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IN "SÁBADO"
19/06/16
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Todas as manhãs
Os versos são de Assis Pacheco e podiam figurar no desktop de
muita gente distribuída pelos bairros. Falava do assunto com uma amiga,
escritora e jornalista com muitos kms de talento e trabalho. Há
demasiados poetas azedos em Portugal – e aqui "poeta" é um modo de
dizer, substituível por "funcionário público", "jornalista", "médico" ou
"actor". A minha amiga perguntou, com uma limonada à frente: como é que
se dá a volta a isto?
A resposta é das mais difíceis do mercado
das descobertas – até porque, como disse a editora Maria do Rosário
Pedreira numa entrevista à revista Ler, "Portugal é muito
pequenino e detesta o sucesso alheio". Que é como quem diz: Portugal é
dado ao azedume pela sua pequenez física e, também em consequência
disso, convivial.
Essa minha amiga, que já viveu longe destas
acres destilarias, propõe que aplaudamos mais e mimemos com outra
generosidade, em vez de exercermos a nossa vocação de espalhar a acidez
pelos outros como os ardinas distribuíam os jornais pela manhã. Tem
razão ela, tem. E para isso importa conversarmos connosco próprios,
diante do espelho, todas as manhãs. Como fez, com o seu jeito para o
verbo autocrítico, sem moles complacências, um tal Fernando Assis
Pacheco.
IN "SÁBADO"
19/06/16
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