HOJE NO
"OBSERVADOR"
IVA é “sentença de morte”
para terapias não convencionais
Terapias não convencionais estavam isentas de IVA mas as clínicas vão ter agora de pagar 23% do imposto pelos últimos 4 anos. Pedro Choy fala em centenas de despedimentos e fecho de clínicas.
Os profissionais de Terapêuticas Não Convencionais (TNC), como a
osteopatia, a acupuntura e a naturopatia, queixam-se de “ilegalidade” e
“discriminação” por serem agora obrigados a pagar o IVA dos últimos
quatro anos, quando todas as outras especialidades de medicina estão
isentas de pagar este imposto. O assunto já chegou aos deputados do
Parlamento e será amanhã discutido com o secretário de Estado dos
Assuntos Fiscais.
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Em causa está o enquadramento fiscal destas
terapias. A maioria dos profissionais está coletada como “outros
técnicos paramédicos”, regime que lhes dá isenção de IVA, pelo artigo
9º. Mas a situação mudou no ano passado, quando a Autoridade Tributária
fez sair um ofício que anulou essa regulamentação e equiparou estes
profissionais a “paramédicos”, fazendo com que afinal tenham de pagar
23% de IVA. Mais: segundo esse despacho da Direção de Finanças de 2015,
as clínicas têm agora de pagar esse imposto sobre a faturação total dos últimos quatro anos,
porque o IVA retroativo prescreve a cada quatro anos. O despacho é de
agosto do ano passado e, na altura, ainda estava em funções o governo de
coligação PSD/CDS-PP.
As clínicas que operam na chamada medicina não convencional
foram assim notificadas para o pagamento do imposto pelos anos
anteriores, imposto esse que nunca cobraram aos pacientes. “Ora, uma empresa ou um profissional que não cobrou esse imposto, com certeza que não o tem para devolver ao Estado.
O que estamos a atravessar é uma autêntica barbaridade fiscal. Um
confisco inqualificável que irá levar à falência várias empresas”,
aponta Cátia Antunes, diretora da clínica Da Vinci, uma das lesadas.
A responsável já fez as contas e o valor total dos quatro anos que terá a pagar corresponde a meio milhão de euros.
Para a diretora clínica da Da Vinci, esta situação é “injusta” e
“ilegal” visto que estas formas de medicina foram regulamentadas como
profissões de saúde e “todas elas estão isentas de IVA, desde a medicina à psicologia”, explica.
“Temos
todas as obrigações que tem a medicina convencional: estamos inscritos
na Entidade Reguladora da Saúde, como qualquer clínica, submetemos as
nossas candidaturas à Administração Central da Saúde e nessa lei de 2015
foi-nos dada autonomia no diagnóstico e na terapêutica — não estamos
sob a alçada de nenhum outro médico”, sublinha. Ou seja, para a
responsável, é uma questão de terem os mesmos deveres mas não os mesmos
direitos.
Pagar 23% de IVA na osteopatia e não pagar na fisioterapia não é justo. O cidadão é livre de escolher a medicina com que se quer tratar. E é obvio que esse acrescento vai condicionar a escolha. Se eu vou pagar mais numa, escolho a outra. Como se a saúde fosse um bem de luxo”, refere Cátia Antunes.
Pedro Choy: “Isto é uma sentença de morte”
Um dos empresários mais reconhecidos no ramo da acupuntura é Pedro
Choy. A trabalhar na área desde 1987, o dono de 20 clínicas aponta
efeitos devastadores para o negócio, mas também para os funcionários e
para os pacientes. Tudo começa pela própria taxa que, no seu entender, é
abusiva. “Cobram-nos 23%, como se fosse um produto de luxo. Isto é medicina, é saúde”, destaca.
Feitas
as contas, se a cobrança for para a frente, o valor pago por Pedro Choy
“corresponde a 147% da faturação”, visto que aos 23% pelos quatro anos
ainda acrescem juros, dita a Autoridade Tributária. “Esses valores
correspondem a 70 anos da totalidade do lucro da empresa. Vou ter que
pagar muito mais do que o que ganhei a vida toda. E vou ter de pagar por
ter trabalhado”, refere. Se assim for, Pedro Choy garante que vai ter
de mandar “400 pessoas para o desemprego”.
A acupuntura e as terapias não convencionais são profissões de saúde. Estão regulamentadas. Não pode haver essa desigualdade de coletar a uns e não coletar a outros”, defende Pedro Choy.
Tanto
Cátia Antunes como Pedro Choy optaram por não pagar ainda os valores,
visto que vão ocorrer reuniões com o secretário de Estado dos Assuntos
Fiscais, foi enviada uma carta ao ministro das Finanças, foi feita uma
petição com 120 mil assinaturas e a Autoridade da Concorrência emitiu
esta quarta-feira um parecer em que recomenda a isenção de IVA para
estas terapêuticas. Tudo esperanças de que a cobrança seja repensada
antes que os profissionais comecem a pagar a dívida.
Ganha a indústria farmacêutica?
Os dois responsáveis ouvidos pelo Observador consideram que, por trás
desta situação, está uma espécie de favorecimento à indústria
farmacêutica. “Isto vai levar à falência das empresas, vai levar ao
despedimento de muitas pessoas, e o valor que vamos ter de pagar não vai
compensar o prejuízo para o Estado. Então porque é que a Autoridade
Tributária insiste?”, questiona a diretora clínica da Da Vinci. A
resposta, diz, está no favorecimento da indústria farmacêutica.
Pedro Choy vai ainda mais longe: “O
Estado perde, eu perco, o cidadão perde. Quem é que ganha? As
indústrias farmacêuticas, que são as opositoras às medicinas
convencionais. Penso que a Autoridade Tributária está a ser
manipulada”, atira. Para ele, a intenção daquelas indústrias é
“exterminar um concorrente”. E essa eliminação vai colar uma “sentença
de morte” às clínicas.
* Isto é a "mão" da corporação Ordem dos Médicos que em determinadas áreas de especialidade está a perder clientes. Nunca nenhum profissional das terapias alternativas olhou nem assobiou para o lado oposto dum tumor com 1,6Kg de peso na cabeça duma jovem. Uma vergonha.
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