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Água do mar a 26 graus aproxima tubarões das praias
Subida da temperatura da água está a atrair mais tubarões à costa. Mas não são um grande perigo: só procuram peixes e plâncton
Que
a costa portuguesa é abastada de tubarões já não é propriamente
novidade. Serão mais de 30 as espécies que "moram" lá para alto-mar, a
um mínimo de dez quilómetros dos areais. Mas este verão aconteceu algo
invulgar. A temperatura da água subiu para valores recordes, a rondar os
25 a 26 graus, tendo atraído o mais famoso dos predadores - que até
Spielberg celebrizou no cinema - para próximo das praias. Mas não há
razão para medo. Os especialistas garantem que os tubarões que por cá
temos só andam atrás de novos cardumes e não representam perigo para os
humanos. É que chegaram peixes invulgares por estas paragens, que este
ano se deixaram convencer pela água quente. Quando arrefecer voltarão ao
Mediterrâneo.
SUBMARÃO |
Que o diga Paulo Martins, pescador da
Costa de Caparica, cujas redes de arte xávega têm trazido tintureiras
como nunca. "Têm meio metro e é preciso ter cuidado quando as estamos a
manusear, porque podem morder para tentarem fugir", revela, recorrendo à
experiência de anos para garantir que as águas mais quentes estão a
trazer novas espécies e a afastar outras.
"A
sardinha e o carapau quase não existiram este verão", diz, revelando
que há dias apanhou um lírio com 24 quilos que vendeu em lota por 180
euros, depois de estar tentado a devolver o exemplar ao mar antes de
conhecer o seu valor. Desconfia que terá sido o primeiro pescador da
zona a capturar esta espécie mais comum nos Açores. "Mas ainda agora fiz
nova captura e apanhei seis palmetas, o que também era raro", insiste.
É
no encalço das novas espécies que os tubarões se aproximam das praias,
como confirma o diretor do Departamento de Educação do Zoomarine, João
Neves. "É um fenómeno igual ao dos golfinhos que também têm registado
mais avistamentos nas praias, porque andam à procura de outros peixes
junto à costa", compara, acrescentando que o risco para os banhistas é
"zero".
Recorre às estatísticas para
assegurar que Portugal não tem registos objetivos de ataques de tubarão,
admitindo que algum animal possa morder um pescador no momento em que
está a ser "manipulado", considerando que isso é apenas o instinto de
sobrevivência para tentar escapar. "Nós não somos comida para eles e até
fogem quando nos veem", insiste o especialista, admitindo que se o
aquecimento global elevar a temperatura da água do mar para valores
próximos aos deste ano é possível que os tubarões apareçam com mais
frequência. "Uns alimentam-se no fundo e outros mais à superfície.
Talvez o tubarão-frade, que não tem dentes e come plâncton, passe a ser
mais visto", diz.
Nuno Moreira, do
Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), confirma que as
temperaturas este verão andaram acima do normal e que as várias
situações de levante no Algarve aqueceram o mar como não havia memória,
elevando a temperatura da água até às zonas da Comporta e de Troia. "Não
tivemos o arrefecimento típico de verão com a chamada nortada."
* Os tubarões em terra são os que dão as dentadas maiores
.
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