23/04/2016

CRISTINA AZEVEDO

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A obsessão 
pela Matemática

Tenho acompanhado de perto a época difícil em que os adolescentes são obrigados a decidir o seu futuro académico. Quer dizer, o período em que têm de escolher qual a área de especialização que vão seguir. Humanidades, Ciências Tecnológicas, Ciências Sociais ou Artes?

Pode, desde logo, discutir-se se com 14 anos é possível ter uma ideia exata da vocação profissional e se o percurso que cada miúdo fez até aí é de molde a fundamentar uma escolha. Pode, igualmente, perguntar-se se basta responder à linha divisória do "tens ou não jeito para matemática?" para decidir um caminho ainda tão longo e tão misterioso nos gostos e nas aptidões. Pode até mesmo ter-se a leve suspeita de que se trata de uma bifurcação sem sentido num Mundo em que os percursos de sucesso são cada vez mais feitos de multidisciplinaridade, de experiências cruzadas de bases de conhecimento ricas e variadas.

Mas mesmo que não seja possível encontrar, no imediato, uma solução de política educativa mais vantajosa, o que seguramente não está correto e não será útil no futuro próximo é a espécie de condicionamento a que os nossos alunos estão, hoje em dia, sujeitos.

Foi tal a lavagem ao cérebro feita a propósito de um Mundo onde tudo o que se relaciona com a filosofia, a história, a geografia ou a literatura é condição garantida para uma existência difusa, morna e sem brilho, que se faz de tudo nas nossas escolas para medir o real aproveitamentos do educandos pela destreza no manejo dos ângulos, dos algoritmos ou das equações.

Mas pior, mesmo, é perceber que escolas privadas e públicas, numa decisão de base economicista e autista, ao perceberem que martelar o sucesso das quantitativas resulta numa muito menor frequência de aptidões humanistas, pura e simplesmente não criam condições para a continuidade dos alunos e das alunas nos respetivos estabelecimentos de ensino, uma vez que não se abrem turmas nessa área de especialização.

Ano a ano, perdem-se alunos, professores, trabalhos, investigação, leituras, poemas, dramatizações e dramaturgias, história, histórias, geografias, físicas e humanas.

Que colégios e que liceus serão estes? Já parou o Estado para pensar nas consequências? Se pensar, convém verificar se os liceus e/ou os colégios privados, no caso de terem apoio público, cumprem a vocação universal do ensino e acolhem, com lucro imediato ou sem ele, todos e todas os/ as que ainda encontram nas Letras uma vocação e um destino.

Convém verificar se os liceus e/ou os colégios privados, no caso de terem apoio público, cumprem a vocação universal do ensino e acolhem, com lucro imediato ou sem ele, todos e todas os/ as que ainda encontram nas Letras uma vocação e um destino

Analista Financeira

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
21/04/16

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