Que tipos de sistemas agrícolas
sustentarão o amanhã?
A intensificação do uso da terra e em particular de plantas e animais de valor económico associado tem sido possível graças à selecção de especificas características e qualidades das espécies resultando inevitavelmente numa alteração da constituição genética das mesmas ao longo dos tempos
A agricultura aparece na história da humanidade durante o período
neolítico há cerca de 10.000 anos (na Mesopotâmia, nos vales dos rios
Nilo, Tigre e Eufrades), possibilitando ao Homem a capacidade de
fisicamente se fixar e transformando assim o seu comportamento
recolectivo numa postura sedentária, especializar-se noutras actividades
gerando progresso.
No entanto, esta especialização de que falo
ocorreu naturalmente também na própria agricultura. A intensificação do
uso da terra e em particular de plantas e animais de valor económico
associado tem sido possível graças à selecção de especificas
características e qualidades das espécies resultando inevitavelmente
numa alteração da constituição genética das mesmas ao longo dos tempos.
A
selecção de recursos genéticos e a domesticação de espécies que tem
ocorrido nos sistemas agrícolas do nosso mundo são fruto da
especialização e intensificação da actividade, o que tem gerado uma
relação de interdependência entre o homem e as espécies que o alimentam.
A intensificação desta relação tem levado o homem a uma maior
dependência de apenas algumas espécies que por sua vez dependem cada vez
mais do homem, aumentando-se assim o nível de dependência que os
sistemas agrícolas de hoje têm de inputs artificiais, por sua vez
dependentes de tecnologia com custos ambientais elevados e de fileiras
produtivas que se têm monopolizado.
Existe um notável
estreitamento ao nível dos recursos genéticos que hoje utilizamos. Hoje,
cerca de 60% da biomassa animal no mundo pertence ao gado bovino. A
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO,
estimou no fim dos anos 90 que cerca de duas raças de espécies animais
domesticadas estavam sendo perdidas por semana em todo o mundo (FAO
1998), sendo que mesma tendência voltaria a ser verificada em 2007.
Actualmente
99% da carne de peru produzida nos Estados Unidos da América (E.U.A.)
resulta de uma única raça e 70% das explorações leiteiras norte
americanas trabalham apenas com a raça Holstein-Frísia (Halweil 2004).
Existe assim todo um património genético que se vai perdendo. Existem
cerca de 300.000 espécies vegetais comestíveis no mundo, no entanto 60%
da energia presente na dieta humana é assegurada por apenas quatro
dessas espécies (Arroz, Trigo, Milho, Batata). Falando em milho, no
final do século XX, apenas seis variedades eram já responsáveis pela
produção de 70% da produção mundial desse cereal.
Geograficamente,
é igualmente possível verificar que as zonas em que muitas das
principais espécies domesticadas tiveram origem não coincidem hoje com
as zonas em que as mesmas são produzidas de forma mais especializada, o
que revela bem o distanciamento que existe hoje entre a agricultura
industrializada e as linhas de variedades silvestres de onde partimos.
A
homogeneização dos recursos genéticos utilizados na agricultura tem
afectado a resistência de sistemas a nível de pragas, de variados
agentes patogénicos e resulta igualmente num maior grau de
vulnerabilidade a alterações climáticas e outros factores ambientais.
Estima-se que mundialmente factores como pragas e agentes patogénicos
sejam responsáveis pela redução de cerca de 35% das produtividades
potenciais das nossas culturas agrícolas (Agroecology - The Ecology of Sustainable Food Systems 2015).
Uma
outra consequência prática deste afunilamento genético é a perda de
eficiência na integração de serviços naturais e funcionais que sejam
capazes de gerar sistemas multi-funcionais.
Nos anos 70, surge na
escola agrícola de Cárdenas, em Tabasco no México, um modelo que tem
ganho popularidade e alterado a perspectiva de muitos mas que na verdade
propõe alternativas cuja a prática é bem ancestral e em muitas zonas do
mundo ainda vista como tradicional.
Questionamo-nos portanto se
este é um caminho de olhos fechados ao progresso ou se se trata sim da
integração de conhecimento e tecnologia na ecologia de sistemas
permitindo gerar maior resistência e resiliência sem que se aumentem
custos.
A variedade e complexidade de conceitos apresentados
pela Agroecologia tem se transformado num movimento muitas vezes
defendido com alguma carência de fundamentação científica e resultando
num discurso politicamente parcial e de forte carácter activista no qual
não me revejo.
No entanto, existe muita potencialidade em
muitos dos modelos que este movimento defende nos dias de hoje.
Procurando sempre manter uma perspectiva aberta que não me permita cair
em argumentos tão radicais quanto incoerentes vejo que as exigências do
amanhã levam os nossos sistemas no sentido de alternativas como as que
esta visão apresenta.
Pensar os nossos sistemas agrícolas exige
hoje mais que nunca uma visão global capaz de compreender o nosso
sistema alimentar segundo uma perspectiva mais extensa. A intensificação
dos nossos sistemas tem assim permitido uma crescente dependência de
factores externos à escala produtiva, resultando não só numa extensão da
distribuição e comercialização do que se produz mas também numa
globalização de mercados de matérias primas e outros factores produtivos
que conduzem consequentemente a actividade produtiva a um estado de
maior dependência e fragilidade.
A proposta da Agroecologia
surge deste modo numa escala que se estende a outras actividades e
sectores porque a implementação de modelos na agricultura já não é hoje
possível sem uma reestruturação de todo o sistema complementar. São
assim apresentados cinco níveis distintos de conversão, variando entre
eles a escala em que actuam, o campo cientifico que abordam, as praticas
que propõem e a dimensão social em que devem ocorrer.
Ao nível
da escala, os diferentes níveis de conversão vão desde o nível da
exploração agrícola ou sistema produtivo, passando por uma dimensão
local, regional, nacional e finalmente mundial. Como se pode desde já
prever, a conversão do nosso sistema alimentar trata-se de um desafio de
enorme complexidade que lidará com factores "in situ", questões de
carácter local onde as variáveis são de enorme diversidade e tocando
igualmente questões de carácter socio-cultural a uma escala global em
que como se pode imaginar, a diversidade não tem fim.
Segundo a
FAO, é estimado que em 2050 seremos 9 biliões de pessoas neste mundo,
apresentando assim a população humana um crescimento de cerca de um
terço, durante o ano de 2009 e 2050. Contudo este crescimento não está a
ocorrer de forma uniforme em todas as zonas do globo, sendo que as
maiores taxas de crescimento se observam no continente africano, na zona
Sub-Sahariana, e no sudoeste asiático.
Existe naturalmente uma
preocupação crescente com esta realidade uma vez que as zonas de maior
crescimento populacional são igualmente as zonas menos desenvolvidas do
planeta. Zonas em que a realidade produtiva baseia-se em explorações
agrícolas de subsistência, cuja dimensão média das explorações é
inferior a 2 ha (97% das explorações agrícolas do mundo têm uma dimensão
inferior a 2 ha - Feeding the world with Agroecology TEDxEde 2014)
e nas quais a tomada de decisão é consideravelmente condicionada por um
défice de infra-estruturas, de tecnologia e por custos de factores de
produção que levam a que muitos desses sistemas se caracterizem por
baixos inputs. Assim sendo, uma alternativa global de futuro não poderá
passar por uma intensificação da produção à base de factores externos.
Um
fertilizante artificial que sai de Oslo a 1 US$, chega ao porto de
Roterdão a 1.5 US$, sendo comercializado na Europa a 2 US$, valor esse
que atinge uns 3.5US$ chegando à Somália e sendo comercializado na
Etiópia ou no Quénia a 5.5 ou 6 US$ (Wageningen University 2016).
Esta
realidade permite compreender como práticas que são sustentáveis em
determinados sistemas tornam-se absolutamente impraticáveis noutros
contextos, o que resulta numa complexidade infinita ao nível da tomada
de decisão por quem repensa a agricultura a uma escala global através de
políticas internacionais ou de modelos abrangentes.
Pois em
2030, 60% da população mundial estará em zonas onde os sistemas se
baseiam em baixos inputs e em que os modelos especializados e
industrializados não se aplicam. Em 2050, esta percentagem será de 70% e
será necessário desenvolver modelos capazes de garantir segurança
alimentar em tais zonas. Modelos em que serviços ecológicos desempenhem
um maior papel e em que a optimização do uso de recursos seja uma
prioridade, já que as condições de consumo de inputs são
significativamente diferentes.
O sistema alimentar mundial é uma
das questões de maior peso na agenda política do amanhã, estão em jogo
questões que ultrapassam a dimensão económica da produção pois o impacto
desta actividade tem efeitos a nível global na forma como as sociedades
estarão distribuídas no território, na forma como um banco de recursos
naturais que é finito será gerido, no modo como a nutrição humana será
assegurada e em que condições isto será possível.
Porque quando
se trata de segurança alimentar a questão não é exclusivamente quanto
produziremos mas sim quem terá acesso, como utilizaremos e com que
estabilidade essa mesma produção será alcançada. É interessante
compreender a diversidade existente e a complexidade de factores
condicionantes para que se entenda o desafio que uma reestruturação do
nosso sistema alimentar apresenta.
A Agroecologia alerta para a
sobre-exploração de recursos. Recursos que se têm vindo a usar a um
ritmo superior ao que o planeta consegue repor. Ao nível da Agricultura
existe uma preocupação crescente com o modo como recursos finitos são
geridos. A intensificação de sistemas tem resultado num uso ineficiente
de recursos. Ao nível dos nutrientes esta questão é bastante visível.
Com
uma globalização do sector verifica-se uma livre circulação de matérias
primas e consequentemente de nutrientes, cuja a reposição é assegurada
por composições artificiais de altos custos energéticos e
inevitavelmente ambientais. Esta migração desequilibrada de nutrientes
tem resultado em problemas como a concentração de nitratos e fosfatos em
alguns pontos do globo, levando à depleção nutritiva de solos em outras
zonas, por sua vez carentes de planos cuidados de fertilização.
Este é um ponto interessante abordado pelo livro Our nutrient world - The challenge to produce more food and energy with less pollution,
que nos permite redefinir os indicadores de sustentabilidade que muita
vezes utilizamos (porque orgânico ou biológico não significa
necessariamente sustentável: a sustentabilidade deve permitir a
durabilidade do uso economicamente viável de recursos, a longo prazo, e
são inúmeros os casos de sistemas de agricultura biológica em que
deficientes planos de fertilização estão a resultar em balanços de
nutrientes significativamente negativos ao nível da exploração).
O
sector animal industrializado e intensivo é sem dúvida uma questão do
amanhã, desde que os níveis de eutrofização no norte da Europa, na Índia
e na China têm atingido níveis significativos e desde que o próprio
sector é responsável pela emissão de gases com efeito estufa que terão
de ser controlados como bem ficou definido na cimeira de Paris.
No entanto, é importante compreender o papel essencial que é
desempenhado pela pecuária no equilíbrio de sistemas e principalmente
por parte dos ruminantes, capazes de converter fibra em energia e
proteína animal utilizável na alimentação humana. Ao nível do balanço
nutritivo dos sistemas do amanhã os animais serão uma peça chave e sua
integração é uma proposta clara da Agroecologia.
Sistemas
diversos em que o pastoreio animal ou a a combinação da produção vegetal
das explorações com a alimentação de gado confinado permitirá a
reutilização de resíduos orgânicos animais na fertilização de solos
aráveis são alternativas propostas e de grande interesse. Recentemente
têm surgido na Europa políticas ambientais que abordam estas questões.
Dentro
deste panorama a Dinamarca foi um dos primeiros países a atingir as
metas definidas em relação ao nível de nitratos permitido, através de
uma extensificação do seu sector animal. Na Holanda, existe já um plano
nacional de distribuição de estrumes que chegam mesmo a ser exportados.
No entanto, avaliar os sistemas do amanhã implica conhecer a variedade
existente e compreender que as necessidades se alteram muito
significativamente.
Essa é a grande dificuldade encontrada a
nível europeu pela políticas comuns que uns definem para solucionar os
seus problemas quando na verdade no sul da Europa o cenário é bem
diferente. Mas é possível beneficiar e promover sistemas de menor pegada
ecológica e sem duvida que dentro do sector animal isso passa por
sistemas mais extensivos (que não excedam a "carrying capacity" do
ecossistema).
No entanto, um sector animal mais extensivo e
capaz de assegurar a procura de carne crescente de uma população que
está não só a aumentar mas também a ganhar prosperidade e a ganhar poder
de compra (principalmente na Ásia, o que está a resultar numa alteração
de dietas e numa procura acrescida por produtos de origem animal),
exige outras preocupações ao nível do uso de recursos.
Tornar o
pastoreio uma maior fonte de carne no mundo implica que a fertilização
dos sistemas de pastagem seja melhorada e esse melhoramento, dentro dos
modelos em que é feito hoje em dia, está fortemente condicionado. O
fósforo, é seguramente uma das grandes questões dos sistemas agrícolas
do amanhã já que as suas reservas naturais foram estimadas numa
quantidade capaz de assegurar a procura existente por mais 40 anos.
Um
recurso que em 2050, será necessário anualmente em cerca de 24 Tg de
fertilizante (duplicando em relação ao valor actual) a fim de se evitar
uma perda de nutrientes dos sistemas de pastoreio no mundo e um declínio
das produtividades das nossas pastagens (S.Z Sattari., 2016). Um
melhoramento da fertilização de pastagens poderá depender de acordos
internacionais capazes de criar condições locais não só para um melhor
aproveitamento local de resíduos orgânicos como estrumes, como também
para uma maior capacidade de processamento e distribuição dos mesmos.
A
integração de animais em sistemas de pastoreio é uma proposta que
procura dar resposta a muitos dos problemas que têm surgido no sector
animal intensivo e de enorme potencialidade já que as pastagens
representam cerca de 2/3 da área global agrícola e existem mais de 3
biliões de ha de pastagem em todo o mundo que se encontram em condições
de sub-aproveitamento.
Outras duas questões centrais de uma
reestruturação do nosso sistema alimentar passam pelo uso de água e dos
solos. Existe mundialmente uma sobre-exploração de recursos hídricos
como resultado da intensificação industrial, da expansão de espaços
urbanos e do uso ineficiente por parte de variados sistemas agrícolas.
Em muitos países do mundo, a capacidade de desenvolvimento industrial e
agrícola encontra-se principalmente limitada pela disponibilidade deste
recurso.
Em contrapartida noutros sistemas, a fim de se
alcançarem metas produtivas este recurso é obtido de aquíferos
subterrâneos a um ritmo superior ao que naturalmente o ambiente tem
capacidade de repor (como se tem passado na Califórnia nos últimos anos
devido à seca que atravessam). De acordo com a FAO, a agricultura é
responsável globalmente pelo uso de 70% deste recurso.
Não
poderei portanto deixar de notar que existe assim a necessidade de se
apoiarem formas alternativas de armazenamento de água como é o caso de
barragens. Infra-estruturas capazes de não só gerar ecossistemas
funcionais (como resposta ao argumento tantas vezes apresentado por
ecologistas activistas) como outras actividades paralelas e fontes de
energia limpa.
A degradação edáfica é outra questão de impacto,
uma vez que anualmente entre cinco e sete milhões de hectares de terra
com valor agrícola são perdidos devido à degradação dos seus solos e
estima-se que cerca de 33% dos solos do nosso planeta encontram-se num
estado de elevada ou moderada degradação (FAO 2011). Apesar das várias
formas de degradação dos nossos solos, a erosão edáfica é
definitivamente a mais frequente.
Consequentemente, os futuros
sistemas agrícolas terão de ser igualmente sistemas conscientes na forma
como gerem este recurso, capazes de definir práticas de conservação
como a manutenção do solo coberto, o controlo de trânsito ao nível da
exploração, o uso de diferente maquinaria, de sementeiras directas, a
gestão integrada de infestantes em culturas perenes e outras como
sistemas de rega localizados e uma cuidada definição da carga animal em
sistemas de pastoreio.
A Agroecologia defende portanto que o
futuro dos nossos sistemas agrícolas passa muito por devolver-lhes o seu
lado mais natural, ganhando com isso equilíbrios e perdendo dependência
de inputs que não só representam custos para os agricultores como
também para o ambiente.
O Fundo Internacional de Desenvolvimento
Agrícola - IFAD tem defendido precisamente esta mesma visão prevendo
que a sustentabilidade não só ambiental mas também e principalmente
económica dos sistemas agrícolas do amanhã passará muito pela
optimização no uso de recursos, pela criação de modelos produtivos
capazes de gerarem ciclos internos de nutrientes resultando numa menor
dependência de mercados monopolistas por parte dos agricultores.
Existe
contudo a meu ver, igualmente espaço para soluções especializadas que a
Agroecología por sua vez pouco aborda, como o arroz transgénico não
apenas enquanto ferramenta para uma maior segurança alimentar na Africa
Sub-Sahariana mas também como uma alternativa eficaz na redução das
emissões de metano resultantes do seu cultivo (Nature 523 Jul 2015), ou
de culturas Bt inseridas em modelos de rotação e diversidade capazes de
reduzir inputs sem com isso resultar em resistências preocupantes.
No
entanto, a sustentabilidade do sector não pode ser alcançada sem que
toda a fileira sofra reestruturações. Não só ao nível da exploração
agrícola como também ao nível da industria e distribuição os processos
terão de procurar substituir as fontes industrializadas de energia por
fontes biológicas de energia. Os sistemas de futuro terão de ser capazes
de reavaliar a necessidade de tecnologia em alguns sistemas em que mais
pessoas possam estar inseridas na produção do que comemos e na gestão
da terra.
Funcionando assim como um catalisador da fixação de
populações em espaços rurais e numa distribuição demográfica mais
equilibrada. Nos E.U.A., desde 1920 o numero de explorações agrícolas
diminuiu de cerca de mais de 6.5 milhões para apenas 2 milhões, o que
resultou numa queda da percentagem de população que vive e trabalha em
explorações agrícolas para uns míseros 2%.
Ao nível do consumo,
também vão ocorrer alterações, porque nunca os alimentos foram tão
desvalorizados no mundo e nunca a alimentação custou tão pouco. Os
alimentos do amanhã serão mais caros e as alterações dos seus preços
serão proporcionais à pegada ecológica da sua produção.
O
consumo terá de ser igualmente educado, pois os níveis de consumo da
nossa sociedade não apresentam qualquer sustentabilidade e baseiam-se no
desperdício. A distância consumidor produtor terá igualmente de ser
trabalhada promovendo-se o consumo local. Considerando metas como as
definidas na cimeira de Paris, os sistemas serão neutros quanto ao
balanço de carbono, capazes de fixar a quantidade que libertarem.
Sistemas
multi-funcionais, capazes de beneficiar de serviços ecológicos e com um
grau reduzido de dependência de inputs externos serão cruciais para que
se alcancem tais metas, conferindo uma maior independência aos
produtores e tornando-se numa alternativa economicamente viável a
sistemas altamente produtivos mas igualmente afectados por flutuações ao
nível de mercados ou de outros factores externos.
Assim sendo,
não consigo deixar de encontrar oportunidades de futuro para a realidade
nacional. Considerando o equilíbrio ambiental e social que resulta de
sistemas de vocação definida como é o caso do montado, baseado na
diversificação de culturas/produtos em que a multi-funcionalidade do
sistema resulta num decréscimo de inputs e numa preservação não só de
uma das florestas mais importantes do mundo em questões de
biodiversidade e de fixação de carbono mas também num produto capaz de
levar a economia nacional a mercados externos e de enorme interesse.
A
integração de animais, a gestão de sistemas baseados num modelo
agro-florestal capaz de optimizar o uso de nutrientes e outros recursos,
capaz preservar recursos genéticos e serviços ecológicos. A capacidade
de fixação de carbono, a fixação de populações através da criação de
oportunidades profissionais locais aliada com a produção baseada na
qualidade que luta por nichos e não por oceanos de consumo, em que se
podem discutir preços com outra liberdade são pontos claros do ganho
existente na aposta de sistemas como o montado.
Vejo muitos dos
conceitos da Agroecología aplicados em sistemas tão nossos como é o caso
do montado. Acredito portanto que, se estes modelos forem beneficiados e
apoiados em políticas futuras, com consciência e noção prática das
exigências reais dos sistemas, muitas oportunidades surgirão para os
nossos agricultores.
* Engenheiro agronómico e mestrando em Plant Sciences na Universidade de Wageningen, Holanda
IN "SÁBADO"
03/07/16
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