O Natal não é "todos os dias"
nem "quando o homem quiser"
Não, o “Natal não é quando o homem quiser” nem tão pouco é “todos os dias”.
Compreendo a intenção benevolente com que cada vez mais pessoas
declamam estes slogans da modernidade: os sentimentos e as práticas a
que o Natal convida podem e – dirão mesmo – devem ser diários. O factual
malevolente, porém, é que nem no Natal se tornarão realidade. Quando
diluímos o Natal no quotidiano resvalamos para um tempo homogéneo,
apenas marcado por rotinas continuadas que nos absorvem na indistinção
dos dias.
Precisamos de tempos fortes, tempos de mudança, datas que nos
confrontem com o normal arrastamento da nossa vida passada, com a vulgar
indolência do nosso presente; precisamos de tempos que rompam com a
persistência no mesmo, que nos despertem para a capacidade que temos de
transformar o mundo, de transformar a vida dos que nos rodeiam, de nos
transformarmos a nós próprios e de amanhã sermos outros, sermos a pessoa
nova que podemos construir e que o Natal anuncia. O Natal é também a
exaltação deste nascimento.
As casas como as ruas enfeitam-se de cores, de luzes, de sons, de
odores que anunciam os sabores tradicionais, que vão mantendo a sua
raridade, disponíveis apenas na época natalícia. É o tempo do bolo-rei!
Os rituais, por que alguns se deixam tomar, não escondem necessariamente
o sentido da época mas antes são planeados para o intensificar. Os
sinais de festa preparam e acolhem o surgimento da pessoa nova que todos
podemos fazer nascer em nós, e suscitam a alegria de uma renovada
esperança na humanidade e no futuro…
E os presentes não são mais uma tarefa, mais uma despesa… Também não
podem ser um artifício para provocar uma satisfação superficial e
efémera. Os presentes são a nosso partilha com o outro na celebração da
renovação de si e do outro que cada um é convidado a fazer. Os presentes
são dotes para a vida nova.
Para os crentes, o Natal será sempre a celebração do nascimento do
redentor, de um horizonte infinito e eterno que nos é oferecido perante a
responsabilidade de o prepararmos nos pequenos grandes passos que damos
no dia a dia, com os outros, no mundo. Para todos, crentes e não
crentes, o Natal é uma exortação à renovação interior, ao renascimento
de cada um de nós para uma dádiva de si aos mais carenciados na
construção de uma sociedade mais solidária.
Este Natal não acontece quando alguém quer, porque vive da comunhão
entre todos; este Natal não se celebra todos os dias, mas a sua vivência
pode-nos acompanhar todo o ano.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
21/12/15
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