Sonangol: O Partido da
Monarquia Dos Santos
Isabel dos Santos foi a raposa nomeada para cuidar do galinheiro que é a Sonangol. Vão-se as galinhas, vão-se os ovos, e ficam as penas e as cascas. Isabel dos Santos adora ovos.
Texto originalmente publicado no Maka Angola.
Isabel dos Santos é presidente do Conselho de Administração da
Sonangol. Muito pródiga, a filha do presidente. Está, justamente, a
caminho da presidência. Depois da Sonangol, estagiará alguns meses como
ministra, e pronto: sucede ao pai na monarquia em que Angola tem vindo a
ser transformada pelo clã Dos Santos.
Isabel dos Santos foi a raposa nomeada para cuidar do galinheiro que é
a Sonangol. Vão-se as galinhas, vão-se os ovos, e ficam as penas e as
cascas. Isabel dos Santos adora ovos. Aliás, começou a sua carreira
empresarial a vender ovos. Agora já não precisa de pedir empréstimos à
Sonangol, de pedir para pagar as suas contas e receber acções como
oferta, por exemplo, as da GALP, que usa para ser a mulher mais rica de
África. Isabel dos Santos já não precisa assaltar o galinheiro, porque
se tornou dona do galinheiro.
José Eduardo dos Santos é um bom pai. É tirano e ladrão para o povo,
mas é um bom pai. Angola é para os seus filhos. O que é de Angola é para
os seus filhos. O que sobrar é para o MPLA e para os filhos dos tipos
do MPLA. Sim, são tipos. Apenas celebram a corrupção, o poder da
repressão. O MPLA é hoje apenas uma comissão de oportunistas ao serviço
da família Dos Santos. O povo é o estrume que usam para fertilizar os
seus esquemas de enriquecimento ilícito, de estatuto social, de esquemas
mil. O MPLA é o partido que sustenta as raposas. Ou seja, o MPLA é um
partido que apenas serve para atirar areia aos olhos do povo, para pedir
o seu voto e para cafricar o povo quando este se manifesta descontente.
Anos atrás, um colega sul-africano, tendo tomado contacto com a
realidade do interior de Angola, perguntou-me por que é que o país, com
tantos recursos naturais e tanto potencial humano e de investimento
estrangeiro, era tão mal gerido e tinha uma população tão pobre.
Perguntou-me por que razão os dirigentes não faziam o mínimo esforço
pela população.
Respondi com o seguinte exemplo:
Um grupo de bandidos torna-se bastante bem-sucedido em assaltar
sempre o mesmo banco durante muitos anos. Os accionistas do banco
decidem, para pôr cobro aos assaltos, nomear o líder do gangue como
gestor do banco. Perguntei ao colega quais eram as probabilidades de o
líder do gangue gerir bem o dinheiro dos clientes que toda a vida
roubara. Entregar a gestão permanente do cofre aos ladrões seria uma
solução funcional para se acabar com os roubos? Qual seria a motivação
dos ladrões para deixarem de roubar e empreenderem uma boa gestão?
É isto que acontece actualmente: o presidente é ladrão e nomeia a sua
filha ladra para gerir o maior cofre de Angola, a Sonangol. E nós, o
povo, somos obrigados a acreditar que é para o bem da Sonangol, de
Angola e dos angolanos. Mas ninguém acredita. Ainda assim, já há quem se
prepare para enviar o currículo a Isabel dos Santos, procurando uma
oportunidade de emprego e/ou de negócios. É a Sonangol que conferirá
poder político a Isabel. O pai, José Eduardo dos Santos, colocou-a ali
para esse efeito. A Sonangol, ou melhor, o controlo das receitas
produzidas com a venda de petróleo, é o verdadeiro poder do presidente,
que este agora transfere para a filha.
Angola passou efectivamente a ser uma monarquia, e o verdadeiro
partido no poder é a Sonangol. O MPLA é apenas um símbolo, a história de
que a família Dos Santos precisa para legitimar a monarquia que
entretanto instituiu.
Como prova, o presidente praticamente ofereceu o segundo canal da TPA
aos filhos José Paulino “Coréon Dú” e Welwitchia “Tchizé” dos Santos.
Houve algum burburinho, é certo, mas passou depressa.
Tchizé foi para o parlamento, como deputada, cargo que acumulava com as
funções de direcção na TPA. Falou-se disso, mas passou depressa. A
primeira-dama também foi “eleita” deputada, mas suspendeu o mandato.
Veio então a grande nomeação. O presidente colocou o seu filho
Filomeno José dos Santos a presidir o Fundo Soberano de Angola.
Calaram-se as vozes. Os dirigentes do MPLA ficam à espera de
oportunidades também para os seus filhos: estão unidos pelos votos da
corrupção e do nepotismo. Os da oposição e os jovens como José Hata,
Nelson Dibango ou Fernando Tomás (do Processo dos 17) levam porrada se
refilarem.
Os filhos do povo vão para a cadeia se criticarem José Eduardo dos
Santos. Os filhos do ditador têm direito a apossar-se do país. Esta é a
realidade.
Qual é então a solução?
A solução é clara. José Eduardo dos Santos tem de ser pressionado a
devolver o poder ao povo angolano. A sua família tem de largar o poder
juntamente com JES. Mas remover apenas o líder é somente o início de um
processo complexo.
O modelo de gestão corrupta e venal de José Eduardo dos Santos
congrega um extraordinário apoio no seio do MPLA e da sociedade. É um
modelo de vida fácil, de lotaria, de esquemas a que muitos angolanos se
foram habituando e que os beneficiários e aspirantes a beneficiários
querem manter.
Esse é o problema maior. Como mudar as consciências dos militantes do
MPLA que se habituaram a apoiar o seu líder em troca de comida, de
emprego, de estatuto social? Como convencer os militantes do MPLA, a
força de choque de José Eduardo dos Santos, que há muito se perderam no
caminho que os deveria conduzir à defesa dos interesses da pátria, da
cidadania e de uma Angola melhor para todos? Como convencê-los de que
continuam a viver no mundo da propaganda da TPA, da RNA, do Jornal de
Angola, enquanto a maioria deles também vive no meio do lixo, com um
sistema de saúde desumano e uma educação que aliena os seus filhos?
A culpa principal do estabelecimento da monarquia em Angola é do
MPLA, dos seus militantes que protegem os abusos do presidente. A
discussão começa aqui.
IN "OBSERVADOR"
06/06/16
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