ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
Jorge Sampaio desmente Durão Barroso
e a sua “memória seletiva”
Em entrevista ao Expresso, Durão Barroso revelou que o ex-Presidente da República concordou com a Cimeira das Lajes, em 2003, mas Jorge Sampaio conta a história de outra forma
O antigo Presidente da República Jorge Sampaio afirmou hoje que "não
cabe ao Presidente autorizar ou deixar de autorizar atos de política
externa", respondendo ao ex-primeiro-ministro Durão Barroso, que disse
que Sampaio concordou com a Cimeira das Lajes, em entrevista ao Expresso.
.
"Sim.
Foi a única pessoa que eu consultei antes de tomar a decisão final.
Depois de me ter sido proposto isso pelos outros países", afirmou Durão
Barroso, sublinhando que contou, "na altura, com o apoio do parlamento
português e com o apoio do Presidente da República de Portugal, o dr.
Jorge Sampaio, que expressamente disse que sim, que concordava".
Jorge Sampaio escreveu um artigo de opinião no site do jornal Público
- intitulado "Iraque, evocações presidenciais" - em que começa por
referir que "costuma dizer-se que a memória é seletiva e que os relatos
históricos são reconstruções narrativas", para depois sublinhar que "as
chamadas fontes em história permitem colmatar lacunas e reconstituir
factos passados".
Sem nunca citar textualmente o nome de Durão
Barroso, Jorge Sampaio diz que foi "inspirado pela leitura dos
semanários de fim de semana", o que o levou a "fazer uma breve
revisitação dos anos 2002-2003 deste século, determinantes que foram
para o caos que hoje se vive no plano internacional", designadamente no
Iraque.
No artigo, Jorge Sampaio, que foi Presidente da República (PR) de
1996 a 2006, revela que o Iraque foi um “factor de polarização PR versus
PM” e apresenta uma extensa cronologia a explicar as semanas que
antecederam a Cimeira - da qual foi informado dois dias antes.
“Sobre
a Cimeira em si, e o processo que levou à sua realização nas Lajes – e
não em Washington, Londres, Barbados e Bermudas, como terá sido
ventilado –, a verdade é que a literatura internacional lhe dá pouca ou
nenhuma importância e não tendo eu tido conhecimento dos preparativos,
pouco posso dizer”, escreveu Jorge Sampaio.
“No entanto, quero
recordar aqui o telefonema que, pelas 7 da manhã de 14 de Março, recebi
do primeiro-ministro, solicitando-me uma reunião de urgência. Para minha
estupefacção, tratava-se de me informar que havia sido consultado sobre
a realização de uma cimeira nos Açores, essa mesma que, nesse mesmo
dia, a Casa Branca viria a anunciar para 16 de Março, daí a pouco mais
de 48 horas…”, acrescentou.
“Não é preciso ser-se perito em
relações internacionais para se perceber que eventos deste tipo não se
organizam num abrir e fechar de olhos; e também não é necessário ser-se
constitucionalista, para se perceber que não cabe ao Presidente
autorizar ou deixar de autorizar actos de política externa”, refutou o
ex-PR.
Sampaio termina este artigo de opinião a destacar que "o
Presidente tem o direito constitucional a mostrar a sua discordância
perante a condução da política externa e não está obrigado a acatar, sem
intervenção e passivamente, decisões assumidas pelo Governo".
Referindo-se
concretamente à Cimeira das Lajes, acredita ter conseguido "uma posição
equilibrada", por ter evitado "abrir um conflito institucional que em
nada serviria o país", ao mesmo tempo que, opondo-se ao envio de tropas
para o Iraque, afirmou "decisivamente o papel efetivo do presidente como
comandante supremo das Forças Armadas".
A 16 de março de 2003,
reuniram-se na ilha Terceira, na base das Lajes, nos Açores, o
Presidente norte-americano George W. Bush, o primeiro-ministro britânico
Tony Blair, o primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar, tendo sido
recebidos pelo então primeiro-ministro português Durão Barroso. Quatro
dias depois, na madrugada de 20 de março, tinha início a invasão militar
do Iraque.
* Durão Barroso escudando-se em cenários virtuais.
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