O último Benfica-Sporting
e o novo campeão nacional
Acompanhei um amigo, benfiquista “doente”, ao
Estádio do Sport Lisboa e Benfica, para assistir ao último
Benfica-Sporting. Ainda seguíamos, a caminho do estádio, já ele
insistia: - “Mas você é mesmo só do Belenenses? Não tem segundo clube?
Normalmente, quem é adepto de um clube pequeno, simpatiza também com um
dos três grandes”.
Exclamei solenemente: - Pois eu só tenho e só terei um clube na vida, o Clube de Futebol “Os Belenenses”. Os demais respeito, admiro o que neles é admirável, mas sofrer sofro só por um, o Clube de Camisola Azul e Cruz ao Peito. O Clube onde vi jogar o Feliciano, o Mariano Amaro, o Matateu, o Vicente. O Clube onde vivi boa parte da minha infância e da minha juventude...
Atalhou o meu amigo, com um ar grave, circunspecto, reflexivo: - “Mas o Manuel Sérgio, assim, tem poucas alegrias, no futebol”. - Tenho as suficientes; para não me interessar ser adepto de qualquer outro Clube .O meu amigo já entendeu, com toda a certeza, que o Belenenses é, para mim, mais do que uma instituição, um sentimento, uma saudade do que fui e não voltarei a ser! E continuei: Há duas semanas, telefonou-me o Carlos do Carmo, um dos nomes maiores da cultura portuguesa, como intérprete da canção e do fado. Tembém ele vibrou de comoção, ao dizer-me: eu tanbém nasci Belenenses e espero morrer Belenenses! E rematei: Como vê, não estou só. Até estou bem acompanhado.
Quando chegámos ao estádio e subíamos ao camarote, ainda me dirigiu a palavra, em voz baixa, sacudida, sem tirar as mãos das algibeiras: “Esqueço-me, com frequência, que o desporto, para si, é mais filosofia do que prática”. Dei-lhe a razão toda: - Por isso, preciso tanto de aprender com os treinadores e os praticantes. Já lhe disse que, no meu entender, a prática é mais importante do que a teoria e a teoria só tem valor, se for a teoria de uma determinada prática. Há diferença entre um desporto que se conhece pelo estudo e pela investigação e um desporto que se vive. Verdadeiranente, só se sabe aquilo que se vive.
- “Mas parece-lhe então que há falta de ética, em quem nunca estudou ou viveu o futebol e, mesmo assim o comenta, na Comunicação Social?”. - Não, desde que faça com os “práticos” um trabalho interdisciplinar, ou seja, desde que não dispense o que os treinadores e os jogadores nos podem transmitir das suas experiência, na competição e no treino. É a partir da prática que pode teorizar-se o desporto...
Entravam as equipas e os árbitros, para o início do jogo. As faces afogueadas, como pêssegos maduros, os espectadores aplaudiam, as suas equipas. Chovia uma chuva miudinha, de uma tristeza calma. No entanto, aos 9 minutos de jogo, já o Sporting ganhava por um golo sem resposta. E o Benfica, como os raios do sol poente, que num instante fulgem e num instante morrem, ficou nas mãos do seu adversário, sem força psicológica nem capacidade competitiva para o superar. É verdade: o último Benfica-Sporting terminou aos 9 minutos de jogo!
O tema fundamental da educação grega foi o de areté, que Werner Jaeger assim define “a palavra virtude, na sua ecepção não atenuada pelo uso puramente moral e como expressão do mais alto ideal cavaleiresco, unida a uma conduta cortês e distinta e ao heroísmo guerreiro, talvez pudesse exprimir o sentido desta palavra grega” (Paideia, Editorial Aster, Lisboa, s/d., p. 23). Nietzsche, num dos seus textos de maior relevo, Homer`s Wettkampf (A Competição em Homero) assinala que, na Grécia, o talento, ou a vocação, aprimoravam-se na competição e na luta. Nietzsche, genial, afirmava portanto, já em finais do século XIX, que o talento nasce e se desenvolve na competição. e na luta. Quem conhece Jorge Jesus e os seus métodos de treino sabe da sua perspicácia na seleção do seu plantel e dos treinos eminentemente competitivos onde procura desenvolver as qualidades inatas dos jogadores que lidera. Ou seja, dorme no Jorge Jesus um Nietzsche desconhecido. Uma existência que nem de longe o atual treinador do Sporting suspeita.
Admito que haja pessoas que, neste caso, não deixam de achar ridículas as minhas ideias. Só que eu tenho uma grande vantagem sobre os que de mim discordam (neste caso, repito): trabalhei um ano, no Benfica, com o Jorge Jesus e beneficiei de muitas horas de diálogo, com ele, sobre esta problemática. Jorge Jesus nasceu um grande treinador de futebol. E sente-se, “como peixe na água” (é ele a dizê-lo) na competição desportiva. Falar, com ele, de futebol, significa a volta de Jorge Jesus ao que, nele, é mais original...
Já no carro, de regresso a casa, disse convicto ao meu amigo: - Já temos campeão nacional de futebol, para a época de 2015/2016... - Porquê? - Pelo que o Jorge Jesus é, pelos jogadores que tem e porque, com as vitórias, o Dr. Bruno de Carvalho torna-se, para os adeptos do Sporting, emocionalmente convincente. Nasce assim um todo vitorioso, que duvido encontraremos outro, nos dias que correm, no futebol português. Mas posso enganar-me, reconheço. A asneira é imortal: teve princípio, mas não terá fim. Era noite. Principalmente na alma dos benfiquistas!
Exclamei solenemente: - Pois eu só tenho e só terei um clube na vida, o Clube de Futebol “Os Belenenses”. Os demais respeito, admiro o que neles é admirável, mas sofrer sofro só por um, o Clube de Camisola Azul e Cruz ao Peito. O Clube onde vi jogar o Feliciano, o Mariano Amaro, o Matateu, o Vicente. O Clube onde vivi boa parte da minha infância e da minha juventude...
Atalhou o meu amigo, com um ar grave, circunspecto, reflexivo: - “Mas o Manuel Sérgio, assim, tem poucas alegrias, no futebol”. - Tenho as suficientes; para não me interessar ser adepto de qualquer outro Clube .O meu amigo já entendeu, com toda a certeza, que o Belenenses é, para mim, mais do que uma instituição, um sentimento, uma saudade do que fui e não voltarei a ser! E continuei: Há duas semanas, telefonou-me o Carlos do Carmo, um dos nomes maiores da cultura portuguesa, como intérprete da canção e do fado. Tembém ele vibrou de comoção, ao dizer-me: eu tanbém nasci Belenenses e espero morrer Belenenses! E rematei: Como vê, não estou só. Até estou bem acompanhado.
Quando chegámos ao estádio e subíamos ao camarote, ainda me dirigiu a palavra, em voz baixa, sacudida, sem tirar as mãos das algibeiras: “Esqueço-me, com frequência, que o desporto, para si, é mais filosofia do que prática”. Dei-lhe a razão toda: - Por isso, preciso tanto de aprender com os treinadores e os praticantes. Já lhe disse que, no meu entender, a prática é mais importante do que a teoria e a teoria só tem valor, se for a teoria de uma determinada prática. Há diferença entre um desporto que se conhece pelo estudo e pela investigação e um desporto que se vive. Verdadeiranente, só se sabe aquilo que se vive.
- “Mas parece-lhe então que há falta de ética, em quem nunca estudou ou viveu o futebol e, mesmo assim o comenta, na Comunicação Social?”. - Não, desde que faça com os “práticos” um trabalho interdisciplinar, ou seja, desde que não dispense o que os treinadores e os jogadores nos podem transmitir das suas experiência, na competição e no treino. É a partir da prática que pode teorizar-se o desporto...
Entravam as equipas e os árbitros, para o início do jogo. As faces afogueadas, como pêssegos maduros, os espectadores aplaudiam, as suas equipas. Chovia uma chuva miudinha, de uma tristeza calma. No entanto, aos 9 minutos de jogo, já o Sporting ganhava por um golo sem resposta. E o Benfica, como os raios do sol poente, que num instante fulgem e num instante morrem, ficou nas mãos do seu adversário, sem força psicológica nem capacidade competitiva para o superar. É verdade: o último Benfica-Sporting terminou aos 9 minutos de jogo!
O tema fundamental da educação grega foi o de areté, que Werner Jaeger assim define “a palavra virtude, na sua ecepção não atenuada pelo uso puramente moral e como expressão do mais alto ideal cavaleiresco, unida a uma conduta cortês e distinta e ao heroísmo guerreiro, talvez pudesse exprimir o sentido desta palavra grega” (Paideia, Editorial Aster, Lisboa, s/d., p. 23). Nietzsche, num dos seus textos de maior relevo, Homer`s Wettkampf (A Competição em Homero) assinala que, na Grécia, o talento, ou a vocação, aprimoravam-se na competição e na luta. Nietzsche, genial, afirmava portanto, já em finais do século XIX, que o talento nasce e se desenvolve na competição. e na luta. Quem conhece Jorge Jesus e os seus métodos de treino sabe da sua perspicácia na seleção do seu plantel e dos treinos eminentemente competitivos onde procura desenvolver as qualidades inatas dos jogadores que lidera. Ou seja, dorme no Jorge Jesus um Nietzsche desconhecido. Uma existência que nem de longe o atual treinador do Sporting suspeita.
Admito que haja pessoas que, neste caso, não deixam de achar ridículas as minhas ideias. Só que eu tenho uma grande vantagem sobre os que de mim discordam (neste caso, repito): trabalhei um ano, no Benfica, com o Jorge Jesus e beneficiei de muitas horas de diálogo, com ele, sobre esta problemática. Jorge Jesus nasceu um grande treinador de futebol. E sente-se, “como peixe na água” (é ele a dizê-lo) na competição desportiva. Falar, com ele, de futebol, significa a volta de Jorge Jesus ao que, nele, é mais original...
Já no carro, de regresso a casa, disse convicto ao meu amigo: - Já temos campeão nacional de futebol, para a época de 2015/2016... - Porquê? - Pelo que o Jorge Jesus é, pelos jogadores que tem e porque, com as vitórias, o Dr. Bruno de Carvalho torna-se, para os adeptos do Sporting, emocionalmente convincente. Nasce assim um todo vitorioso, que duvido encontraremos outro, nos dias que correm, no futebol português. Mas posso enganar-me, reconheço. A asneira é imortal: teve princípio, mas não terá fim. Era noite. Principalmente na alma dos benfiquistas!
Professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana e Provedor para a Ética no Desporto
IN "A BOLA"
26/10/15
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