ESTA SEMANA NO
"DINHEIRO VIVO"
"DINHEIRO VIVO"
Como será a nossa vida
quando vivermos até aos 100
50% dos bebés nascidos nos Estados Unidos
em 2007 têm uma esperança de vida de 104 anos ou mais. E o mesmo se
passa em vários países da Europa.
Existem atualmente nos Estados Unidos 72
mil centenários. Pelo mundo todo, serão cerca de 450 mil. Se a tendência
se mantiver, em 2050 haverá mais de 1 milhão, só nos Estados Unidos.
De acordo com os trabalhos da equipa do demógrafo James Vaupel, 50% dos
bebés nascidos nos Estados Unidos em 2007 têm uma esperança de vida de
104 anos ou mais. A situação é semelhante no Reino Unido, Alemanha,
França, Itália e Canadá; no Japão, espera-se que 50% dos bebés de 2007
vivam até aos 107 anos.
É natural a preocupação com o que isto
significa para as finanças públicas, devido aos custos associados de
cuidados de saúde e pensões. São desafios reais e a sociedade precisa
urgentemente de lidar com eles.
Mas também é importante analisar num contexto mais vasto o que
acontecerá se tantas pessoas viverem até aos 100 anos. É um erro
limitarmo-nos a equacionar a longevidade com os problemas da idade
avançada. Vidas mais longas têm implicações de outras ordens.
A nossa perspetiva é a de que, se muitas
pessoas viverem e forem saudáveis durante mais tempo, isto resultará
inevitavelmente numa redefinição do trabalho. Quando a vida das pessoas
se prolonga, elas não são apenas velhas durante mais tempo, são também
jovens durante mais tempo.
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MANOEL DE OLIVEIRA
Há alguma verdade nos clichés “os 70 são os
novos 60” ou “os 40 são os novos 30”. Se envelhecermos mais devagar
durante um período de tempo mais longo, num certo sentido somos jovens
por mais tempo.
Mas as mudanças vão mais longe. Consideremos, por exemplo, a idade em
que as pessoas assumem certos compromissos, como comprar casa, casar,
ter filhos ou iniciar uma carreira. Todos estes acontecem agora mais
tardiamente. Em 1962, 50% dos americanos estavam casados aos 21 anos. Em
2014 isso acontecia aos 29.
Embora haja numerosos fatores por trás dessas mudanças, um deles é sem
dúvida a noção dos jovens de que viverão mais tempo. As opções são tanto
mais valiosas quanto mais tempo puderem ser mantidas.
Assim, se acreditarmos que viveremos mais tempo, as opções tornam-se
mais valiosas e é menos atrativo assumir compromissos muito cedo. O
resultado é que os compromissos que antes caracterizavam a entrada na
idade adulta estão agora a ser adiados, enquanto emergem novos padrões
de comportamento e uma nova etapa na vida para quem está na casa dos 20
anos.
A longevidade também adia a idade da
reforma, e não apenas por razões financeiras. É verdade que, a menos que
as pessoas estejam preparadas para poupar muito mais, os nossos
cálculos sugerem que, quem está a agora pelos 45 anos, trabalhará
provavelmente até ao princípio dos 70 e quem acabou de entrar nos 20
poderá muito bem continuar a trabalhar até aos 80. Mas, mesmo que as
pessoas possam suportar economicamente uma reforma aos 65, um período de
mais de 30 anos de potencial inatividade é danoso para a vitalidade
emocional e cognitiva. Muita gente preferirá, simplesmente, não o fazer.
Contudo, isso não significa que seja
apelativo prolongarmos as nossas carreiras. O prolongamento dessa
segunda etapa de trabalho a tempo inteiro pode garantir as necessidades
financeiras para uma vida de 100 anos, mas o trabalho contínuo esgotará
preciosos bens intangíveis, como a produtividade, a vitalidade, a
felicidade e as relações de amizade.
O mesmo é verdade para a educação. É impossível que uma simples etapa
educativa, administrada na infância e juventude, seja capaz de sustentar
uma carreira de 60 anos. Se considerarmos as taxas projetadas de
mudança tecnológica, é muito provável que as capacidades de muitas
pessoas se tornem redundantes ou que os seus sectores de atividade se
tornem obsoletos. Isso significa que toda a gente terá, a certa altura
da vida, de fazer uma série de reinvestimentos importantes nas suas
aptidões.
Parece, assim, provável que as tradicionais
três etapas da vida se transformem em múltiplas etapas, contendo duas,
três ou mais carreiras diferentes. Cada uma destas etapas pode ser
potencialmente diferente. Numa delas, podemos concentrar-nos em acumular
sucesso financeiro e realização pessoal, noutra em criar um melhor
equilíbrio vida/trabalho, e noutra ainda podemos explorar e compreender
mais profundamente as opções, tornarmo-nos produtores independentes ou
dar o nosso contributo à sociedade. Estas etapas englobarão diferentes
sectores, levarão as pessoas a cidades diferentes e servirão de base à
construção de uma variedade de talentos.
As transições entre etapas poderão ser pontuadas por períodos sabáticos,
em que as pessoas arranjam tempo para descansar e melhorar a saúde, e
reinvestirão nas suas relações ou no aperfeiçoamento de capacidades. Por
vezes, estes intervalos e transições serão determinados pelo indivíduo,
outras vezes serão forçados, quando determinadas funções, empresas ou
sectores se tornarem obsoletos.
Uma vida com múltiplas etapas implicará
mudanças profundas, não apenas na maneira como as pessoas gerem as suas
carreiras mas também na sua abordagem da vida. Uma capacidade cada vez
mais importante será a de lidar com a mudança e até desejá-la. Uma vida
em três etapas terá poucas transições; numa vida com múltiplas etapas,
as transições serão muitas. É por isso que ter consciência de si mesmo,
investir em redes mais vastas de amigos e estar aberto a novas ideias
serão capacidades cada vez mais importantes.
Estas vidas em muitas etapas criarão uma variedade extraordinária
através de grupos demográficos, simplesmente por haver tantas maneiras
de realizar a sequência das etapas. Mais etapas significam mais
sequências possíveis.
Com esta variedade, terminará a associação próxima entre idade e etapa.
Numa vida de três etapas, as pessoas saem da universidade ao mesmo tempo
e com a mesma idade, iniciam carreiras e famílias com a mesma idade,
ocupam posições de gestão intermédia mais ou menos ao mesmo tempo e
reformam-se com poucos anos de diferença umas das outras. Numa vida com
muitas etapas, pode-se concluir uma licenciatura aos 20, 40 ou 60; ser
gestor aos 30, 50 ou 70 e ser trabalhador independente em qualquer
idade.
Quando a idade já não é o fator determinante da etapa, o trabalho dos gestores e responsáveis de recursos humanos muda. E, mais importante, pessoas de diferentes gerações interagem de maneira diferente umas com as outras. Embarcando em atividades partilhadas, pessoas de idades diferentes compreendem-se mais facilmente. Isso aumenta a possibilidade, por exemplo, de as pessoas se manterem “jovens” à medida que envelhecem.
* Mantemos a secreta esperança de viver até aos 150 para desfrutar do prazer de ver alguns vigaristas e políticos portugueses estrebuchar, somos muita maus!
Quando a idade já não é o fator determinante da etapa, o trabalho dos gestores e responsáveis de recursos humanos muda. E, mais importante, pessoas de diferentes gerações interagem de maneira diferente umas com as outras. Embarcando em atividades partilhadas, pessoas de idades diferentes compreendem-se mais facilmente. Isso aumenta a possibilidade, por exemplo, de as pessoas se manterem “jovens” à medida que envelhecem.
* Mantemos a secreta esperança de viver até aos 150 para desfrutar do prazer de ver alguns vigaristas e políticos portugueses estrebuchar, somos muita maus!
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