03/07/2016

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ESTA SEMANA NO 
"DINHEIRO VIVO"

Como será a nossa vida 
quando vivermos até aos 100

50% dos bebés nascidos nos Estados Unidos em 2007 têm uma esperança de vida de 104 anos ou mais. E o mesmo se passa em vários países da Europa.

Existem atualmente nos Estados Unidos 72 mil centenários. Pelo mundo todo, serão cerca de 450 mil. Se a tendência se mantiver, em 2050 haverá mais de 1 milhão, só nos Estados Unidos. 
De acordo com os trabalhos da equipa do demógrafo James Vaupel, 50% dos bebés nascidos nos Estados Unidos em 2007 têm uma esperança de vida de 104 anos ou mais. A situação é semelhante no Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Canadá; no Japão, espera-se que 50% dos bebés de 2007 vivam até aos 107 anos.

É natural a preocupação com o que isto significa para as finanças públicas, devido aos custos associados de cuidados de saúde e pensões. São desafios reais e a sociedade precisa urgentemente de lidar com eles. 
Mas também é importante analisar num contexto mais vasto o que acontecerá se tantas pessoas viverem até aos 100 anos. É um erro limitarmo-nos a equacionar a longevidade com os problemas da idade avançada. Vidas mais longas têm implicações de outras ordens.

A nossa perspetiva é a de que, se muitas pessoas viverem e forem saudáveis durante mais tempo, isto resultará inevitavelmente numa redefinição do trabalho. Quando a vida das pessoas se prolonga, elas não são apenas velhas durante mais tempo, são também jovens durante mais tempo. 
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MANOEL DE OLIVEIRA

Há alguma verdade nos clichés “os 70 são os novos 60” ou “os 40 são os novos 30”. Se envelhecermos mais devagar durante um período de tempo mais longo, num certo sentido somos jovens por mais tempo. 
 Mas as mudanças vão mais longe. Consideremos, por exemplo, a idade em que as pessoas assumem certos compromissos, como comprar casa, casar, ter filhos ou iniciar uma carreira. Todos estes acontecem agora mais tardiamente. Em 1962, 50% dos americanos estavam casados aos 21 anos. Em 2014 isso acontecia aos 29. 
Embora haja numerosos fatores por trás dessas mudanças, um deles é sem dúvida a noção dos jovens de que viverão mais tempo. As opções são tanto mais valiosas quanto mais tempo puderem ser mantidas. 
Assim, se acreditarmos que viveremos mais tempo, as opções tornam-se mais valiosas e é menos atrativo assumir compromissos muito cedo. O resultado é que os compromissos que antes caracterizavam a entrada na idade adulta estão agora a ser adiados, enquanto emergem novos padrões de comportamento e uma nova etapa na vida para quem está na casa dos 20 anos.

A longevidade também adia a idade da reforma, e não apenas por razões financeiras. É verdade que, a menos que as pessoas estejam preparadas para poupar muito mais, os nossos cálculos sugerem que, quem está a agora pelos 45 anos, trabalhará provavelmente até ao princípio dos 70 e quem acabou de entrar nos 20 poderá muito bem continuar a trabalhar até aos 80. Mas, mesmo que as pessoas possam suportar economicamente uma reforma aos 65, um período de mais de 30 anos de potencial inatividade é danoso para a vitalidade emocional e cognitiva. Muita gente preferirá, simplesmente, não o fazer. 
Contudo, isso não significa que seja apelativo prolongarmos as nossas carreiras. O prolongamento dessa segunda etapa de trabalho a tempo inteiro pode garantir as necessidades financeiras para uma vida de 100 anos, mas o trabalho contínuo esgotará preciosos bens intangíveis, como a produtividade, a vitalidade, a felicidade e as relações de amizade. 
 O mesmo é verdade para a educação. É impossível que uma simples etapa educativa, administrada na infância e juventude, seja capaz de sustentar uma carreira de 60 anos. Se considerarmos as taxas projetadas de mudança tecnológica, é muito provável que as capacidades de muitas pessoas se tornem redundantes ou que os seus sectores de atividade se tornem obsoletos. Isso significa que toda a gente terá, a certa altura da vida, de fazer uma série de reinvestimentos importantes nas suas aptidões.

Parece, assim, provável que as tradicionais três etapas da vida se transformem em múltiplas etapas, contendo duas, três ou mais carreiras diferentes. Cada uma destas etapas pode ser potencialmente diferente. Numa delas, podemos concentrar-nos em acumular sucesso financeiro e realização pessoal, noutra em criar um melhor equilíbrio vida/trabalho, e noutra ainda podemos explorar e compreender mais profundamente as opções, tornarmo-nos produtores independentes ou dar o nosso contributo à sociedade. Estas etapas englobarão diferentes sectores, levarão as pessoas a cidades diferentes e servirão de base à construção de uma variedade de talentos. 
As transições entre etapas poderão ser pontuadas por períodos sabáticos, em que as pessoas arranjam tempo para descansar e melhorar a saúde, e reinvestirão nas suas relações ou no aperfeiçoamento de capacidades. Por vezes, estes intervalos e transições serão determinados pelo indivíduo, outras vezes serão forçados, quando determinadas funções, empresas ou sectores se tornarem obsoletos.

Uma vida com múltiplas etapas implicará mudanças profundas, não apenas na maneira como as pessoas gerem as suas carreiras mas também na sua abordagem da vida. Uma capacidade cada vez mais importante será a de lidar com a mudança e até desejá-la. Uma vida em três etapas terá poucas transições; numa vida com múltiplas etapas, as transições serão muitas. É por isso que ter consciência de si mesmo, investir em redes mais vastas de amigos e estar aberto a novas ideias serão capacidades cada vez mais importantes. 
Estas vidas em muitas etapas criarão uma variedade extraordinária através de grupos demográficos, simplesmente por haver tantas maneiras de realizar a sequência das etapas. Mais etapas significam mais sequências possíveis. 
 Com esta variedade, terminará a associação próxima entre idade e etapa. Numa vida de três etapas, as pessoas saem da universidade ao mesmo tempo e com a mesma idade, iniciam carreiras e famílias com a mesma idade, ocupam posições de gestão intermédia mais ou menos ao mesmo tempo e reformam-se com poucos anos de diferença umas das outras. Numa vida com muitas etapas, pode-se concluir uma licenciatura aos 20, 40 ou 60; ser gestor aos 30, 50 ou 70 e ser trabalhador independente em qualquer idade. 

Quando a idade já não é o fator determinante da etapa, o trabalho dos gestores e responsáveis de recursos humanos muda. E, mais importante, pessoas de diferentes gerações interagem de maneira diferente umas com as outras. Embarcando em atividades partilhadas, pessoas de idades diferentes compreendem-se mais facilmente. Isso aumenta a possibilidade, por exemplo, de as pessoas se manterem “jovens” à medida que envelhecem.

* Mantemos a secreta esperança  de viver até aos 150 para desfrutar do prazer de ver alguns vigaristas e políticos portugueses estrebuchar, somos muita maus!

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