HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Lesados do Banif avançam
contra a TVI em tribunal
"Com as conclusões da Entidade Reguladora para a Comunicação Social
(ERC) apresentadas publicamente, julgamos estarem reunidas as condições
para avançar com uma ação de responsabilidade civil efetiva contra a TVI
em nome de todos os lesados inscritos na ALBOA e daqueles que se vierem
a inscrever", afirmou o presidente da ALBOA, Jacinto Silva, em
conferência de imprensa, em Lisboa, citada pela Lusa.
No projecto definitivo, que o Económico teve acesso, é dito que "não é
pretensão da ERC apurar ou sequer discutir a eventual existência de uma
relação de causa e efeito entre as informações inicialmente veiculadas
pelo serviço de programas TVI 24 durante a emissão do programa «CN -
Campeonato Nacional», em 13 de Dezembro último[1], e os factos
subsequentes relativos ou associados ao Banif que, no todo ou em parte,
possam, ou não, ter resultado das mesmas[2], e, por essa via,
proceder-se à imputação das responsabilidades de índole civil e/ou
criminal que daí porventura derivem. Essa é tarefa que, consabidamente,
compete a outras entidades".
Remete por isso para outras entidades a apreciação de matéria e
índole civil e criminal resultante do facto de a notícia ter provocado a
Resolução do Banif.
Diz a ERC que sua decisão que "as informações então divulgadas pela
TVI24 traduziram uma prática jornalística desconforme aos ditames que
integram o exercício desta profissão, tal como previstos no Estatuto do
Jornalista e no Código Deontológico desta classe profissional, uma vez
que: a TVI não assegurou ao Banif (nem, aparentemente, outras entidades
interessadas) a possibilidade real de se pronunciar em momento prévio à
divulgação das informações identificadas; a TVI não fez qualquer
referência às fontes de onde proveio a informação que entendeu divulgar,
nem informou da necessidade de garantir a confidencialidades das fontes
de informação a que recorreu; a TVI assumiu, no caso, uma decisão
editorial criticável à luz das mais elementares boas práticas
jornalísticas, dado ser manifesto que não existia inteira segurança
quanto à fiabilidade dos elementos então sucessivamente divulgados e
rectificados, nem se descortinar premência que porventura justificasse
tal divulgação, nessas condições".
Diz ainda a ERC que a conduta adoptada pela TVI é tanto mais
reprovável quanto é certo que: "a matéria noticiosa possuía relevante
interesse público e jornalístico, e passível de provocar considerável
impacto na vida de muitas pessoas e nos destinos da própria sociedade
portuguesa, pelo que, também por esse motivo, se justificavam cuidados
redobrados na confirmação da veracidade da informação obtida e sua
divulgação; a própria Direção de Informação da TVI assumiu que a
informação divulgada sobre o Banif resultou de uma decisão «devidamente
ponderada» nesse sentido".
Na deliberação a ERC é peremptória que "o operador TVI não assegurou a
possibilidade real de o Banif (nem, aparentemente, outras entidades
interessadas) se pronunciar – o que implicaria conceder um tempo
razoável de resposta -, em momento prévio à difusão das informações
identificadas, omissão esta que consubstancia inobservância do dever de
auscultação prévia das partes com interesses atendíveis na matéria
noticiada, tal como configurado no artigo 14.º, n.º 1, alínea e), 2.ª
parte, do Estatuto do Jornalista, e no ponto 1 do Código Deontológico do
Jornalista".
Perante estas conclusões da ERC, o presidente da associação que
representa os clientes lesados do Banif questionou: "Será possível o
senhor jornalista Sérgio Figueiredo não se ter demitido ainda?".
Em Junho, a ALBOA apresentou uma queixa-crime junto do Ministério
Público, cujo inquérito está a decorrer, por considerar que foi a
notícia da TVI que conduziu ao levantamento dos depósitos no dia
seguinte à sua divulgação e que precipitou a resolução que levou à venda
do Banif.
Conforme a Lusa noticiou no início desta semana, os clientes lesados
do Banif vão realizar uma manifestação nacional em Lisboa, no dia 16 de
setembro, pela salvaguarda dos seus direitos depois da falência do
banco.
A ALBOA foi criada há seis meses na sequência de manifestações
espontâneas dos lesados do Banif, levadas a cabo sobretudo nas regiões
autónomas da Madeira e Açores, onde o banco detinha uma quota de mercado
significativa, antes de ser vendido ao Santander Totta por 150 milhões
de euros.
A associação representa 3.500 obrigacionistas subordinados que
perderam 263 milhões de euros no processo de venda do banco, bem como
4.000 obrigacionistas Rentipar ('holding' através da qual as filhas do
fundador do Banif, Horácio Roque, detinham a sua participação), que
investiram 65 milhões de euros, e ainda 40 mil accionistas, dos quais
cerca de 25 mil são oriundos da Madeira.
* "Um voo cego a nada" (REINALDO FERREIRA)
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