11/12/2015

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HOJE NO
"OBSERVADOR"
A escola pública do futuro 
é já ali no Alentejo

Um director revolucionário que quer um tablet por aluno, uma escola onde é importante sair cedo e ter tardes livres e onde há dois professores de matemática por turma. Sim, é uma escola pública.

O acesso à escola foi simples, sem barreiras. Foi nos dado o telemóvel do diretor, e em dois dias estávamos no hall de entrada da Escola Secundária Manuel da Fonseca, em Santiago do Cacém. O edifício não é novo. É mesmo antigo. Muito diferente da escola básica do agrupamento, com primeiro e segundo ciclos, a Frei André da Veiga – moderna, cúbica, com janelas cinzentas, cheia de luz. A secundária, unida pelo recreio à básica, tem mais de 20 anos e é o quartel-general do agrupamento.


Manuel Mourão estava à porta do gabinete para nos receber e nem chegámos a sentar-nos. Quis logo mostrar a escola, carinhosamente dele desde 1991 – embora com interrupções quando saiu para integrar projetos na área da educação e para dirigir as escolas do agrupamento de Grândola em 2009. Regressou em 2013 e foi nomeado presidente da CAP (Comissão Administrativa Provisória), mas foi na década de 90 que começou a lançar novos projetos para o agrupamento.

“Parti muros, deitei abaixo balcões e paredes, abri janelas, trouxe mais luz à escola secundária, mexi no que pude e continuo a mexer. Ainda agora mandei abaixo mais um balcão, na biblioteca da André da Veiga. Estamos todos ao mesmo nível. Muda também mentalidades.”

Apresentou um projeto ao Ministério da Educação e conquistou um contrato de autonomia para o agrupamento. Em junho de 2015 foi eleito diretor.

Construir uma revolução
Nascido numa pequena aldeia do concelho de Vila Real, com uma mãe virada para as letras e um pai mais dado às contas, aos 18 anos Manuel Mourão entrou na Universidade de Letras do Porto. Tornou-se professor de História. E encontrou o peso certo, numa receita equilibrada: servir alunos, pais, professores, funcionários e construir uma escola pública, diferente.

“Está a ver aqui? Tenho o esquema feito no meu caderno. Todos os meus alunos entram às 08h25. Ninguém sai depois das 17h00 e os que saem às 17h é porque têm mais horas do que os outros devido ao ensino articulado de música. Quero que tenham pelo menos duas tardes livres. Se possível às sextas-feiras. Precisam de brincar, de se distrair, de praticar desporto. Quem é que aprende matemática à tarde? Ou português?“, questiona.
A biblioteca e mediateca da escola deixou de ter paredes 
e passou a ter vidros, os balcões foram abaixo 
Em poucos segundos ficou assim definida a sua postura relativamente a um sem número de escolas, muitas em Lisboa, onde há crianças a entrar depois da uma da tarde para estarem a ouvir debitar matéria, em blocos de 90 minutos, sentadas na cadeira, depois de almoço. Crianças que terão saído de casa para a escola ou para os ATL às 08h30, porque os pais trabalham, mas que só têm as disciplinas ditas nucleares na parte da tarde.

Explicações grátis e dois professores por sala
Manuel Mourão começou por criar um centro de explicações interno na escola. Quem quisesse podia ter aulas-extra de matemática e português, dadas pelos professores. Sem pagar. Há pouco tempo acrescentou o inglês. Começou pelo sétimo ano; mais recentemente introduziu as salas de estudo, que começam na primária: “São para os alunos com dificuldades, mas não só. Os que estiverem interessados em aprender mais podem pedir para integrar.”

Lançou também o que chama de coadjuvação — um sistema previsto pela tutela — desde o primeiro ciclo até à secundária. Esta iniciativa traduz-se na presença de dois professores na sala de aula e aplica-se a matemática, físico-química, português e em disciplinas mais práticas. “Dois professores estão mais atentos, ajudam mais, estão mais presentes”, explica.

*  Para fazer uma escola desta são precisas pessoas boas, inteligentes e dedicadas.

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