A União Europeia:
resgatar a nossa melhor criação
Ser europeísta tem
significado. É ser democrata, tolerante face às diferenças e um defensor
intransigente da convergência económica e social. Na linha da frente do
combate por uma Europa para todos.
A
Europa viveu sempre em guerra. A paz dos vencedores sempre gerou novos
conflitos. Ao reler Keynes, e as suas críticas ao resultado das
negociações pós-Tratado de Versalhes, percebe-se como o esbulho dos
vencedores pode alimentar rancores, ódios e desconfiança que na pobreza
encontram o lastro único para proliferar. A CECA, a CEE e a União
Europeia foram criações numa nova arquitetura política do pós-guerra,
onde a vida - a experiência de vida - mostrou que o caminho se faz de
partilha, convergência e segurança comum. Que o conhecimento e a
interação castram os preconceitos e que o desenvolvimento alimenta a
harmonia e a paz.
Hoje, perante a globalização das comunicações e das trocas, a Europa
continua a ser o espaço político onde mais se defende o direito do
trabalho, da participação cívica e política, da defesa do ambiente e da
sustentabilidade. A força política das sociedades civis da União
Europeia continua a ser o motor de melhor legislação e de um escrutínio
democrático único no globo. Não encontramos outra sociedade no mundo
onde um tratado de investimento e comércio, como é o caso do TTIP, seja
tão escrutinado ou mesmo questionado como na União Europeia.
A União Europeia é a melhor criação que a política alguma vez
concretizou na Europa. A União Europeia é um património político único.
Tem a genética certa: paz e tolerância em democracia. Querer abandonar
não resolve problemas. Cria mais problemas, reacende velhas
questiúnculas autárquicas e faz do preconceito um alimentador da
demagogia. Quem combateu a União Europeia nunca - sublinho nunca -
esteve do lado certo da democracia e da prosperidade dos povos europeus.
Quem esteve contra a União Europeia combateu sempre o socialismo
democrático e a democracia-cristã. Foi isso que sempre combateu a
extrema-direita nacionalista, tradicionalista, conservadora e fascista; e
foi isso que sempre combateu a extrema-esquerda antissistema,
anticapitalista e antiglobalização.
Ser europeísta tem significado. É ser democrata, tolerante face às
diferenças e um defensor intransigente da convergência económica e
social. Na linha da frente do combate por uma Europa para todos.
Mas ser europeísta hoje não é ser, ao mesmo tempo, acrítico face às
iniciativas políticas que geram divergência, que alimentam preconceitos,
e aplicam "castigos moralizadores" aos países do Sul, dando voz e
secundando, por mero interesse de circunstância, os argumentos mais
xenófobos e etnocêntricos. Cameron quis ganhar eleições, não combateu os
argumentos anti-Europa, e ofereceu a "cabeça" da participação no
projeto europeu numa "bandeja". Não é caso único.
No PPE - Partido Popular Europeu, dos outrora democratas-cristãos -
surgem antieuropeístas, xenófobos, com discursos capturados por
argumentos de extrema-direita, que há 20 anos estavam nas margens da
sociedade não representada nos parlamentos. E o S&D, o grupo
socialista, vive uma rutura profunda por não conseguir que a sua agenda
seja vencedora encostando-se ora mais à direita, ora mais esquerda; mas
quase sempre "colonizado" ideologicamente e sem iniciativa própria. É
urgente regressar à política europeia para os europeus. É preciso
resgatar a nossa agenda - dos socialistas e democratas-cristãos - da
economia social de mercado. É agora ou (talvez) nunca.
Deputado do Partido Socialista
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
29/06/16
.
Sem comentários:
Enviar um comentário