ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
“Há Estados na União Europeia
que estão a esquecer a História”
Nikos Xydakys, ministro-adjunto grego dos Assuntos Europeus avisa que crise dos refugiados é um problema político que põe em perigo a estabilidade europeia
Há
dimensões que esmagam. Como este número: 851.319. São os refugiados que
apenas um país, a Grécia, acolheu no ano passado. Vieram sobretudo da
Síria, mas também do Afeganistão, Iraque e em menor número de outros
países. “Nenhum país sozinho consegue lidar com isto.”
.
Assim
começou a conversa com o ministro-adjunto grego para os Assuntos
Europeus, Nikos Xydakys, que esta semana esteve em Lisboa para
conversações com o Governo português, tal como os seus homólogos alemão e
britânico.
A Grécia, primeiro ponto de desembarque da chamada
rota balcânica, está inundada de refugiados. Presentemente, disse o
ministro, mantém no seu território 35 mil, dos quais 13 mil estão
“presos” na fronteira norte, com a Macedónia. Este foi o último país a
fechar a fronteira sul, encerrando assim a Rota dos Balcãs. O processo
começou a norte, pela Hungria, descendo depois pela Croácia, Eslovénia,
Sérvia e, finalmente Montenegro. Mas à Grécia continuam a chegar
diariamente por mar entre dois mil e 2500 refugiados, e “só saem 300”,
especificou Xydakys, ex-jornalista, eleito deputado pelo Syriza.
Agora,
em cima da mesa, está o acordo da UE com a Turquia, o qual, segundo o
ministro grego, apanhou muitos países de surpresa. A proposta de acordo
apresentada na cimeira entre a União Europeia e a Turquia na
segunda-feira, é uma espécie de “compacto, em que os turcos oferecem
algumas soluções para a crise dos refugiados e pedem em troca algumas
vantagens políticas e dinheiro”.
As divergências europeias são
mais que muitas, tanto à esquerda como à direita, pelo que a aprovação
do acordo, que entretanto deverá ser expurgado dos pontos mais
polémicos, foi remetida para o Conselho Europeu da próxima semana.
Basicamente a Turquia compromete-se a receber de volta cada refugiado
sírio que tenha entrado ilegalmente na Europa, desde que esta receber
outro vindo da Turquia. Ao mesmo tempo Ancara pede mais ajuda
financeira, um regime de vistos gratuitos para cidadãos turcos e a
abertura de cinco novos capítulos das negociações de adesão à UE.
Apesar
dos aspetos polémicos (que Portugal também critica, como é o caso da
salvaguarda dos direitos humanos e da convenção sobre o direto de
asilo), para Nikos Xydakys o acordo pode ser um “início de solução”.
Diz: “Se houver uma mensagem forte de que os refugiados só podem
encontrar asilo na Europa de maneira legal, as viagens a partir da
Turquia deixam de fazer sentido”.
.
O ministro é taxativo ao
afirmar que é preciso “cortar as rotas ilegais e as redes de tráfico,
que são grandes e poderosas. No ano passado, a Europol estimou que
renderam entre 4 e 6 mil milhões de euros”. Para Xydakys, isto significa
um “enorme poder, não apenas económico, mas também político”.
O
problema é a Europa. “Não vemos nisto apenas uma crise humana - e
gigantesca - mas também uma grande desordem geopolítica e uma ameaça à
paz e à estabilidade em toda a região. Com um Mediterrâneo instável,
como pode a Europa ser estável?”, interroga-se o ministro. “Quando é que
isso aconteceu na História? Se a Grécia ficar instável, a Itália ficará
também sujeita a enorme pressão. Até a Espanha... Como é que a Hungria
ou a República Checa poderão ter estabilidade? Se não estivessem na
União, talvez, mas a UE é também uma união política”, reafirma, para
destacar que “estes Estados dizem que o custo excede os benefícios e que
é como se num restaurante pagassem pela salada o preço da carne”.
De
facto, no Mediterrâneo leste há hoje o maior fluxo de refugiados desde a
II Guerra Mundial e ninguém pode lidar sozinho com este problema. “Na
Alemanha, há milhares de refugiados desaparecidos, pelo que temos todos
de agir em conjunto. O Grupo de Visegrado (Hungria, República Checa,
Eslováquia e Polónia) pensa que pode agir sozinho, erguendo muros e
arame farpado, mas esquecem a História e não veem o futuro”, explica. “O
que se está a passar põe em causa a experiência histórica comum da
União. Há um perigo de fragmentação, de nacionalismos e de conflitos.
Trabalhámos arduamente pela paz e agora a estabilidade está de novo em
perigo”.
* A União Europeia recebeu há poucos anos o prémio Nobel da Paz, pede-se mais critério ao comité Nobel, para não nos envergonhar.
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