A obsessão
pela Matemática
Tenho
acompanhado de perto a época difícil em que os adolescentes são
obrigados a decidir o seu futuro académico. Quer dizer, o período em que
têm de escolher qual a área de especialização que vão seguir.
Humanidades, Ciências Tecnológicas, Ciências Sociais ou Artes?
Pode,
desde logo, discutir-se se com 14 anos é possível ter uma ideia exata
da vocação profissional e se o percurso que cada miúdo fez até aí é de
molde a fundamentar uma escolha. Pode, igualmente, perguntar-se se basta
responder à linha divisória do "tens ou não jeito para matemática?"
para decidir um caminho ainda tão longo e tão misterioso nos gostos e
nas aptidões. Pode até mesmo ter-se a leve suspeita de que se trata de
uma bifurcação sem sentido num Mundo em que os percursos de sucesso são
cada vez mais feitos de multidisciplinaridade, de experiências cruzadas
de bases de conhecimento ricas e variadas.
Mas
mesmo que não seja possível encontrar, no imediato, uma solução de
política educativa mais vantajosa, o que seguramente não está correto e
não será útil no futuro próximo é a espécie de condicionamento a que os
nossos alunos estão, hoje em dia, sujeitos.
Foi
tal a lavagem ao cérebro feita a propósito de um Mundo onde tudo o que
se relaciona com a filosofia, a história, a geografia ou a literatura é
condição garantida para uma existência difusa, morna e sem brilho, que
se faz de tudo nas nossas escolas para medir o real aproveitamentos do
educandos pela destreza no manejo dos ângulos, dos algoritmos ou das
equações.
Mas pior, mesmo, é perceber
que escolas privadas e públicas, numa decisão de base economicista e
autista, ao perceberem que martelar o sucesso das quantitativas resulta
numa muito menor frequência de aptidões humanistas, pura e simplesmente
não criam condições para a continuidade dos alunos e das alunas nos
respetivos estabelecimentos de ensino, uma vez que não se abrem turmas
nessa área de especialização.
Ano a
ano, perdem-se alunos, professores, trabalhos, investigação, leituras,
poemas, dramatizações e dramaturgias, história, histórias, geografias,
físicas e humanas.
Que colégios e que
liceus serão estes? Já parou o Estado para pensar nas consequências? Se
pensar, convém verificar se os liceus e/ou os colégios privados, no caso
de terem apoio público, cumprem a vocação universal do ensino e
acolhem, com lucro imediato ou sem ele, todos e todas os/ as que ainda
encontram nas Letras uma vocação e um destino.
Convém
verificar se os liceus e/ou os colégios privados, no caso de terem
apoio público, cumprem a vocação universal do ensino e acolhem, com
lucro imediato ou sem ele, todos e todas os/ as que ainda encontram nas
Letras uma vocação e um destino
Analista Financeira
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
21/04/16
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