HOJE NO
"i"
Cirurgiões denunciam uso de produtos
. ilegais em tratamentos estéticos
Líquidos desconhecidos, cremes para uso na pele
infiltrados na cara e até produtos contraindicados. Infarmed diz agir em
função de queixas. Sociedade de Cirurgia Plástica vai sensibilizar
médicos
Metade dos
cirurgiões inquiridos num recente estudo da Sociedade Portuguesa de
Cirurgia Plástica (SPCP) admitem já ter observado doentes a quem foram
aplicados dispositivos ou substâncias não autorizadas para uso clínico.
Nuno Fradinho, cirurgião do serviço de cirurgia plástica e reconstrutiva
do Hospital de São José e um dos coordenadores do inquérito, revelou ao
i que não havia perceção de que este fosse um problema tão expressivo,
embora haja uma preocupação mundial com relatos de usos indevidos de
óleo de coco ou até de silicone industrial. O especialista diz nunca ter
vistos casos destes em Portugal, mas admite que já passaram pelo seu
serviço várias situações de risco.
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NENHUM CIRURGIÃO PLÁSTICO
PORTUGUÊS, FARIA ESTE CRIME |
E alerta para que as complicações podem ser graves, como infeções ou
paralisias. Noutros casos, os doentes gastam dinheiro e os produtos não
fazem nada.
Fradinho relata, por exemplo, o caso de uma mulher que desenvolveu
uma infeção nos glúteos depois de um suposto tratamento refirmante.
Quando investigaram a substância com que foi injetada, um líquido
castanho, os médicos não conseguiram identificá-la com nenhum produto
usado em estética._“Pode ser algo comprado pela internet, pode nem ser
para uso clínico”, diz o cirurgião, secretário da SPCP. Outra vez
apareceu no serviço uma doente com a cara deformada depois de um alegado
preenchimento facial. Tinha sido injetada com um creme para uso na
pele.
O cirurgião alerta ainda para que continuam a aparecer mulheres a
quem são feitos aumentos mamários com injeções de macrolane, gel que
desde 2012 deixou de estar indicado para intervenções no peito uma vez
que interfere com os resultados das mamografias e outros exames
radiológicos, podendo atrasar a deteção de cancro. “Está disponível para
tratamentos noutras áreas do corpo e há pessoas que fazem um uso
indevido do mesmo, seja porque é acessível ou por falta de informação.”
Doentes pouco informados
O inquérito vai ser um dos motes de discussão do iii Congresso Ibérico de Cirurgia Plástica, que decorre de 2 a 4 de junho.
O estudo sugere que existe um elevado número de médicos não
especialistas, mas também de profissionais não médicos, como técnicos de
centros de estética ou até cabeleireiros, a fazer procedimentos
cirúrgicos.
Na área dos produtos sem autorização clínica – a que mais surpreendeu
os autores –, os resultados sugerem que acontece mais vezes quando as
intervenções foram feitas por não cirurgiões plásticos, mas também
profissionais sem curso de Medicina. Fradinho dá conta de outro dado
preocupante: muitos médicos relataram que os doentes que observam,
muitas vezes com complicações, não têm informação sobre as
características dos dispositivos ou materiais que lhes são aplicados.
O i questionou o Infarmed no sentido de perceber que fiscalização está a ser feita nesta área e como tenciona agir.
O regulador informou ter previstas inspeções no circuito dos cosméticos,
desde o fabrico até às entidades que vendem e utilizam os produtos. O
mesmo com os dispositivos médicos. Além disso, intervém sempre que haja
denúncias ou situações que indiciem práticas de não conformidades, sendo
pedidas queixas concretas. Questionado sobre se tencionam apresentar
queixa, Fradinho disse desconhecer este mecanismo do Infarmed,
considerando necessário maior sensibilização dos profissionais.
Salienta, contudo, que a SPCP está disponível para equacionar um sistema
que permita concretizar denúncias ao regulador, até criando um
formulário online para os médicos apresentarem os casos que lhes chegam.
Cirurgias sem curso de Medicina
O inquérito da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, que até à
data teve resposta de 42 dos 200 cirurgiões plásticos registados no
país, apurou que há médicos a observar doentes com complicações de
procedimentos feitos por outros médicos sem esta especialidade e até por
pessoas sem o curso de Medicina. A aplicação de toxina botulínica e os
preenchimentos faciais são os procedimentos mais vezes feitos por
pessoas que não têm curso de Medicina, mas nesta amostra encontraram-se
casos ainda mais graves: cirurgias estéticas faciais, lipoaspirações e
até uma cirurgia estética genital, tudo procedimentos que implicam a
realização de anestesia local ou geral – o que supõe a presença não só
do cirurgião mas também de um anestesista.
Nuno Fradinho diz terem
perceção de haver tratamentos a serem feitos em cabeleireiros, centros
de medicina estética sem médicos e em autênticos “vãos de escada”, sem
garantias de segurança clínica e higiene. A sociedade defende que é
necessária maior fiscalização, mas também definir que procedimentos
podem ser realizados pelos diferentes grupos profissionais e quais
deviam exigir uma credenciação. No caso do botox e mesoterapia, a
maioria dos cirurgiões defende que os prestadores deveriam ter algum
tipo de credenciação, o que hoje não acontece. “Há relatos de pessoas a
fazer tratamentos com cursos de três dias”, diz Fradinho. Celso
Cruzeiro, presidente da SPCP, sublinha que mesmo entre médicos se impõe
uma atribuição de âmbitos de atuação. “Enquanto cirurgiões plásticos não
queremos exclusividade. É perfeitamente legítimo ter um otorrino a
fazer uma rinoplastia. Mas não pode acontecer, como já vi, um
ortopedista fazer uma redução mamária.” Em Portugal não existe ainda uma
legislação genérica que defina o que é um ato médico.
A sociedade
defende que era importante avançar nessa área, mas também regulamentar
por especialidade, para se perceber que competência cabe a cada
profissional. O bastonário da Ordem dos Médicos considera que hoje isso
está inerente à formação das diferentes especialidades e considera
graves casos como o mencionado por Celso Cruzeiro. José Manuel Silva
apela a que esses casos sejam denunciados à ordem.
Atenção às depilações a laser e luz pulsada
Não é
preciso entrar no campo cirúrgico para encontrar complicações. Nuno
Fradinho alerta já ter observado queimaduras de terceiro grau causadas
por depilações a laser. A depilação a luz pulsada, avisa o cirurgião,
também pode ser contraindicada em algumas peles. A sociedade defende que
todo este setor devia estar mais bem regulado, sendo obrigatória pelo
menos uma consulta prévia com um dermatologista antes de se fazer este
tipo de intervenção. Aconselham o cliente a perceber se o equipamento é
credenciado e a nunca fazer tratamentos sem precauções como proteção
para os olhos, uma vez que a luz pode cegar.
Contraindicações
Celso Cruzeiro admite que há um
lado corporativo nos alertas da sociedade, mas que resulta também do
facto de os cirurgiões plásticos terem anos de formação para fazerem as
intervenções em causa. “Vemos abusos nas intervenções mais simples,
ninguém sem o curso de Medicina faz uma transferência de tecidos da cara
para outra zona do corpo. Mas mesmo as situações mais simples não o
são.” O cirurgião dá como exemplo as aplicações de toxina botulínica.
Caso a aplicação seja feita numa artéria, o risco é elevado. Por outro
lado, se for feito em músculos por algum motivo atrofiados, por exemplo
na sequência de uma doença neurológica como AVC, não terá efeito.
Já as
lipoaspirações exigem um ambiente completamente assético pois o risco de
infeção é elevado. E a anestesia requer um anestesista presente ou,
pelo menos, por perto. “Pode sempre haver erros, mas uma coisa é uma
complicação que pode acontecer, como uma pessoa fazer uma embolia na
sequência de uma anestesia. Outra é não serem assegurados os
procedimentos adequados”, explica Celso Cruzeiro.
Uma lipoaspiração fatal
O caso mais grave em Portugal aconteceuem 2008. Uma jovem de 25 anos foi fazer uma lipoaspiração ao abdómen e ancas numa clínica estética, no Algarve. Morreu três dias depois.O procedimento foi feito por um médico nefrologista que alegou,na altura, ter um curso de 650 horas em medicina estética.
Clientes vão atrás dos preços
No inquérito, os
médicos consideram que a maioria dos doentes recorrem a prestadores não
credenciados por causa dos preços mais baixos, mas também de publicidade
enganosa em relação aos resultados expectáveis.
Os preços chegam a ser metade dos praticados pelos cirurgiões. Celso
Cruzeiro defende que devia haver maior escrutínio de promoções em sites e
alerta à população para refletir mais sobre estas opções. “Ninguém vai a
uma oficina mais barata comprar carros sem travões”, ironiza.
O
cirurgião avisa que nunca se podem prometer resultados; portanto, uma
conversa que comece dessa forma é um logro. Nos procedimentos não
invasivos, os riscos não se colocam tanto, mas é preciso perceber se o
dinheiro investido compensa, nomeadamente massagens e cremes redutores.
Já nos procedimentos invasivos, o cirurgião apela à população para que
não vá atrás de falsas promessas e de preços mais baixos. Pode acabar a
gastar mais a resolver potenciais sequelas. “Nem que haja só um caso de
morte por lipoaspiração por um médico não credenciado, isso devia
fazer-nos refletir. Ter um bloco operatório e uma equipa que garante
segurança tem o seu custo”.
Entidade Reguladora da Saúde sem poder de intervenção
Uma
vez que não existe uma definição de que tratamentos são atos médicos e
que os centros de estética não são “prestadores de cuidados de saúde”, a
ERS indica que não tem competência para fazer fiscalizações em centros
de estética. A menos que chegue, por exemplo, uma denúncia, o que nunca
aconteceu. A fiscalização de rotina cabe à ASAE, que não forneceu dados
até ao fecho da edição.
* Quando existem médicos de outras especialidades a praticar cirurgia plástica fica revelado o carácter dos mesmos. A classe que tem imensos profissionais com saber e humanidade de excepção, conta também com inúmeros crápulas, em todas as especialidades.
Depois existem ainda os vigaropatas e como moldura o ignorante "gostar de parecer" em vez de "ser", do tuga famélico do show off.
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