HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
MosquitoWEB, o projeto científico
em que toda a gente pode participar
Cientistas do
Instituto de Higiene e Medicina Tropical querem antecipar provável
chegada de espécies potencialmente perigosas de mosquitos a Portugal, e
contam com a colaboração da população
O
corpo está quase todo coberto de minúsculos pêlos e escamas de um
cinzento metálico. A tromba afilada, as patas e a filigrana das asas
destacam-se, enormes, e bem definidas.
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Sob o potente microscópio, o Aedes detritus, um mosquito comum nas regiões do litoral português, parece gigantesco e surge iluminado, como uma estranha visão, mas não para a entomologista médica Teresa Novo, que ali reconhece de imediato as particularidades morfológicas da espécie.
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Sob o potente microscópio, o Aedes detritus, um mosquito comum nas regiões do litoral português, parece gigantesco e surge iluminado, como uma estranha visão, mas não para a entomologista médica Teresa Novo, que ali reconhece de imediato as particularidades morfológicas da espécie.
"Este
chegou-nos hoje do Montijo. Andava a picar no estádio de futebol", conta
a professora e investigadora do Instituto de Higiene e Medicina
Tropical (IHMT), da Universidade Nova de Lisboa, que lidera o
MosquitoWEB.
O projeto, lançado ali há dois anos,
assenta na participação dos cidadãos e tem por principal objetivo
antecipar a provável chegada ao território nacional de espécies de
mosquitos invasoras e potencialmente perigosas para a saúde, porque
podem transmitir doenças como zika, dengue e outras, se existirem as
condições para isso.
O pequeno detritus
que jaz sob as lentes do microscópio no laboratório de microscopia do
IHMT foi entregue em mão, mas essa até nem é a forma mais habitual de
ali chegarem as amostras de mosquitos que têm sido enviadas de todo o
país, de norte a Sul, mais do litoral do que das regiões do interior.
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O projeto tem uma página na Internet, onde estão descritos todos os passos a seguir por quem queira participar.
Há
uma forma certa de capturar os mosquitos, com um frasco e uma folha de
papel, e outra de os neutralizar - uma hora no congelador, e já está.
Esses procedimentos garantem que o corpo frágil do inseto sofre o menor
dano possível para poder depois ser identificado e, se for caso disso,
estudado pelos entomologistas do IHMT.
A seguir é só enviar pelo correio, com a etiqueta que o site
do MosquitoWeb gera para a identificação da amostra. Todos os
participantes recebem uma resposta do projeto, assegura Teresa Novo.
"Em
alguns casos as pessoas enviaram-nos as imagens dos mosquitos feitas
com o telemóvel, em vez do próprio mosquito, o que também é uma
possibilidade, se a fotografia tiver qualidade", explica a
investigadora.
Desde que se iniciou, o
MosquitoWEB já recebeu até hoje mais de 200 mosquitos. "Não é muito",
reconhece a coordenadora. "Gostaríamos de receber bastantes mais, isso
seria sinal de que a população está envolvida", diz Teresa Novo. Mas
como o projeto é para continuar, o convite aí fica.
Afinal, esta é uma
forma muito eficaz de antecipar a chegada de insetos potencialmente
perigosos para a saúde, e assim garantir que se ataca a tempo para
prevenir que se instalem.
"A ideia foi
justamente essa", explica Carla Sousa, a investigadora e entomologista
médica que lançou o projeto, há dois anos, no IHMT. O MosquitoWEB acaba
assim por ser um complemento do programa de vigilância de vetores da
Direção-Geral de Saúde.
"O conceito de citizen science
[a ciência feita pelos cidadãos] não é novo, há vários países europeus,
como a Holanda, a França ou a Alemanha, onde esta monitorização também
está a ser feita com a colaboração das populações, e com bons
resultados", explica Carla Sousa. A investigadora é uma das autoras,
juntamente com colegas de outros países europeus, de um artigo
científico publicado no ano passado sobre os resultados deste trabalho
nos vários países.
Invasoras andam por perto
Por
cá, o que se pode dizer, dois anos e mais de 200 mosquitos depois, é
bastante tranquilizador. "Até agora, não há sinal de espécies invasoras
em Portugal, nem de qualquer alteração visível nas populações das
residentes", resume Teresa Novo.
Das
mais de 40 espécies de mosquitos que existem no país, há sobretudo
quatro que concentram as atenções dos entomologistas, pela sua
importância médica: se estiverem infetados, e infetantes, o Anopheles atroparvus, o Culex pipens, o Culex theileri e o Aedes caspius
podem transmitir doenças como a malária, vírus do Nilo ou dirofilária,
este um verme que afeta sobretudo os cães. No entanto, os mosquitos que
são seus transmissores também podem picar os humanos.
Por isso, os exemplares de Culex pipiens
que chegaram ao IHMT no âmbito do MosquitoWEB, talvez mais de uma
dezena, estão todos guardados. No futuro, poderão ser úteis para outros
estudos.
Quanto às temidas invasoras, uma delas, a Aedes albopictus,
ou mosquito tigre, está já bem perto, nas regiões do Sul de Espanha e é
de esperar que por aí venha, mais dia, menos dia. A outra, o Aedes aegypti,
estabeleceu-se já na Madeira, em 2005, e foi o responsável aí pela
primeira epidemia de dengue na Europa desde 1927. O aegypti não chegou
ainda ao território continental.
Originário
da Ásia, o mosquito tigre, que é transmissor da febre amarela (caso
esteja infetado), chegou à Albânia, vindo da América, através do
comércio de pneus usados, nos anos 80, e a partir daí foi-se
estabelecendo em vários países europeus. Chegou a Espanha em 2004. Ainda
não o temos por cá.
* Vamos ajudar o IHMT!
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* Vamos ajudar o IHMT!
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