05/06/2016

VITOR NORINHA

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No país, 
é tudo uma falácia

Os números do crescimento do PIB dados pelo FMI e OCDE desta semana revelam que a economia não está a correr nada bem, conclui o diretor do OJE, Vítor Norinha.

É tudo uma falácia mas ninguém se importa. Num país onde o partido que Governa, o PS, estará provavelmente mais à esquerda que o seu eleitorado, ou o maior partido da oposição, o PSD estará, como neoliberal, mais à direita do que aquilo que é a militância de base de cariz social-democrata, vale tudo.

Mas, tal como alguns detergentes (e passe a publicidade) diziam que não enganavam, os números também não enganam e, efetivamente, as projeções – que são projeções e não realidades – não costumam ficar muito longe da verdade. E os números do crescimento do Produto Interno que já tinham sido dados pelo FMI e os da OCDE desta semana contêm uma mensagem clara: a economia não está a correr nada bem.

E a agravar o drama está a falácia em que todos estamos a cair. Assobiamos para o lado e todas as forças tendem a esconder a dura realidade porque – parece – a verdade desanima e, por isso, vão-se mantendo as hostes desinformadas ou erradamente informadas. Duplamente grave é ainda o facto dos partidos mais à esquerda serem os grandes defensores das políticas de António Costa, do PSD ir mitigando a linguagem, e lembremos as declarações do presidente do partido, que diz esperar que este Governo mude a política económica! Com que apoios parlamentares se movimenta, perguntamos nós. Alguém acredita que seja possível mudar. E ainda as mais recentes declarações do PR Marcelo Rebelo de Sousa, que deixou antecipar o próximo orçamento retificativo, como se isso fosse algo banal. Aliás, para quem está um pouco fora da situação, até parece que este Governo tem um score positivo relativamente aos anteriores, porque todos apresentaram retificativos e ainda não o fez e, por isso, ganhou alguns pontos (está na moda o tema dos pontos e das cartas).

Marcelo, aliás, deixou bem claro que faz o discurso para fora do país e o Governo fá-lo para dentro. São dois linguajares do mesmo país e feitos por personalidades com uma matriz ideológica bem diferente mas que, no fundo, estão juntos no percurso.

Entretanto, há mudanças de fundo em termos ideológicos, com as decisões mais mediáticas, mas os temas de fundo para o país vão sendo empurrados. Os estivadores fecharam uma paz podre com os operadores; os contratos de associação esfarraparam a sociedade portuguesa e o setor bancário está um barril de pólvora. Fala-se em duas mil rescisões na Caixa, mais mil no BPI, para além dos mil no Novo Banco. E o investimento na economia está a cair como nunca. Estamos mal.

IN "OJE"
03/06/16

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