HOJE NO
"OBSERVADOR"
Nova versão do Acordo de Paris
ainda tem 366 parêntesis
O presidente da COP21 (21ª Conferência das Partes, que decorre em
Paris), o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, divulgou
esta quarta-feira à tarde uma nova versão preliminar do Acordo de
Paris. O documento será analisado pelas partes (195 países e a União
Europeia) durante a tarde e a discussão do documento continuará pela noite dentro – a partir das 19h (hora de Lisboa). Espera-se que até sexta-feira seja possível finalizar o texto.
“Apesar
de ainda existirem questões pendentes, estou cada vez mais confiante ao
constatar que existe um crescente impulso político e que os líderes
mostraram um forte compromisso ao indicarem aos negociadores que é o
momento certo para atuar”, referiu o secretário-geral das Nações Unidas,
Ban Ki-moon, durante a sua visita à Finlândia no âmbito das
comemorações do 60º aniversário da entrada deste país nas ONU.
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“Já temos um texto razoável para esta fase da conferência”, disse ao
Observador Pedro Barata, membro da delegação portuguesa em Paris. O
antigo negociador considera que a continuar assim, os prazos poderão ser
(mais ou menos) cumpridos. O que é raro nas Conferências do Clima. Já é
quase uma tradição só se chegar a acordo no dia a seguir ao fim oficial da conferência.
A versão preliminar apresentada no sábado, depois de uma semana de negociações
nos grupos de contacto, esteve em discussão ministerial no início desta
semana. Da proposta inicial com 48 páginas, reduziu-se para 29 e foram
eliminados cerca de três quartos dos parêntesis retos. Ainda assim ainda
existem 366 parêntesis (pontos do acordo em que ainda não há consenso)
para “limpar”. “O texto é muito complexo e tem muitos pontos em aberto,
mas é gerível”, disse Pedro Barata, diretor executivo da Get2C,
consultora para políticas de alterações climáticas.
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“À medida que o tempo passa e se pretende finalizar um acordo em
Paris, a vigorar a partir de 2020, é normal, para obter consensos,
baixar-se a ambição e haver uma abordagem mais minimalista de muitos
aspetos em jogo”, disse em comunicado Francisco Ferreira, em Paris como
membro da delegação portuguesa. “O texto atual, com muitos conteúdos
ainda em aberto, prazos a cumprir, formas de envolvimento dos países
(desenvolvidos e em desenvolvimento), tem ainda um extenso caminho a
percorrer e a ser esclarecido.” Obrigatoriedade, ambições, compensações e
financiamento ainda são temas em aberto, disse o professor da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Ban Ki-moon reiterou o apelo aos países desenvolvidos para que
assumam a responsabilidade histórica no aquecimento do planeta e
proporcionem os recursos financeiros e científicos necessários para
enfrentar o problema das alterações climáticas, conforme citado pela
agência Lusa. Mas o secretário-geral da ONU pediu também aos países em
desenvolvimento que “façam mais”, dentro das suas possibilidades, para
travar este problema.
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Dissecar o texto do acordo em oito pontos-chave:
1 - Já tinha sido assumido que a temperatura média global não poderia
aumentar mais do que 2º C até 2100, em relação ao período
pré-industrial. Agora está em discussão manter essa meta ou ser mais ambicioso e impor 1,5º C como o limite.
Neste momento já aumentámos quase 1º C em relação ao período
pré-industrial e já existem locais a sofrer as consequências. [Artigo
2º]
2 - Na teoria, parecem não existir dúvidas que a responsabilidade de
tomar medidas contra as alterações climáticas é de todos, mas de que
forma e com que “intensidade” ainda está sujeito a muitos parêntesis.
“Intenções” ou “compromissos”, “dever” ou “ter de”. [Artigo 2º]
3 - Quão ambiciosas serão as partes no que diz respeito à redução das
emissões e qual detalhado será o acordo neste aspeto, ainda está em
aberto. Mais uma vez, “dever” ou “ter de” e de que forma isso se reflete
(caso se reflita) na legislação nacional. [Artigo 3º]
4 - Transparência a par com a ambição. Se por um lado
se devem criar mecanismos para reportar os dados das emissões que sejam
comparáveis entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, também é
importante que, com base nestes dados, seja possível reavaliar as
medidas propostas por cada país e ir criando metas cada vez mais
ambiciosas.
5 - “Adaptação [Artigo 4º] e perdas e danos [Artigo 5º], pode tudo ser unido num mesmo artigo. O mais significativo é que a
questão da compensação e da responsabilidade por perdas e danos
associados às alterações climáticas não aparecem sequer mencionadas“, como chamou a atenção Francisco Ferreira.
6 - E falando em parêntesis, eis um exemplo retirado da versão agora apresentada, sobre o tema “financiamento”. “Developed
country Parties shall provide [new,] [additional,] [adequate,]
[predictable,] [accessible,] [sustained] and [scaled-up] financial
resources to assist developing country Parties with respect to both
mitigation and adaptation.” (Os países desenvolvidos devem fornecer
recursos financeiros [novos] [adicionais] [adequados] [previsíveis]
[acessíveis] [sustentáveis] e [que aumentem ao longo do tempo], para
ajudar os países em desenvolvimento no que diz respeito a mitigação e
adaptação.) [Artigo 6º]
7 - O que deve ser avaliado, como e quando? Haverá um esforço da redução das emissões em 2018? A partir de 2020, serão feitas atualizações das contribuições a cada cinco anos? Ainda está por decidir.
8 - “Na ambição pré-2020 há três opções em jogo: um
processo de 2016 a 2020; dedicar a Conferência do Clima 2017 a
identificar formas de aumentar a ambição; promover diálogos
facilitadores sobre o tema de dois em dois anos, começando em 2016″,
referiu Francisco Ferreira.
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* O dinheiro manda muito
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