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Agressividade de Salgado
para Costa sobe de tom
Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, entrou ao ataque e fez acusações ao governador do BdP. A situação do NB, com elevados prejuízos, decorre da decisão de Carlos Costa. Salgado chamou-o à pedra. Costa, em nota, limitou-se a elogiar a gestão de Stock da Cunha, no dia em que é anunciado um despedimento coletivo de 500 colaboradores.
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A frase mortal foi feita esta quinta-feira, aquando da apresentação de contas do Novo Banco
(NB). Eduardo Stock da Cunha, o CEO da instituição, afirmou que os
resultados negativos do banco foram “fortemente influenciados pela má
herança do BES”. E ainda que o NB foi a instituição com o maior nível de
provisões de imparidades, 1058 milhões de euros, dos quais 592 milhões
de euros herdados do ex-BES”. Este foi o ponto de ignição para uma
resposta do ex-CEO do BES.
Ricardo Salgado fez acusações diretas ao governador do BdP, Carlos
Costa, que desenhou o modelo de resolução da instituição financeira.
Costa, por seu lado, e no final da tarde de ontem, veio elogiar a
reestruturação e a capacidade da equipa de gestão e dos colaboradores do
NB, exatamente um par de horas depois de ser conhecida a intenção de um despedimento coletivo de 500 trabalhadores do grupo Novo Banco.
Esta operação está dentro do âmbito da reestruturação do NB e foi
acordada com o Direção Geral de Concorrência Europeia, a DGCom.
Recorde-se que o entendimento com a DGCom contempla mil trabalhadores,
mas fonte do banco citada por vários órgãos de comunicação, indicou que
será inferior, sendo que há outros colaboradores que sairão por mútuo
acordo e por reformas antecipadas.
As relações entre Ricardo Salgado e Carlos Costa já tinha “azedado”
há muito tempo, mas a divulgação das contas do NB e o envolvimento da
antiga administração, depois de ter saído da instituição há ano e meio,
levou o ex-gestor a emitir uma nota que considerou de “defesa”, mas que
envolveu um ataque direto ao governador. Na nota de duas páginas,
conclui ser tempo do governador do BdP “assumir a responsabilidade pelos
seus atos”.
O que levou a este extremar de posições foram as declarações de Stock
da Cunha que frisou as surpresas nos créditos do NB e que levaram a um
prejuízo de 980,6 milhões de euros. Referiu o gestor que o peso do
crédito mau significou cerca de 78% dos prejuízos de 2015, ou seja, 764
milhões de euros, sendo que esta é uma carteira de crédito que
continuará a ter impacto em 2016, e possivelmente em 2017. Referiu o CEO
do NB que o reforço de provisão para imóveis e para as 50 maiores
exposições a clientes e que já existiam à data da resolução do BES,
totalizou 592,3 milhões de euros.
Ricardo Salgado reagiu a estas conclusões e atribuiu a
responsabilidade ao Governador por ter optado pela medida de resolução e
diz taxativamente que “os clientes tinham mais confiança no BES do que
têm no NB. O BdP, por seu lado, elogia a equipa de gestão e
colaboradores pelo facto de terem conseguido garantir o retorno do banco
à normal atividade bancária e em preservar a confiança dos depositantes
e clientes da instituição”.
Salgado aproveita para sublinhar a mais recente decisão do
supervisor, afirmando que “o BdP é responsável pela transferência para o
BES de obrigações sénior em parte comercializadas já pelo Novo Banco,
assim pondo em causa a confiança no Novo Banco junto de investidores
institucionais de grande relevância a nível internacional”. Recorde-se
que, no final do ano passado, a supervisão tomou a decisão de retirar do
ativo do NB cinco linhas de obrigações no montante de dois mil milhões
de euros de dívida sénior e enviá-la para o BES “mau”. Este opção afetou
grandes investidores institucionais que tentaram em Londres criar um
evento de crédito para acionarem os seguros correspondentes, os CDS, e
se tal tivesse acontecido toda a dívida do NB teria de ser reembolsada. O
CEO do NB, Stock da Cunha, que deverá deixar a instituição no verão e
regressar aos Lloyds Bank, deixou entender que teria preferido que os
credores recebessem ações do NB e não a solução encontrada.
Recorde-se que, sobre Ricardo Salgado, recaem suspeitas de crime de
burla qualificada, abuso de confiança, fraude fiscal, corrupção e
branqueamento de capitais. Refere a nota do ex banqueiro que, em 30 de
junho de 2014 e antes da resolução, “o BES constituiu provisões, sem
contar com as associadas aos “eventos tóxicos ou extraordinários”,
superiores em quase 20% às provisões que o NB registou no final de
2014”, sendo que as referidas provisões foram aprovadas por uma
administração onde Salgado já não estava e que “foram impostas pelo BdP e
certificadas pela KPMG”.
* Em Portugal é normal um vigarista dizer mal dum incompetente, apesar de honrado.
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