ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
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Este país não é para doutores
Nem desconto de 50% convence empresas a contratar doutorados
Apenas 20 empresários se candidataram ao primeiro concurso dos fundos
europeus do Portugal 2020, que financia em 50% a contratação de
doutorados e pós-doutorados pelas micro, pequenas, médias (PME) e
grandes empresas, pagando metade do salário e dos encargos com Segurança
Social destes novos trabalhadores a fundo perdido.
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“A esmagadora
maioria veio de PME que, com algum pioneirismo, decidiram candidatar-se
a este apoio e a esta aposta da região. Esperamos que estes promotores
sejam o primeiro rosto desta iniciativa, inspirando outras empresas a
apresentarem as suas candidaturas”, explicou ao Expresso o gestor do programa Norte 2020, Emídio Gomes.
Recorde-se
que o concurso lançado no inverno de 2015 tinha €20 milhões só para
financiar a contratação de 150 doutorados pelas empresas da região
Norte. O Norte tem o tecido empresarial mais atento aos fundos europeus —
cerca de metade das candidaturas aos incentivos do Portugal 2020 vem de
empresas nortenhas — e o Norte 2020 é o programa regional que mais
aposta na integração de recursos humanos altamente qualificados — a meta
são 400 até 2020.
Os concursos entretanto lançados nas regiões
Centro, Alentejo e Algarve oferecem metade do dinheiro e não ousam
apostar nos doutorados, abrindo os apoios europeus à contratação de
mestres e licenciados.
Nova oportunidade
O facto de as
empresas serem pequenas, de natureza familiar ou geridas por patrões
menos qualificados podem ser entraves à procura destes incentivos
europeus. E mesmo nas start-ups mais inovadoras, há quem prefira
trabalhar com universidades e centros tecnológicos em vez de contratar
um doutorado a tempo inteiro.
Depois deste passo experimental, o
Norte 2020 pretende realizar um trabalho de sensibilização para estes
incentivos europeus à contratação de doutores, mais direcionado para os
sectores tradicionais, que necessitam de aumentar a sua competitividade,
e para os sectores mais intensivos em conhecimento, que necessitam
incessantemente de maior inovação.
Quem aguarda pelo novo
concurso para aproveitar o desconto de 50% na contratação de doutores é a
indústria têxtil e agroalimentar de Vila Nova de Famalicão. Augusto
Lima, coordenador da iniciativa ‘Famalicão Made In’ explicou ao Expresso
que as empresas do concelho querem doutorados — sobretudo nas áreas da
engenharia física, química de materiais ou biotecnologia —, mas o prazo
do primeiro concurso do Norte 2020 foi demasiado apertado para poderem
concorrer. “Doutores a tempo inteiro permitem às empresas desenvolver
projetos de I&D mais estruturados, em vez de pedidos pontuais às
universidades e centros tecnológicos”, explica.
Quem também apela
às empresas para tirarem partido deste capital humano com conhecimento
especializado, experiência de investigação e capacidade técnica para
implementar novos processos, produtos, tecnologias ou modelos de
negócio, é o reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo.
“A
integração de doutorados pode contribuir de forma decisiva para o salto
de competitividade que tem faltado ao tecido empresarial nacional,
facilitando o desenvolvimento das competências internas das empresas,
nomeadamente em áreas essenciais à competitividade como as de inovação,
I&D, gestão, marketing, criatividade”, sustenta o reitor.
Por
outro lado, “com doutorados, as empresas ganham interlocutores
qualificados para parcerias com as universidades e centro de
investigação ao nível da inovação e I&D. Algo que nem sempre
acontece hoje em dia, o que cria obstáculos à cooperação entre o meio
académico e científico e o meio empresarial”, remata.
* Esta situação tem de mudar ou então teremos cada vez mais jovens a fugir de Portugal.
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