integrar a
equipa, que bateu esta quarta-feira com a porta. Motivo: "Ausência de
critérios mínimos de transparência" sobre as opções políticas que foram
tomadas - e com as quais não concorda.
.
Foi através de um e-mail a Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda,
que Glória Teixeira, Professora Associada da Faculdade de Direito da
Universidade do Porto, pôs termo à sua colaboração técnica.
Convidada
pelo partido em Março para auxiliar a discussão (os grupos sectoriais
integram elementos do BE, PS, Governo e convidados independentes de cada
um dos lados), Glória Teixeira foi surpreendida com as opções de
política fiscal que constam da proposta do Orçamento do Estado para
2017.
Entre os motivos do descontentamento está o facto de o
Governo ter decidido manter a pesadíssima carga fiscal sobre
trabalhadores dependentes, através da sobretaxa de IRS, e ignorar a luta contra a fraude e abuso fiscais em sede de IRC, à revelia do que tinha sido discutido no grupo de trabalho, sabe o Negócios.
No
e-mail que dirige a Catarina Martins, Glória Teixeira alude ao processo
de que fez parte para concluir que "não houve uma colaboração séria por
parte do Governo", dizendo que ficou sem saber quem é responsável por
quais propostas do Orçamento do Estado, e quais os critérios que
presidiram à sua escolha. A manifestação de surpresa face à solução
final da proposta de Orçamento sugere que boa parte das propostas que lá
constam não nasceram no seio do grupo de trabalho, foram, antes,
adaptações ou inovações que o Governo resolveu introduzir, ou deixar de
fora.
A professora universitária lembra a Catarina Martins que
em qualquer país civilizado, as propostas fiscais apresentadas vêm
sempre acompanhadas com a indicação da sua fonte ou proveniência e
respectiva exposição ou fundamentação.
A equipa das Finanças
sai, em seu entender, descredibilizada, não só por não ter prestado a
tal "colaboração séria" que se impunha", mas também devido ao facto de a
situação do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais desacreditar o
País e quem com ele se relaciona.
Em jeito de corolário, Glória
Teixeira considera que a sua experiência é reveladora da "falta de
transparência do Governo no âmbito do processo legislativo em Portugal".
O grupo de trabalho para rever a fiscalidade, constituído pelo
BE e o Governo tinha por objectivo apresentar uma bateria de propostas
de alteração aos diversos códigos para serem aproveitados para a
proposta de Orçamento do Estado para 2017.
Os trabalhos deste
grupo são para continuar, nomeadamente para passar a pente fino o
Estatuto dos Benefícios Fiscais, mas, no que ao OE diz respeito,
documento, contudo, relevou-se parco em alterações - o Governo chama-lhe
o orçamento da "estabilidade fiscal" - e traz uma surpresa de última
hora, que acabou por impor-se como solução para financiar o aumento em
10 euros das pensões de reforma até 633 euros de Agosto em diante.
Na área do IRC, as medidas são poucas e, embora não haja nenhuma especialmente poderosa, é mostrada preocupação relativamente à falta de financiamento e subcapitalização do tecido empresarial.
E nada se estabelece sobre práticas fiscais abusivas das grandes
empresas, numa altura em que a nível internacional o tema domina as
agendas políticas, quer ao nível da OCDE quer ao nível europeu.
Aliás,
num levantamento feito pela Comissão à escala europeia, e para o qual
Glória Teixeira colaborou enquanto perita independente, eram
identificadas dez brechas no código do IRC que permitem o chamado planeamento fiscal agressivo.
* Um imbróglio, Glória Teixeira é altamente qualificada
.
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