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Senso d'hoje
PEDRO MARTINS BARATA
ECONOMISTA E AMBIENTALISTA
SOBRE AMBIENTE E COP 21
O que torna a COP 21 diferente das outras?
Foi mais bem preparada pela presidência francesa. Aprendeu-se com os
erros. Na COP1, em Berlim há 20 anos, a comunidade internacional decidiu
que era preciso reduzir as emissões de gases de efeito de estufa (GEE) e
deu dois anos para se concluir um acordo. Este surgiu em 1997, com o
Protocolo de Quioto, mas só entrou em vigor em 2005 e terminou em 2009.
Copenhaga (COP 15) servia para lhe dar continuidade, mas foi um
estrondoso fiasco. Em Cancún e em Doha prolongaram-se as metas de Quioto
até 2020. Com os erros de Copenhaga, aprendeu-se a gerir expectativas.
Os peritos já não têm a postura de "vamos solucionar o mundo". Sabemos
que é preciso encontrar formas de ir ajustando metas de modo a que o
regime nunca acabe e se possam fazer ajustes de acordo com a urgência do
tema.
Estas cimeiras não são democráticas?
De todo. Em Copenhaga, um conjunto de países sem qualquer legitimidade
dada pela ONU reuniu-se sem que os outros fossem chamados. É certo que a
negociação nunca se faz com armas iguais. Enquanto os países da UE têm
uma centena de peritos a negociar, a República Centro Africana tem
apenas dois. Em Copenhaga estas diferenças ainda foram mais graves. O
processo negocial foi posto de lado e as próprias Nações Unidas foram
mal tratadas. Como o acordo não teve legalidade junto da ONU, foi
preciso resgatá-lo com muita diplomacia e recuperá-lo na COP seguinte.
O que pode travar o acordo?
A forma como cada país
se quer ou não vincular legalmente. A UE tem uma tradição
multilateralista e acredita em tratados internacionais que nos
comprometem com metas e ações e nos sujeitam a sanções se não
cumprirmos. Nos EUA, a cultura é a oposta. Vinculá-los a um tratado
internacional obriga a uma maioria extraordinária no Congresso e Senado e
não aceitam sanções internacionais. Resta saber se os outros países
estão abertos a exceções. Provavelmente temos de encontrar um acordo que
vincule todos sem impor sanções. Mas para isso é preciso confiança na
forma como cada país reporta as suas emissões à ONU. A UE é exemplar
nessa transparência, mas se a China tiver um erro de 3 ou 4% isso pesará
enormemente no computo global.
* Excertos de entrevista ao semanário "EXPRESSO" em 05/12/15
** É nossa intenção, quando editamos pequenos excertos de entrevistas, suscitar a
curiosidade de quem os leu de modo a procurar o site do orgão de
comunicação social, onde poderá ler ou ver a entrevista por inteiro.
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