ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"
Os polícias
que nunca esquecem uma cara
Ocupa uma pequena dependência na sede da Scotland Yard, em Londres, com
um número afixado na porta: sala 901. Na unidade de elite da polícia
britânica - conhecida por MET -, trabalham meia-dúzia de agentes com uma
característica comum: são especialistas em reconhecer caras.
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Numa
cidade com milhares de câmaras de videovigilância espalhadas por ruas,
espaços comerciais, transportes públicos e condomínios - "um olho amigo
no céu", defendia o Governo, em 1994, quando começaram a ser instaladas -
os agentes da sala 901 são os primeiros a procurar soluções quando há
um crime sem pistas. Peritos em reconhecimento facial, passam horas a
visionar as imagens de videovigilância até conseguirem uma identificação
positiva.
Nos anos 90, mais de metade do orçamento para a
prevenção do crime em Londres destinava-se à instalação e manutenção de
câmaras de videovigilância. Embora o investimento tenha sido um fracasso
- durante anos os números da criminalidade mantiveram-se estáveis -, os
resultados começaram a aparecer com a criação desta unidade especial, a
primeira do género no mundo.
Na
semana passada, num quadro branco pendurado na parede da sala 901, o
fundador e cérebro da unidade, Mick Neville, escreveu o número de
identificações positivas dos últimos sete dias: 1.957.
O predador do autocarro
O homem aparecia nas imagens mas tinha o rosto praticamente escondido
pela barba e cabelo comprido. Vestia uma parca escura. Sentado ao lado
de uma menor, usou um jornal para esconder a mão com que lhe tocou na
virilha. As imagens mostravam-no também a seguir a menor pela porta
traseira. A miúda de 15 anos conseguiria fugir, mas não era a primeira
vez que o predador atacava. Visionadas as imagens do autocarro e das
ruas envolventes, a polícia divulgou um retrato do suspeito no seu
boletim semanal intitulado Caught on Camera [apanhados na câmara, em
tradução literal]. Nem uma pista. Nem um telefonema.
Eliot
Porrit, 36 anos, na equipa desde 2015, ficou com o caso. Em miúdo
gostava de ver filmes com o pai e era capaz de identificar os actores em
papéis menores ou aparições de segundos noutros filmes. Tinha um
talento especial: nunca esquecia uma cara. Com um mapa digital aberto
num tablet, depois de estabelecer um padrão nas viagens de
autocarro do suspeito, circunscreveu a zona Norte de Londres com três
alfinetes e arrancou para o terreno com uma colega. Decidiu ver também
as câmaras do metro da zona, nas instalações da empresa de transportes.
Quase
por milagre, enquanto verificava as imagens de fraca qualidade, a
colega foi à janela e viu um homem agarrar num jornal gratuito. A
fisionomia correspondia ao retrato recuperado das primeiras imagens: era
o suspeito. "Corremos como loucos", contou o agente à revista New Yorker.
O homem, 56 anos, administrativo numa empresa, seria detido pouco depois, acusado de tentativa de violação.
* Precisamos destes olheiros.
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