ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
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Nunca houve tantos
portugueses emigrados
No ano passado, havia mais de 2,3 milhões de portugueses espalhados pelo mundo, mais 10% do que em 2010. A grande maioria já não vai voltar
É o maior número de sempre. No ano passado, havia mais de 2,3 milhões
de emigrantes portugueses em todo o mundo (2.306.321), mais 10% do que
em 2010, segundo estimativas das Nações Unidas apresentadas no
Emigration Factbook 2015, a que o Expresso teve acesso.
A enorme
vaga de saídas registada nos últimos anos, que estabilizou em cerca de
110 mil por ano, só é comparável à que ocorreu no final da década de 60 e
início da década de 70. Mas não foi apenas o grande volume de partidas
que contribuiu para o número recorde de emigrantes portugueses. O facto
de a grande maioria dos que partiram não ter regressado faz com que, em
termos acumulados, nunca tenha havido tantos.
“O que este número
indica é que há uma tendência grande para a fixação”, explica o
coordenador do Observatório da Emigração, Rui Pena Pires. O casamento, o
nascimento de filhos e a sua entrada na escola são alguns dos fatores
que mais dificultam o retorno a Portugal.
De acordo com os
Censos, entre 2001 e 2011 quase 200 mil emigrantes regressaram ao país, o
que dá uma média anual de 20 mil, um número que fica muito aquém do
total de saídas.
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Para Rui Pena Pires, só o crescimento da taxa de
emprego e da qualidade do emprego criado poderiam fazer aumentar o
retorno, “mais do que qualquer outro tipo de política de incentivo”. O
programa Vem — criado pelo anterior Governo e que previa um apoio de até
€20 mil para quem quisesse regressar e criar negócios — teve fracos
resultados: só 21 emigrantes foram abrangidos.
“Os finalistas
estão neste momento em processo de desenvolvimento do seu plano de
negócios e têm até ao final do ano para os implementar, pelo que só
nessa altura poderemos saber quantos conseguiram concretizá-los e se
isso resultou, ou não, no seu regresso ao país”, explica o gabinete do
ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, adiantando que o atual Executivo
decidirá, então, o futuro do programa, que o PS sempre criticou.
Qualificados duplicaram
Entre
os mais de 2,3 milhões de emigrantes portugueses está Virgílio Silva,
que em janeiro de 1974 emigrou para França com a mulher. A sua história
não difere muito da de outros milhares que partiram na mesma época para
fugir à pobreza.
O trabalho agrícola foi sempre o sustento da
família. “Era duro. Todos os dias estávamos a pé às 4h30”, conta
Virgílio, hoje com 66 anos. O sonho de voltar nunca se cumpriu. “Tivemos
dois filhos e quando pensámos em regressar eles já estavam na escola e
não queriam.” Quando olha para trás, Virgílio vê vantagens e
desvantagens na decisão de emigrar para França. “Trabalhámos muito, mas
ganhámos bem e os nossos filhos estão diplomados — se estivéssemos em
Portugal se calhar não teríamos conseguido. Aqui, nunca tivemos
problemas financeiros e eles nunca precisaram de trabalhar para pagar os
estudos.”
O pior foi que outros familiares tomaram a mesma
decisão de partir, mas rumaram a outros destinos. “Assim se separou uma
família. É isso que faz pena.”
Hoje não são apenas os mais pobres
e desqualificados que deixam o país. A percentagem de emigrantes com
formação superior a residir nos países da OCDE praticamente duplicou
entre 2001 e 2011 (de 6% para 11%). Nos últimos anos, também surgiram
novos destinos, como o Reino Unido, que é hoje o país de eleição, ou a
Noruega, onde reside a comunidade portuguesa mais qualificada em todo o
mundo (ver textos abaixo).
Da mesma maneira que a maioria dos que
partiram há décadas nunca regressou, não é de esperar que os novos
emigrantes voltem ao país. E também não é previsível que a emigração,
sobretudo qualificada, venha a baixar significativamente, assegura Rui
Pena Pires: “Agora, as pessoas sabem das oportunidades, conhecem os
mecanismos e têm lá fora quem as ajude. Está facilitada a saída. Está
aberto o caminho”
REINO UNIDO, o principal destino
O
Reino Unido é hoje o destino para onde emigram mais portugueses. Só em
2014 (últimos dados disponíveis), foram 30.546, sensivelmente o mesmo
número registado no ano anterior. No total, cerca de 175 mil portugueses
residem agora naquele país. O fluxo é composto, sobretudo, por jovens
adultos — um terço tem entre 25 e 34 anos. Muitos são qualificados. O
Reino Unido é, aliás, o país com o maior número de enfermeiros
portugueses ao serviço: são mais de 4500. Mas também há muitos milhares
com baixas habilitações, por exemplo a trabalhar na indústria, como
acontece em Thetford, onde um terço dos residentes nasceu em Portugal.
BÉLGICA, A nova escolha
Foi
na Bélgica que mais subiu, em termos relativos, a entrada de emigrantes
portugueses em 2014. No total, 4227 rumaram ao país, um aumento de 35%,
que o Observatório da Emigração considera “particularmente elevado”. A
Bélgica é agora o oitavo principal destino da emigração portuguesa.
Carolina Thadeu, 31 anos, partiu em 2015, depois de o namorado ter
conseguido trabalho lá. “Os salários são mais elevados e o custo de
vida, embora mais alto, não é proporcional à diferença entre o salário
mínimo em Portugal (€585) e na Bélgica (cerca de €1500).” Quase 30% dos
portugueses chegaram há menos de cinco anos.
FRANÇA, A maior comunidade
Um
dos mais antigos destinos da emigração nacional, França continua a ser o
país onde vive a maior comunidade portuguesa no mundo (599.333). As
pessoas nascidas em Portugal constituem a terceira maior população
estrangeira no país (11% do total, a seguir a argelinos e marroquinos).
Ainda hoje é o segundo país mais escolhido por quem decide partir. Os
emigrantes portugueses em França tendem a ser menos qualificados: 7% tem
ensino superior (mais baixo só na comunidade portuguesa no Luxemburgo,
onde apenas 4% são diplomados). Nove em cada dez já vivem em França há
mais de uma década e 16% são idosos.
NORUEGA, O eldorado dos qualificados
Com
ordenados elevados, condições ideais para conciliar a vida familiar e
profissional e muitos empregos para oferecer em sectores qualificados, a
Noruega transformou-se num dos principais destinos de emigração dos
diplomados portugueses. É, aliás, neste país que reside a comunidade
portuguesa com maiores habilitações em todo o mundo. Só engenheiros são
mais de 2000. Como Rui Potes, de 40 anos, que em 2012 se mudou com a
mulher e os dois filhos pequenos. “Somos reconhecidos profissionalmente e
valorizamos a qualidade de vida, que se reflete essencialmente em tempo
para estar com a família”, diz.
* As autoridades do anterior governo foram pródigas em promover a debandada de portugueses qualificados, o principal objectivo era retirá-los da lista de desempregados.
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