A indignação do PSD
e a Constituição
1. «O
PSD manifestou-se esta quinta-feira “indignado” por o presidente da
Assembleia da República recusar a admissão da deliberação PSD/CDS-PP
para auditorias externas à CGD e Banif».
Ora, perante tal “indignação”, importa começar por perceber quais os
motivos invocados pelo Presidente da Assembleia da República para
recusar o dito requerimento de auditorias externas. E esses motivos
foram a «ilegalidade regimental e a inconstitucionalidade do projeto de
deliberação do PSD e CDS-PP». Ou seja, Ferro Rodrigues atuou para
defender a Constituição.
Talvez assim se compreenda melhor a “indignação” do PSD. É que este
partido não morre de amores pela Constituição: na anterior legislatura
violou-a inúmeras vezes e agora, aparentemente, indigna-se quando alguém
a procura defender.
Não fora esta sanha contra a nossa Lei Fundamental e o PSD facilmente
reconheceria que proteger o Parlamento de inconstitucionalidades é
proteger a minoria parlamentar e não a maioria; em suma, é defender a
Democracia.
2. «Interrogado
sobre a possibilidade de o PSD e CDS-PP recorrerem para votação em
plenário da decisão de Ferro Rodrigues, Carlos Abreu Amorim referiu que
os sociais-democratas estão neste momento “a considerar outras medidas
referentes a esta situação”».
Desconhece-se que medidas serão essas. Mas a verdade é que:
– Nem o CDS deu qualquer fôlego ou eco à “indignação” do PSD;
– Nem sequer o próprio PSD recorreu da
decisão de Ferro Rodrigues para o plenário, abstendo-se assim de exigir
uma votação sobre o assunto. Tudo indica, pois, que a tal “indignação”
foi sol de pouca dura. Deu-lhes forte, mas passou rápido.
3. É caso para dizer que a direita meteu a viola no saco. Mas Carlos Abreu Amorim não! Recorreu, então, ao único meio que lhe restava – o Facebook – para desabafar que «começa
a não haver esperança na redenção de uma presidência da AR que está a
contradizer a lógica da imparcialidade que matizou todas as anteriores
com um à vontade democraticamente preocupante».
Sucede que o requerimento em questão estava chumbado à partida. A
esquerda parlamentar já tinha avisado que votaria contra. Assim, e ao
contrário do insinuado pelo Deputado do PSD, a atuação de Ferro
Rodrigues não se destinou a fazer qualquer frete político à geringonça.
Destinou-se, sim, a salvaguardar um valor que o PSD parece desprezar: o
respeito pela Constituição.
Sendo que, como dissemos antes, ao não admitir requerimentos
inconstitucionais o Presidente da Assembleia da República está
objetivamente a defender os direitos da minoria parlamentar, não da
maioria.
De resto, tendo sido invocada a imparcialidade das anteriores
presidências da AR, ficamos na dúvida a que se referiria exatamente
Carlos Abreu Amorim. Estaria a pensar no célebre episódio em que
Assunção Esteves “safou” Passos Coelho de ter que responder em comissão
parlamentar pela atuação das secretas, alegando que tal «induziria uma situação de stress de controlo político pelo Parlamento»?
IN "GERINGONÇA"
02/07/16
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