É a competitividade, estúpido!
Quando nos anos 90 o Professor de Harvard Michael Porter
elaborou o célebre relatório, encomendado pelo Governo português de
então, o diagnóstico sobre o que fazer e as áreas estratégicas de
actuação foi muito claro – ou se reinventava por completo o modelo
económico ou então a economia portuguesa tenderia a morrer com o tempo.
Quase vinte anos depois, o balanço é conhecido – défice estrutural
elevado, desemprego incontrolado, um tecido empresarial envelhecido. Como
há 20 anos torna-se claro que a competitividade portuguesa é o grande
desafio nos próximos tempos! Por isso, a palavra de ordem é simples – é a
competitividade, estúpido!
Falta em Portugal um sentido de entendimento colectivo de que a
aposta nos fatores dinâmicos de competitividade, numa lógica
territorialmente equilibrada e com opções estratégicas claramente
assumidas é o único caminho possível para o futuro. Falta por isso em
Portugal uma verdadeira rede integrada para a competitividade capaz de
produzir efeitos sistémicos ao nível do funcionamento das organizações
empresariais. O “novo paradigma” da economia portuguesa radica nesse
sentido na capacidade de os resultados potenciados pela inovação e
conhecimento serem capazes de induzir novas formas de integração social e
territorial capazes de sustentar um equilíbrio global do sistema
nacional.
Uma breve radiografia à matriz setorial da economia portuguesa
demonstra de forma inequívoca as alterações contextuais produzidas ao
longo destes últimos vinte anos, com impactos directos na própria
organazação da sociedade. Para além do desenvolvimento duma “nova
economia de serviços”, de âmbito eminentemente local e com impacto
reduzido em matéria de criação de valor sustentado, é de referir também o
fenómeno de progressiva desindustrialização, entretanto acentuado nos
anos mais recentes e o ténue desenvolvimento de “novos clusters”
associados às dinâmicas da inovação e desenvolvimento. Trata-se duma
evolução manifestamente assimétrica, com efeitos negativos em matéria de
renovação dos indicadores ativos de “capital estratégico”.
O relatório Porter punha de forma clara a tónica em duas grandes
áreas de intervenção sistémica – profunda renovação organizativa e
estrutural dos sectores (sobretudo) industriais e aposta integrada na
utilização da Inovação como factor de alavancagem de criação de valor de
mercado. A mobilização activa dos “actores económicos” numa lógica de
pacto estratégico operativo permanente era uma condição central no
sucesso desta nova abordagem, sob pena de intervenções isoladas não
conseguirem produzir de facto os efeitos desejados. Passado todo este
tempo, a leitura dos resultados não é nada abonatória – excluindo os
muito conhecidos e divulgados casos de reconversão interna e sectorial
conseguida com algum sucesso, na maior parte dos sectores industriais
clássicos não foi feita a renovação necessária e os fechos de empresas e
perda de quota efectiva de alguns mercados é o resultado mais do que
evidente.
Uma nova economia, capaz de garantir uma economia nova sustentável,
terá que se basear numa lógica de focalização em prioridades claras.
Assegurar que o “IDE de Inovação” é vital na atração de competências que
induzam uma renovação activa estrutural do tecido económico nacional;
mobilizar de forma efetiva os “centros de competência” para esta
abordagem ativa no mercado global – mas fazê-lo tendo em atenção
critérios de racionalidade estratégica definidos à partida, segundo
opções globais de política pública, que tenham em devida atenção a
necessidade de manter níveis coerentes de coesão social e territorial.
Se Michael Porter voltasse a Portugal, não poderia dizer outra coisa. A
competitividade tem por isso de sair do papel e ir para o país real.
Presidente da ESPAP – Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública
IN "OJE"
02/10/15
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