ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
"VISÃO"
Quem é Sérgio Moro,
o justiceiro anti Lula?
Sérgio Moro lidera as investigações ao maior caso de corrupção na história do Brasil e tudo indica que ainda vai dar muito que falar
Em março de 2014, um antigo contrabandista do estado do Paraná, com
fama de ter fortuna e amigos influentes, era preso pela polícia federal
brasileira. Na altura, os meios de comunicação social apresentaram
Alberto Youssef como bon vivant e "doleiro", alguém metido em negócios
ilegais com moeda estrangeira e branqueamento de capitais. E
reproduziram, com ou sem rigor, as suas palavras no momento da detenção:
"Caras, se eu falar, a república vai desmoronar".
.
Volvidos dois anos,
dir-se-ia que pouco falta para ter acertado em cheio. A República
Federativa do Brasil vive um dos momentos mais conturbados da sua
história recente e este domingo, 13 de março, milhões de pessoas vão
desfilar em centenas de cidades de todo o país contra e a favor do
Governo.
Os protestos prometem agudizar ainda mais o ambiente de
crispação entre os próprios brasileiros devido ao maior caso de
corrupção que o país alguma vez conheceu, a que se veio também somar a
crise económica e a austeridade decretada pela Presidente Dilma
Rousseff. As forças de segurança já estão em alerta máxima, com vários
analistas a falarem da inevitabilidade de cenas de violência.
Uma
tempestade perfeita cujos sintomas se iniciaram há dois anos com a
prisão de Alberto Youssef e que marca o arranque da operação Lava Jato,
uma mirabolante tramoia com dinheiros públicos (2400 milhões de euros)
que envolve os principais partidos e dirigentes políticos, e as maiores
empresas de engenharia e de construção civil.
GRANDE CAÇADOR DE DELATORES
A
trama desenrolou-se através dos contratos da energética nacional, a
Petrobrás, e atingiu proporções tais que ninguém importante escapa ao
clima de suspeição e às investigações em curso, incluindo três antigos
presidentes e a atual chefe de estado (ver caixa), o presidente do
Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha.
Se o "doleiro"Alberto Youssef foi uma personalidade chave
na operação desencadeada a 17 de março de 2014, graças às suas
denúncias sobre os beneficiários dos movimentos bancários e das contas
criadas em inúmeros paraísos fiscais, uma outra figura tem sido
incontornável neste delicado processo: Sérgio Moro. Com 44 anos, filho
de uma professora de português e de um professor de geografia, o juiz de
Curitiba que lidera a investigação pode apresentar números
desconcertantes da sua atividade ao longo dos últimos 24 meses: 120
prisões preventivas, meia centena de condenações e mais de meio milhar
de empresas e de políticos sob escrutínio judicial.
Este é o
balanço provisório do Lava Jato que já vai na sua 24ª fase, denominada
Aletheia palavra do grego antigo que significa verdade e realidade.
Um
caso que tem desenvolvimentos a cada dia que passa face às "delações
premiadas" promovidas pela equipa de Sérgio Moro com muitos implicados a
aceitarem dar informações privilegiadas e a denunciarem cúmplices a
troco da redução de pena. Um método polémico previsto na legislação
brasileira desde 2013 e que tem sido fundamental para o magistrado.
Foi
assim com Alberto Youssef (cumpre pena de três anos embora tenha sido
condenado a oito por corrupção passiva), com Paulo Roberto Costa,
ex-diretor de abastecimento da Petrobrás (incriminou 25 deputados, seis
senadores, três governadores, um ministro e deu detalhes como a
Odebrecht e outras construtoras faziam pagamentos através de bancos
suíços) e parece que foi esse o expediente usado junto de Delcídio do
Amaral, antigo ministro de Minas e Energia e senador até dezembro,
quando foi detido.
O ASSÉDIO À FAMÍLIA LULA
Terá
sido Delcídio que, para escapar a males maiores e ficar a aguardar
julgamento em prisão domiciliária, deu novas pistas aos procuradores
sobre Dilma Rousseff. Mas não só. O senador do Partido dos Trabalhadores
(PT) pode ter também revelado dados comprometedores para Lula da Silva e
respetiva família. Pelo menos é essa a tese defendida pela revista
IstoÉ na sua edição da passada semana.
A 4 de março, um dia depois da
publicação da reportagem assinada por Débora Bergamasco, sucedeu aquilo
que muitos esperavam e outros julgavam impossível: o homem que governou o
país de 2003 a 2010 e resgatou mais de 30 milhões de brasileiros à
miséria era alvo de "condução coercitiva". Isto é, foi obrigado a
acompanhar os polícias que lhe bateram à porta de casa às sete da manhã,
com a missão de o levarem para um interrogatório formal no aeroporto de
Congonhas, em São Paulo.
Durante mais de três horas, Lula respondeu às
questões que lhe foram colocadas pelo delegado da Polícia Federal e
pelos colaboradores do juiz Sérgio Moro. Em causa, o seu envolvimento em
alegados crimes de tráfico de influências, corrupção e lavagem de
dinheiro.
Construtoras como a Odebrecht, Camargo Correa, OAS e
Andrade Gutierrez terão pago mais de sete milhões de euros a Lula por
palestras, verba que os investigadores suspeitam tratar-se de
contrapartidas pelos bons ofícios do ex-Presidente na concessão de obras
em vários países africanos e da América Latina. Pediram-lhe ainda
contas pelas suas garrafas de vinho importado e pelas remodelações e
pelos móveis numa quinta em Atibaia e num apartamento triplex em
Guarujá, ambos no estado de São Paulo, que ele e a sua prole frequentam
há anos embora não sejam os proprietários.
MÃOS LIMPAS À MODA BRASILEIRA
No
total, a família foi alvo de 33 mandados de busca que incluíram várias
residências, o Instituto Lula e as empresas onde têm interesses. Vários
documentos e material informático foram apreendidos e a polémica não
mais parou. O homem que abandonou o Palácio do Planalto com uma taxa de
popularidade de 80 por cento zurziu o juiz Sérgio Moro por ter sido
tratado como um "prisioneiro" e os seus advogados falam em "perseguição
pessoal".
Os setores ligados ao PT foram mais longe e acusam o
procurador de fazer o jogo da oposição e de querer impedir uma nova
candidatura de Lula à presidência, em 2018, invocando a figura da
"improbidade administrativa" resultante dos pagamentos ilegais das
construtoras. E, claro, entendem que Moro está a contribuir para o
"sequestro da democracia", razão pela qual apelam à mobilização da
esquerda e dos sindicatos contra as forças conservadoras, a "mídia
golpista" e as organizações que prometem lutar nas ruas pela destituição
de Dilma casos do "Movimento Brasil Livre", "Vem Para a Rua" e a
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
O duelo não vai
seguramente acabar neste domingo. Quanto mais não seja porque Sérgio
Moro pode ter a pretensão de "regenerar" o Brasil e seguir o exemplo de
alguém que ele muito admira: o juiz Antonio Di Pietro que, entre 1992 e
1994, fez implodir o sistema político italiano com a operação Mãos
Limpas. Vamos ver quem fará depois de Berlusconi brasileiro.
* Já aqui foi escrito sobre o desapontamento que é Lula da Silva, personalidade que vinda da pobreza tem iguais procedimentos corruptos que a direita colonial e racista de S.Paulo, ao contrário do que defendia.
Um juíz não pode ser um cow-boy que transforma os pratos da balança em pistolas para disparar nos mesmos moldes que disparam os bandidos, é a negação dum Estado de Direito.
Sérgio
Moro parece-nos mais pistoleiro que administrador da justiça.
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