HOJE NO
"OBSERVADOR"
Empresa pede colaboradoras “fisicamente apelativas” para oferta de emprego
Clinique SA pediu "fotografias de corpo inteiro" a uma candidata porque a gerência quer colaboradoras "fisicamente apelativas". O caso tornou-se viral no Facebook. Observador falou com a protagonista.
Sandra Pacheco Arezes está desempregada e, como muitos portugueses,
inscreveu-se em sites com ofertas de emprego. Respondeu a vários
anúncios e esta segunda-feira recebeu uma resposta especial. A história é
contada pela própria ao Observador: “Vi um anúncio no
Net-Empregos para operadora de caixa numa loja no Porto. Enviei o
curriculum vitae e responderam-me que queriam fotografias de corpo
inteiro porque a gerência da empresa exigia colaboradoras o ‘mais
fisicamente apelativas possível'”.
Boa tarde Daniela, por favor envie-nos fotografias de corpo inteiro.
A razão do pedido é devida á exigência da gerência, é-nos obrigado a admitir apenas as colaboradoras mais fisicamente apelativas possível.
Qualquer dúvida, por favor, disponha
Com os melhores cumprimentos
Inês Santos
O caso rebentou no Facebook depois de Sandra ter partilhado os print screens da troca de e-mails, tendo a publicação atingido já centenas de partilhas. Está por descobrir a identidade da empresa Clinique SA. “O Net-Empregos não referia a empresa, só referia o endereço de e-mail”,
aponta a protagonista.
Numa primeira fase, esta empresa foi associada à
empresa americana de maquilhagem e cosméticos Clinique, que entretanto
desmentiu qualquer ligação com o caso. A própria Clinique Portugal pediu
a Sandra para fazer um comunicado no seu Facebook e esclarecer esse
ponto, já que a marca está a receber críticas no Facebook ligadas ao
caso.
Clinique
A
marca Clinique tomou conhecimento de que uma empresa que dá pelo nome
de rhClinique SA iniciou um processo de recrutamento polémico. Queremos,
desde já, esclarecer que esta empresa nada tem que ver com a marca
Clinique.
Sandra Arezes é maquilhadora profissional e foi “gerente de loja
durante muitos anos”. Garante que quer “é trabalhar” e que aquela era só
mais uma oferta. “Respondi a vários anúncios e nunca pensei que fosse receber uma resposta daquelas”,
refere. Por isso não guardou nenhuma fotografia do anúncio. Ainda
assim, lembra-se que era uma oferta para uma loja no Porto, sem
especificar a localidade, e que queria colaboradoras entre os 18 e os 35 anos. “Eu tenho 36 mas não custa tentar”, disse ao Observador.
O
currículo foi enviado no dia 14 de março e Sandra recebeu a dita
resposta no próprio dia, conta. Decidiu então responder dois dias
depois:
Boa noite! Depois de muito pensar, resolvi responder ao vosso email.
Antes de mais nada, deixe-me retifica-la quanto ao meu nome. Uma vez que no meu currículo está lá escrito, acho uma falta de profissionalismo da sua parte ter -me tratado por “Daniela”.
Sendo a senhora mulher, acha normal e correcto o pedido de envio de fotos de corpo inteiro porque só contratam mulheres “mais fisicamente apelativas”? Não que eu tenha qualquer problema com o meu corpo mas acho de um absurdo ridículo esta descriminação, depois de nós mulheres tanto lutarmos pelos nossos direitos de igualdade de género. Até porque, e deveriam estar informados, isto é considerado descriminação e como pode perceber, punível por lei.
A senhora devia ter vergonha na cara, por compactuar com tamanha barbaridade.
Para terminar, informo vossas excelências que foi tirado print deste e-mail e será feita denúncia às autoridades competentes. Enviei ainda os prints para as redes sociais para que possam ver o tipo de “gerências” que temos neste país e para prevenir algumas mulheres mais inocentes. Quanto à senhora Inês Santos, deveria repensar se é neste tipo de empresas que quer continuar a sua carreira profissional e se é isto que pretende para o seu futuro. Pois, por dinheiro algum, me venderia ao ponto de me diminuir como mulher.
Sem mais de momento,
Cumprimentos,
Sandra (e não Daniela) Arezes
O anúncio foi entretanto apagado e Sandra só se apercebeu disso quando fez a publicação no Facebook. “Só quando acabei a publicação é que me lembrei de ir fazer um print
ao anúncio para ter mais uma prova comigo, mas já não havia anúncio
nenhum. No e-mail que lhes enviei, informei-os que ia fazer uma denuncia
e que ia pôr nas redes sociais “. E essa poderá ser a razão para a inexistência do anúncio neste momento.
Sandra Arezes enviou uma queixa para a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) pois crê que esta discriminação é “ilegal” e garante que vai chegar a mais vias. “Também
já liguei para a Inspeção do Trabalho mas não me atendem o telefone.
Mas eu vou continuar a tentar. Vou até não ter mais forças”.
“Isto é um grito de revolta, um basta de sermos tratadas como um pedaço de carne. Basta de sermos objetificadas”,
reivindica. “Eu toda a minha vida lutei contra estas situações.
Infelizmente as pessoas olham para um palmo de cara e não para as
habilitações ou para o investimento na educação”. O Observador contactou
a Clinique SA mas ainda não obteve qualquer resposta.
* Empreendem tão bem estes patrões portugueses.
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