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"PÚBLICO"
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Concorrência multa Associação Nacional de Farmácias em dez milhões de euros
A Autoridade da Concorrência (AdC) condenou a Associação Nacional de
Farmácias (ANF) ao pagamento de uma coima global de 10,34 milhões de
euros por abuso de posição dominante no sector dos estudos de mercado
sobre dados comerciais das farmácias.
Além da ANF foram condenadas
outras sociedades do grupo: a Farminveste SGPS, a Farminveste –
Investimentos, Participações e Gestão e a consultora HMR – Health Market
Research.
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Segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, a entidade
reguladora presidida por António Ferreira Gomes concluiu que estas
sociedades actuaram de maneira a impedir que outras empresas pudessem
concorrer na produção de estudos de mercado para a indústria
farmacêutica, no qual a associação actua através da HMR. A ANF confirmou
a condenação ao PÚBLICO, assegurando que vai recorrer de uma decisão
que diz carecer de “suporte jurídico”. Assim, o processo deverá dar
entrada no Tribunal da Concorrência, em Santarém.
Para realizar os
estudos destinados a clientes como os laboratórios farmacêuticos, as
consultoras recorrem à Farminveste (da ANF), que é a única fornecedora
em Portugal de dados comerciais (de fora ficam os dados dos clientes) de
uma amostra representativa de farmácias. Trata-se de um sector que
vale, anualmente, mais de 20 milhões de euros por ano, segundo referiu
uma fonte conhecedora do processo.
Pelo que o PÚBLICO apurou, a
decisão condenatória da AdC (que nasceu de uma investigação desencadeada
pelas denúncias de duas entidades) baseia-se no abuso de posição
dominante da Farminveste a partir de 2009, quando criou a sua própria
produtora de estudos (a HMR). A empresa agravou de tal modo os preços de
venda dos dados comerciais das farmácias (fazendo com que mais que
duplicassem entre 2010 e 2013, para valores próximos de 250 euros por
mês, por farmácia) que impediu os concorrentes de obter a margem
necessária para cobrir os custos de produção dos seus estudos, quando
comparados com os preços de venda dos estudos da HMR.
Quando a
maior concorrente da HMR, a IMS Health, quis garantir a compra da
informação comercial directamente com as farmácias, a Farminveste, que é
dona da rede informática das associadas da ANF, impediu o seu acesso
aos dados. O PÚBLICO sabe que a IMS Health e a HMR representam quase 90%
da oferta no sector dos estudos de mercado com base nos dados
comerciais das farmácias (o que vendem, quanto vendem, a existência de
stocks, etc.), que são depois utilizados pelos laboratórios para definir
estratégias relacionadas com marketing, logística e apoio ao cliente.
Quanto menos empresas de estudos existirem no sector, mais limitados na
escolha estarão os laboratórios farmacêuticos na hora de encomendarem as
suas análises de mercado.
“A decisão da Autoridade da
Concorrência, de 22 de Dezembro, tomada na sequência de uma denúncia da
IMS contra a Farminveste/HMR, não tem, em nossa opinião, suporte
jurídico e vai ser contestada perante as autoridades judiciais
competentes”, disse ao PÚBLICO fonte oficial da ANF, associação liderada
por Paulo Cleto Duarte.
A mesma fonte lembrou que na semana
passada o regulador da concorrência espanhol, a Comisión Nacional de los
Mercados y la Competencia (CNMC), “abriu um procedimento de infracção
contra a multinacional americana IMS Health, S.A. (IMS), por indícios
sólidos de que a IMS terá abusado da sua posição dominante no mercado de
informação de vendas de medicamentos à indústria farmacêutica”.
A
ANF frisou que esta prática, “a confirmar-se, constitui uma violação
grave do direito comunitário e do direito espanhol da concorrência”.
Segundo a informação disponibilizada no site da CNMC, o processo de
infracção, que nasceu de uma denúncia, tem agora o prazo de 18 meses
para ficar concluído.
Não é a primeira vez que a AdC condena a
ANF. Em Agosto de 2014 a entidade reguladora aplicou uma coima de quase
119 mil euros ao grupo por falta de notificação da aquisição da
ParaRede/Glintt. Nesse caso tratou-se de uma “proposta de transacção”,
um mecanismo introduzido na Lei da Concorrência que permitiu às
sociedades da ANF confessarem e assumirem responsabilidade pelas
infracções, conseguindo, com isso, a redução do valor da coima. Nestas
situações, os processos não são passíveis de recurso para o Tribunal da
Concorrência, ao contrário do que sucede com a condenação actual.
Esta
trata-se da sexta condenação da AdC por abuso de posição dominante (um
rol em que se incluem a PT – com três condenações – a Zon, a Roche e a
Sport TV) e a quinta maior coima aplicada pelo regulador (retirando esta
posição à multa de 9,29 milhões aplicada à Galp em Fevereiro por
práticas concorrenciais no mercado do gás de botija).
A maior
coima de sempre coube à PT em 2009, quando a empresa foi condenada a
pagar mais de 45 milhões de euros por abuso de posição dominante no
mercado de banda larga. Em simultâneo, a Zon (actual Nos) que ainda
pertencia ao grupo PT à data dos factos (2002/2003) foi condenada a
pagar oito milhões (as empresas recorreram da decisão).
* A Associação Nacional de
Farmácias (ANF) é dos lobies mais poderosos deste país.
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